Apuração mostra Evo Morales reeleito no primeiro turno
Antes do resultado final, presidente disse que venceu 4ª eleição consecutiva, mas que 2º turno 'seria lindo'
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Depois de quase cinco dias de uma contagem de votos com várias idas e vindas, os resultados oficiais mostram a vitória do presidente boliviano Evo Morales na noite desta quinta-feira (24).
Às 21h52, com 99,99% das urnas apuradas, Evo tinha 47,07%, contra 36,51% de Carlos Mesa. A diferença de 10,56 pontos percentuais dava vitória a Evo no primeiro turno —ele precisava de pelo menos dez pontos sobre o segundo colocado para conseguir seu quarto mandato.
Mesmo faltando computar os votos restantes, não é mais possível uma mudança no cenário.
Os dados foram divulgados enquanto manifestantes se reuniam em frente ao Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), segundo o jornal local El Deber. Há expectativa de novos enfrentamentos com a polícia.
Ainda nesta noite, Mesa pediu que seus apoiadores continuassem a protestar e afirmou que espera os resultados oficiais —apesar de os dados já terem sido divulgados no site do órgão eleitoral.
Em entrevista coletiva mais cedo nesta quinta, o presidente boliviano Evo Morales disse estar confiante de que já havia sido reeleito, mas que estava aberto a disputar uma segunda rodada.
"Boas notícias... Nós já vencemos no primeiro turno", disse Evo, citando o cálculo oficial.
O tribunal eleitoral, porém, ainda não fez nenhum anúncio oficial sobre a contagem e Evo disse que aguardará a confirmação. "Vamos defender a democracia e os resultados", afirmou ele. "Se o resultado final diz que vamos ao segundo turno, iremos. Que lindo seria ir ao segundo turno. Todos da direita vão se unir."
O presidente também criticou Mesa, chamando-o de delinquente e covarde, além de acusá-lo de incitar incêndios.
A indefinição e o vaivém da contagem dos votos da eleição presidencial boliviana culminou com a convocação de uma greve geral por prazo indefinido e uma grande marcha nas principais ruas de La Paz na noite de terça-feira (22).
As manifestações provocaram incêndios e vandalismo em centros de votação de cidades importantes, como Potosí.
O site oficial no qual o processamento dos votos está sendo divulgado saiu do ar várias vezes durante a noite. A apuração passou por várias mudanças, com os números ora mostrando a vitória imediata de Evo, ora indicando segundo turno entre ele e Mesa.
A contagem levou o próprio governo a pedir uma auditoria externa do pleito na terça.
Convocada a auditar os resultados, a missão de observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) declarou na quarta-feira (23) que considera como "melhor opção" a realização de um segundo turno, segundo o diretor do Departamento para a Cooperação e Observação Eleitoral da OEA, Gerardo Icaza, ao apresentar em Washington o relatório preliminar da missão na Bolívia.
O governo boliviano se defendeu nesta quinta na própria OEA e criticou o relatório.
O chanceler Diego Pary disse que o texto da missão eleitoral se baseia em dados de um sistema projetado para emitir resultados preliminares. "Não tem caráter vinculante e tem o único propósito de oferecer informação prévia ao cômputo definitivo", afirmou.
Para o ministro da Justiça da Bolívia, Héctor Arce, "afirmar que houve uma fraude monumental [na eleição] é faltar com a verdade".
Evo convidou a oposição a se juntar à OEA e participar da auditoria dos votos e disse que os opositores deveriam apresentar provas de que houve fraude, em vez de realizar manifestações.
Em comunicado conjunto, os governos de Brasil, Estados Unidos, Argentina e Colômbia manifestaram preocupação e defenderam a necessidade de um segundo turno caso a missão da OEA não consiga verificar os resultados com transparência.
Já a União Europeia defendeu em comunicado a realização de um segundo turno no país. "A melhor opção seria a realização de uma segunda rodada para reestabelecer a confiança e assegurar o pleno respeito a eleição democrática", diz o texto.
No Twitter, o Itamaraty escreveu que o relatório da OEA (Organização dos Estados Americanos) "indica a necessidade de um segundo turno para assegurar o pleno respeito à escolha popular e democrática".
Na quarta, Mesa, que já governou o país entre 2003 e 2005, disse que não reconheceria os resultados do Supremo Tribunal Eleitoral, que ele acusa de ter manipulado os votos para favorecer o candidato oficial.
O opositor anunciou a formação de uma Coordenação de Defesa da Democracia, com o objetivo de pressionar para que haja um segundo turno.
O objetivo da aliança com os partidos da direita e líderes centristas é "conseguir que se cumpra a vontade popular de definir a eleição presidencial no segundo turno", destacou em uma nota publicada no Twitter.
Contra a Constituição
Evo Morales obteve permissão para concorrer às eleições deste ano apesar de isso violar a Constituição boliviana, que estabelece que só é possível uma reeleição.
Evo já havia recorrido em 2014, quando disputou o terceiro mandato, alegando que sua primeira eleição não valia, afinal tinha ocorrido antes da nova Constituição, que foi promulgada em 2009.
Já para a atual, Evo havia convocado um referendo, em 2016, para tentar mudar a Carta. Acabou ganhando o “não”, e ele passou a buscar novos recursos para burlar o artigo da Constituição.
Apelou para a Declaração Universal de Direitos Humanos, que afirma que todo cidadão deve ter o direito de concorrer a cargos públicos. Desta forma, alegou que, se não pudesse concorrer ao quarto mandato, estaria tendo seu direito humano violado. O tribunal constitucional boliviano acatou.
Ainda assim, criou-se a polêmica, a oposição foi contra, e desde então há protestos de rua frequentes contra sua candidatura.
ENTENDA O VAIVÉM DAS ELEIÇÕES
Domingo
89% das urnas foram apuradas pela contagem de votos um a um e pelo registro das atas. A apuração feita pelas atas foi interrompida às 22h40, mas o de cédulas individuais continuou. O resultado indicava 2º turno.
Segunda
Pela manhã, a contagem por votos um a um mostrava um resultado diferente da apuração por atas, o que daria a vitória a Evo. À noite, com 95% das urnas apuradas pelo método um a um, Evo foi anunciado vencedor no 1º turno, com 46,86% dos votos contra 36,73% de Carlos Mesa.
Terça
A contagem por atas, paralisada na noite de domingo, foi retomada. Com 95% das urnas apuradas, mostrava Evo vencedor por estreita margem.
Quarta
Voltou a ser considerada a contagem manual. Com 97,40% das urnas apuradas, Evo tinha 46,67% dos votos, contra 36,86% de Mesa —uma diferença de 9,81 pontos percentuais. Esse resultado indica 2º turno
Quinta
Às 21h52, com 99,99% das urnas apuradas, Evo tinha 47,07% dos votos, contra 36,51% de Mesa. Esse resultado deu a vitória a Evo em primeiro turno
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