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Descrição de chapéu The New York Times

Caçadores de tesouros vasculham o Tâmisa atrás de 2.000 anos de história

Duas vezes ao dia, a maré baixa faz as bordas do rio recuarem, revelando séculos de uma Londres esquecida

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Londres | The New York Times

Em uma manhã congelante, Lara Maiklem abriu um portão atrás de um bar no sudeste de Londres e desceu uma série de degraus de pedra na margem do rio Tâmisa.

O rio corta a cidade de oeste a leste, dividindo-a em dois enquanto serpenteia entre novos arranha-céus e antigos armazéns portuários.

Duas vezes ao dia, a maré baixa faz as bordas do Tâmisa recuarem, e o nível do rio desce até 6 metros em algumas partes, revelando séculos de uma Londres esquecida. Fragmentos de vida antiga brotam da terra exposta. 

É aí que surgem os chamados “mudlarks” —ou cotovias da lama, em português— como Maiklem, que em poucos minutos ela já havia avistado fragmentos de um jarro do século 17, com o rosto de um homem barbado visível na cerâmica.

A londrina Lara Maiklem na margem do Tâmisa - Andrew Testa/The New York Times

O nome “cotovia da lama” foi dado primeiramente aos pobres da era vitoriana que procuravam no rio coisas que pudessem vender, como restos de cobre e cordas. Mais recentemente, porém, o rótulo foi aplicado a colecionadores, amantes da história e caçadores de tesouros que vasculham vestígios da Londres antiga.

A atividade ficou mais popular nos últimos anos, promovida em parte por grupos de redes sociais, onde entusiastas compartilham descobertas.

Fiona Haughey, arqueóloga de Londres que estuda o Tâmisa desde os anos 1990, disse que alguns procuram objetos valiosos, mas outros buscam apenas uma conexão com uma Inglaterra longínqua. É a ligação com as camadas de vidas dos londrinos de antigamente que une principalmente os entusiastas.

Para Haughey, especializada em pré-história, tem a ver com o que um objeto pode lhe contar sobre seu dono, mais que seu valor. “Eu adoro o enigma da coisa”, disse ela.

Objetos encontrados por Lara Maiklem na margem do Tâmisa - Andrew Testa/The New York Times

A Autoridade Portuária de Londres, que é a dona do Tâmisa junto com as Propriedades da Coroa (ou seja, a rainha Elizabeth 2ª), começou a regular a exploração da área em 2016, exigindo que os interessados em vasculhar as margens tirem uma autorização especial.

Esses documentos —cerca de 1.500 foram emitidos neste ano— permitem que as pessoas explorem o terreno e raspem ou escavem a lama até a profundidade de 7,5 cm. Os catadores devem informar sobre objetos que possam ter interesse arqueológico ao Esquema de Antiguidades Portáteis, dirigido pelo Museu Britânico.

A Grã-Bretanha obriga qualquer pessoa que desenterre “tesouros” —definidos como descobertas únicas de ouro e prata com mais de 300 anos, conjuntos de moedas e trabalhos em metal pré-históricos— a informar ao governo.

Às vezes ocorrem descobertas importantes, como a primeira “spintria” encontrada na Grã-Bretanha. “Spintriae” são caixas de bronze romanas com imagens de atos sexuais em uma face e um numeral romano na outra, cuja finalidade é incerta.

E cada maré revela um pouco da variada história da cidade: moedas romanas, broches medievais usados por peregrinos religiosos, um elaborado relógio do século 17.

O Tâmisa, que atraiu pessoas a fundarem a cidade há mais de 2.000 anos, é um dos melhores conservadores da história de Londres. O rio foi usado de muitas formas —como estrada, fonte de alimento e, mais importante para os “mudlarks”, local de descarte.

No centro, onde ficava o coração da cidade romana, muitas descobertas são romanas ou medievais. Mais a oeste, foram achadas evidências de assentamentos pré-históricos.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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