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Descrição de chapéu Governo Trump

Trump anuncia rompimento com OMS e fim de tratamento especial a Hong Kong

Presidente dos EUA reage a avanços de Pequim sobre autonomia de território

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Washington | Reuters

O presidente americano, Donald Trump, usou a entrevista coletiva desta sexta (29) nos jardins da Casa Branca para anunciar dois rompimentos.

Disse que os EUA estão cortando relações com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e dando um fim à relação especial que mantêm com Hong Kong, em resposta aos avanços de Pequim sobre as liberdades no território.

Os EUA são os maiores doadores da OMS —em 2019, o país desembolsou US$ 400 milhões (R$ 2,06 bilhões), equivalentes a cerca de 15% do orçamento da organização sediada em Genebra. Segundo Trump, os pagamentos serão direcionados a outras entidades de saúde pública.

"Como eles não fizeram as reformas solicitadas e muito necessárias, encerraremos nosso relacionamento com a OMS e redirecionaremos esses fundos para outras necessidades de saúde pública mundial urgentes e globais", disse ele a jornalistas, em Washington.

Donald Trump abandona entrevista coletiva enquanto repórteres faziam perguntas, nos jardins da Casa Branca, em Washington - Jonathan Ernst/Reuters

No mês passado, Trump havia suspendido o repasse de fundos à instituição. O líder republicano justificou a decisão ao criticar a forma como a entidade tratou a pandemia de coronavírus.

À época, o presidente americano criticou a OMS por ter "acreditado nas garantias dadas pela China" e culpou o órgão por um aumento de 20 vezes no número de casos em todo o mundo.

Nesta sexta, repetiu a acusação de que o país asiático lidou mal com a pandemia. Segundo o republicano, a China não levou a crise a sério no começo.

Também sugeriu que autoridades permitiram que chineses viajassem de Wuhan —onde a pandemia começou— para outros países, ao passo em que não permitiam o trânsito de cidadãos do berço do coronavírus para outras cidades chinesas.

"A China tem controle total sobre a OMS, apesar de pagar apenas US$ 40 milhões por ano", acrescentou Trump nesta sexta. "Nós detalhamos as reformas que ela deve fazer e nos engajamos diretamente, mas a OMS se recusou a agir." A entidade ainda não se manifestou sobre a decisão de Trump.​

A organização tem um histórico recente complicado no que diz respeito ao trato com pandemias. Em abril de 2015, a direção da OMS publicou uma declaração reconhecendo erros no combate à epidemia de ebola no oeste da África e anunciando reformas.

Entre as promessas feitas estavam a criação de estruturas para responder a emergências sanitárias, maior envolvimento com comunidades e médicos e mais transparência na comunicação. A principal diretriz anunciada era “levar as ameaças de doenças a sério”.

Cinco anos depois, Trump acusa a OMS de repetir os mesmos erros no caso do novo coronavírus.

Parte da estratégia do líder americano é dispersar críticas pela maneira com a qual ele lidou internamente com o avanço do vírus. Os EUA são o país mais afetado pela pandemia no mundo, com mais de 102 mil mortes até a tarde desta sexta.

Trump inicialmente minimizou a pandemia e ignorou alertas da inteligência americana sobre a gravidade do cenário ainda em janeiro. Atropelado pelos números, o presidente começou a atentar para a crise em março, quando decretou estado de emergência no país e defendeu medidas de distanciamento social.

No fim de abril, porém, voltou a defender a retomada econômica, enquanto a cifra de casos de Covid-19 nos EUA só subia.

A reabertura econômica em alguns estados começou no início de maio, e no final do mês diversos setores da economia começaram a registrar uma pequena melhora nos seus índices.

A avaliação de especialistas, porém, é que isso não significa uma recuperação rápida, e ainda é possível que haja nova queda econômica caso o país seja atingido por uma segunda onda de transmissão do coronavírus.

Fim da relação especial com Hong Kong

Na entrevista coletiva desta sexta, Trump informou ainda que determinou a seu governo que inicie o processo para eliminar o tratamento especial concedido a Hong Kong. A atitude é uma resposta aos planos da China de impor uma nova legislação de segurança para o território.

Segundo Trump, Pequim quebrou sua palavra sobre Hong Kong —apesar de pertencer à China, a ex-colônia britânica tem elevado grau de autonomia, o que garante aos cidadãos do território liberdades não vistas na parte continental do país.

Assim, após a decisão anunciada nesta sexta, devem ser eliminados acordos políticos com Hong Kong, incluindo tratados de extradição e relações comerciais.

Também será lançado um decreto que barrará a entrada de chineses considerados perigosos à segurança americana, em uma tentativa de resguardar a pesquisa de universidades dos EUA. Os principais afetados serão estudantes de pós-graduação, segundo a agência Reuters.

"Meu anúncio hoje afetará toda a gama de acordos que temos com Hong Kong", disse o republicano, incluindo "ações para revogar o tratamento preferencial como um território alfandegário e de viagem separado do resto da China".

O anúncio americano significa que Washington pode aplicar a Hong Kong as mesmas tarifas e exigências já praticadas ao restante da China, o que afetará o comércio entre as duas partes.

Segundo uma lei aprovada pelo Congresso dos EUA em 1992, a relação do país com Hong Kong deve seguir da mesma forma que durante o período de controle britânico.

Uma regra aprovada em novembro de 2019, durante a onda de protestos contra Pequim, porém, obriga o Departamento de Estado dos EUA a informar anualmente ao Congresso se a China está respeitando a autonomia do território.

Caso isso não aconteça, o governo americano pode interromper a relação especial estabelecida, o que acontece agora.​

O Congresso da China aprovou na quinta (28) uma legislação de segurança nacional que almeja combater a secessão, a subversão e o terrorismo em Hong Kong, termos que autoridades tanto do território quanto de Pequim vêm usando cada vez mais em relação às manifestações pró-democracia.

As novas leis —que entram em vigor em setembro— podem levar agências de inteligência chinesas a montarem bases em Hong Kong, erodindo as liberdades no território e ameaçando a independência do judiciário local, menos repressivo que o de Pequim.

Trump afirmou que a ação chinesa é uma tragédia para o povo do território, a China e o mundo. Ele acrescentou que os EUA também irão impor sanções a indivíduos considerados responsáveis ​​por prejudicar a autonomia de Hong Kong.

“A China alega que está protegendo a segurança nacional. Mas a verdade é que Hong Kong era segura e próspera como uma sociedade livre. A decisão de Pequim reverte tudo isso. Estende o alcance do aparato invasivo de segurança estatal da China para o que era formalmente um bastião da liberdade”, disse Trump.

O anúncio é a confirmação de uma ameaça feita há poucos dias pelo secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo.

A decisão de Trump de eliminar os privilégios de Hong Kong é um passo "imprudentemente arbitrário", disse o jornal chinês Global Times, publicado pelo People's Daily, o diário oficial do Partido Comunista.

Embora o Global Times não seja um porta-voz oficial do partido, acredita-se que seus pontos de vista refletem os de seus líderes.

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