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Descrição de chapéu Governo Biden

Cúpula do governo Trump sabia de telefonemas para tentar reduzir tensão com China, diz general

Chefe do Estado-Maior, Mark Milley participou de audiência do Senado americano

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Em seu primeiro depoimento detalhado sobre os telefonemas que fez para a China na tentativa de apaziguar as relações diplomáticas e esclarecer que os Estados Unidos não pretendiam iniciar uma guerra no fim do mandato de Donald Trump, o chefe do Estado-Maior americano disse que membros da cúpula do governo tinham conhecimento dessas conversas.

O general Mark Milley depôs nesta terça-feira (28) em audiência convocada pelo Comitê de Serviços Armados do Senado americano para tratar do papel dos militares na retirada das tropas do Afeganistão, em agosto. O processo encerrou a guerra mais longa em que o país esteve envolvido e abriu espaço para o retorno do grupo fundamentalista islâmico Talibã ao poder.

O chefe do Estado-Maior dos EUA, general Mark Milley, durante audiência no Senado americano - Patrick Semansky - 28.set.21/Pool/AFP

Apesar de as operações no país da Ásia Central serem o tema da audiência, a participação de Milley, como esperado, foi protagonizada por seus esclarecimentos sobre os meses finais do governo Trump.

Há duas semanas, a divulgação de trechos de um novo livro dos jornalistas Bob Woodward e Robert Costa, do jornal The Washington Post, revelou que o militar ligou para seu homólogo chinês duas vezes para assegurar que não havia a possibilidade concreta de ataques americanos à época.

As revelações levaram parlamentares republicanos a pedirem que Milley renunciasse –o presidente Joe Biden, porém, afirmou ter "total confiança" no general, descartando sua demissão. Trump, poucos dias após virem a público as informações, alegou que a história era "fabricada" e que, caso fosse verdade, o militar deveria ser julgado por traição.

Durante os minutos finais de sua fala na audiência desta terça, porém, o chefe do Estado-Maior listou ao menos três membros da alta cúpula da gestão do republicano que tinham conhecimento de seus telefonemas: Mike Pompeo, então secretário de Estado, Mark Meadows, chefe de gabinete, e Chris Miller, secretário-interino de Defesa.

O general afirmou ter certeza de que Trump "não tinha a intenção de atacar os chineses" e que é sua responsabilidade "transmitir as intenções presidenciais". Por essa razão, seguiu, ele teria ligado para transmitir uma mensagem de calma e firmeza e para "desescalar" a tensão com a China.

Milley também abordou a conversa que teve com a presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, poucos dias após a invasão do Capitólio insuflada por Trump. O episódio também foi revelado pelo livro dos repórteres –segundo a apuração, eles teriam compartilhado preocupações em torno de uma suposta "deterioração da saúde mental" do então presidente.

Sobre o assunto, o chefe militar disse que Pelosi o procurou para perguntar sobre a capacidade do presidente de lançar armas nucleares, ao que ele teria assegurado que o lançamento deve ser autorizado pelo presidente, mas que também passa por outras pessoas. Afirmou ter dito, ainda, que não estava "qualificado para determinar a saúde mental do presidente dos EUA".

Segundo mostra a apuração dos jornalistas, na tarde do mesmo dia do telefonema, o general convocou oficiais de sua equipe para revisar os procedimentos para o lançamento de armas nucleares. Na reunião secreta, ele disse que só o presidente poderia dar essa ordem, mas enfatizou que ele, Milley, deveria estar envolvido na decisão para que ela fosse posta em prática.

Em relação ao tema original da audiência –a saída das tropas americanas do território afegão–, o chefe do Estado-Maior disse que ele e outros líderes militares aconselharam Biden a postergar a retirada das tropas. "Os tomadores de decisão não são obrigados de forma alguma a seguir esse conselho", emendou.

Trata-se da primeira vez que altos oficiais dos EUA reconhecem publicamente terem aconselhado a Casa Branca a adiar o fim da ocupação —a repercussão do caos visto nas operações em Cabul, aliada à piora nos números da pandemia no país, vem desidratando os índices de aprovação da gestão Biden.

Além de Milley, participaram da audiência no Senado o secretário de Defesa, Lloyd Austin, e o chefe do Comando Central, Kenneth McKenzie, que alegou ter recomendado que 2.500 soldados fossem mantidos no Afeganistão, com a opção de aumentar o contingente para 3.500, a depender da necessidade. Em entrevistas recentes, quando questionado sobre o assunto, Biden negou ter recebido esse conselho.

Já Austin disse que os altos líderes militares foram pegos de surpresa pela rapidez com que o governo afegão e o Exército do país da Ásia Central colapsaram. "Ajudamos a construir um Estado, mas não conseguimos forjar uma nação", disse. "O fato de o Exército afegão que nós treinamos ter simplesmente desmoronado –em muitos casos sem disparar nem sequer um tiro– nos pegou de surpresa."

Três dias após o Talibã retomar o poder no Afeganistão, o então presidente do país, Ashraf Ghani, confirmou estar exilado em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. O Exército afegão, desmantelado, dividiu-se, e alguns membros passaram a integrar forças de resistência.

Com The New York Times e Reuters

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