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Bolsonaro comete dois erros em afirmações sobre novo toque de recolher na Argentina

Diferentemente do que diz líder brasileiro, militares não serão usados para garantir cumprimento das novas regras

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Buenos Aires

No novo capítulo dos enfrentamentos entre os presidentes Jair Bolsonaro e Alberto Fernández, o líder brasileiro fez uma postagem na manhã desta quinta-feira (15) sobre o novo toque de recolher anunciado pelo argentino para a região de Buenos Aires. A publicação, porém, contém ao menos dois erros.

Diante de uma rápida escalada nos casos de coronavírus, atribuída principalmente à circulação das novas variantes, a Argentina enfrenta uma segunda onda da pandemia com sucessivos recordes: quase 28 mil registros de infecção em 24 horas e um total acumulado de mortos que ultrapassa os 58 mil.

Por isso, Fernández anunciou em um pronunciamento na TV na noite desta quarta (14) o toque de recolher das 20h às 6h na região metropolitana de Buenos Aires, onde vivem 16 milhões de pessoas.

A restrição de circulação e o fechamento obrigatório de comércios e de restaurantes passam a valer a partir das 0h de sexta-feira (16). Fernández anunciou ainda que as aulas também deixarão de ser presenciais a partir da próxima semana. Todas as novas medidas valem, a princípio, até o dia 30 de abril.

Bolsonaro, um crítico das medidas de distanciamento social, escreveu em uma rede social nesta quinta que, com o anúncio, o "Exército argentino estará nas ruas para manter o povo em casa" e que o toque de recolher vai durar das 20h às 8h. As duas afirmações estão erradas.

O novo toque de recolher será entre 20h e 6h, e não 8h. Já sobre o uso dos militares, o presidente brasileiro se baseou em texto do site Infobae segundo o qual o Exército seria usado para tal fim. Mas o governo argentino esclareceu que isso não iria ocorrer, e o próprio veículo retirou a afirmação do ar.

Em seu pronunciamento na noite de quinta-feira, Fernández anunciou que as forças de segurança estariam nas ruas para vigiar as medidas, mas referia-se à polícia. Depois do anúncio, o ministro da Defesa, Agustín Rossi, afirmou que o Exército teria "a mesma função que teve na crise no ano passado, a de dar assistência sanitária, distribuir comida e ajudar na organização de testes e na vacinação".

"O Exército não realizará nenhuma tarefa de controle da população. Não vai haver tanques, por sorte eles estão bem guardados. As Forças Armadas não vão realizar nenhuma tarefa que tenha que ver com a segurança interior." Ele acrescentou que a ação do Exército nas ruas será "sem o porte de armas".

O presidente argentino, Alberto Fernández (de costas), participa de videoconferência com o brasileiro Jair Bolsonaro - 11.nov.20/Divulgação/Casa Rosada

Em uma entrevista a uma rádio local, na manhã desta quinta (15), Fernández afirmou que "seria importante explicar um pouco a Jair Bolsonaro sobre como funciona a Constituição". "Na Argentina, as Forças Armadas não fazem segurança interior. As Forças Armadas têm colaborado de um modo magnífico na pandemia, e agora eu pedi que nos ajudem a montar postos sanitários para que possamos aumentar os testes e atender alguma situação quando for necessário".

A relação entre os presidentes é marcada por rusgas e distância. Bolsonaro fez campanha para o adversário de Fernández, o então presidente Mauricio Macri, na eleição de 2019. Depois da vitória do rival, o brasileiro afirmou que não cumprimentaria o argentino e fez diversas críticas ao retorno do peronismo (grupo político a qual pertence Fernández e sua vice, a ex-presidente Cristina Kirchner) ao poder no país vizinho, o que ele identificou como uma guinada de rumo da Argentina "em direção à Venezuela".

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, foi ainda mais explícito. Em setembro, afirmou que o que estava acontecendo na Argentina devido à longa quarentena imposta por Fernández era uma "calamidade" e que o país tinha sido "destruído por seu governo socialista em poucos meses".

A partir de novembro, porém, houve uma aproximação entre os países, depois que o embaixador Daniel Scioli se instalou em Brasília. A primeira conversa entre os dois presidentes foi realizada em dezembro, um ano após a posse de Fernández. No encontro virtual, Fernández pediu que as diferenças do passado fossem deixadas para trás e que "o futuro seja encarado com as ferramentas que funcionam bem" para os dois países, “potencializando todos os pontos de acordo”.

Na ocasião, o líder argentino defendeu o aprofundamento da integração no Mercosul, enquanto Bolsonaro ressaltou as metas de reduzir a TEC (Tarifa Externa Comum) e ampliar os acordos comerciais do bloco.

Esses dois temas contrapõem o governo peronista na Argentina e a administração Bolsonaro. Os argentinos resistem a baixar a TEC, sob o argumento de que essa decisão prejudicaria sua indústria nacional, e, por isso, têm colocado travas às negociações de tratados comerciais.

A TEC é um imposto de importação partilhado entre os sócios do Mercosul, e sua reformulação precisa da anuência dos quatro membros do bloco. Por isso, ainda que tenha chamado o grupo de "nosso pilar de integração", Bolsonaro destacou a necessidade de criar "mecanismos mais ágeis e menos burocráticos".

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