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Descrição de chapéu talibã

Talibã reprime com violência protesto de mulheres no Afeganistão por direito à educação

Grupo também pedia ao grupo extremista participação na formação do novo governo

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Reuters

Com faixas e um buquê de flores, um grupo de mulheres protestou contra o Talibã neste sábado (4), em Cabul, para pedir aos membros do grupo fundamentalista islâmico que respeitem o seu direito à educação e ao trabalho e deem a chance de elas participarem do novo governo.

Contudo, integrantes da facção interromperam a manifestação, como mostraram imagens transmitidas pela emissora privada de TV Tolo News. Segundo uma das participantes do ato, os combatentes utilizaram gás lacrimogêneo e “tasers”, pequenas armas de choque, contra as mulheres.

“Eles também bateram na cabeça das mulheres com um carregador de armas, e elas ficaram ensanguentadas. Não havia ninguém a quem pudéssemos perguntar o motivo”, afirmou à agência de notícias Reuters uma manifestante identificada como Soraya.

Mulheres afegãs protestam em Cabul para que o Talibã preserve os avanços conquistados e o direito à educação - 3.set.21/Reuters

Uma das participantes do protesto disse ao jornal americano The New York Times que as manifestantes somavam cerca de 100 mulheres até que foram interrompidas por agentes do grupo fundamentalista com cassetetes, coronhadas de armas e gás lacrimogêneo.

"Quando eu tentei resistir e continuar a marcha, um dos talibãs armados me empurrou e me bateu com um objeto de metal afiado", disse a afegã, identificada como Nargis, que afirmou que desmaiou após o ataque.

Outra manifestante identificada como Rukhshana afirmou que as manifestantes foram "tratadas como animais". "Nós queríamos reivindicar nossos direitos e mostrar que nós existimos. Trabalhamos duro, estudamos e nos esforçamos, fizemos sacrifícios, perdemos nossos maridos", afirmou ela ao jornal. "Vamos continuar nossa luta até recuperar nossos direitos com esse governo, que tomou o país à força".

Um vídeo da ativista afegã Narjis Sadat com a cabeça sangrando foi amplamente compartilhado nas redes sociais. Na postagem, ela alega ter sido espancada por militantes no protesto.

Em resposta a reportagens sobre o protesto, Muhammad Jalal, um líder talibã, afirmou no Twitter que “a maioria das mulheres está feliz” no país e que o protesto era uma tentativa deliberada de causar tumulto, já que "estas pessoas não representam nem 0,1%" do Afeganistão.

A violência neste sábado começou depois de as forças do Talibã impedirem as mulheres de marcharem em direção ao palácio presidencial, de acordo com as imagens da Tolo News, na quarta manifestação feminina em uma semana no país, que voltou ao comando do Talibã em 15 de agosto.

Na primeira vez em que estiveram no poder, entre 1996 e 2001, os extremistas proibiram mulheres e meninas mais velhas de estudar e de trabalhar.

Desta vez, o grupo tem tentado emplacar a narrativa de que será mais moderado. No domingo (29), disse que autorizará a presença de mulheres nas universidades, desde que separadas dos homens. "O povo do Afeganistão continuará tendo ensino superior, de acordo com as regras da sharia [lei islâmica], que proíbe classes mistas", afirmou o ministro do Ensino Superior do Talibã, Abdul Baqi Haqqani, em assembleia.​

Na primeira entrevista coletiva desde a tomada de Cabul, o porta-voz Zabihullah Mujahid disse ainda que o Talibã quer paz, negou represálias a adversários e afirmou que os direitos das mulheres serão protegidos —mas a ressalva, dentro do "arcabouço do islã", já estava clara desde esse primeiro pronunciamento.

No passado, a interpretação radical da lei islâmica levou a extremos em regiões controladas por grupos como o Talibã, o Estado Islâmico ou o governo da Arábia Saudita. Sob o governo do grupo fundamentalista no Afeganistão, por exemplo, mulheres eram alvo prioritário da repressão brutal.

Ainda que haja gradações diferentes de aplicação, por via de regra as mulheres são relegadas a papéis subalternos na vida pública e elevadas à condição de "rainhas do lar". No poder, o Talibã levou esse aspecto ao paroxismo. A educação de meninas tinha de ser feita em casa, não havia saúde pública para mulheres e os corpos totalmente cobertos por burcas simbolizavam ao Ocidente tal repressão.

As burcas são tradicionais entre pashtuns, a etnia majoritária do Afeganistão à qual o Talibã pertence, mas sua obrigatoriedade chocou o mundo. Na prática, elas seguiram sendo usadas por muitas mulheres nos últimos 20 anos, principalmente fora de Cabul. O Talibã afirmou desta vez que iria exigir o uso de hijab, o véu que cobre a cabeça e os ombros e deixa o rosto à mostra.

Ao longo das duas décadas de presença ocidental, houve avanços. Escolas e hospitais abriram para mulheres, e elas integraram as Forças Armadas e a polícia.

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