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Boris Johnson vê debandada de assessores em meio a crise de imagem por festas

Ataque a líder opositor desagrada auxiliares; três dos cinco demissionários estão ligados a 'partygate'

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Londres | Reuters e AFP

Quatro assessores próximos de Boris Johnson renunciaram aos cargos nesta quinta-feira (3), adicionando uma nova camada à crise política na qual o premiê britânico está afundado. Três dos nomes estão ligados aos escândalos envolvendo festas na sede do governo quando encontros eram proibidos pelas regras de confinamento impostas como contenção da pandemia.

Um ataque recente feito por Boris a um líder da oposição também pesou. Entre os demissionários estão o chefe de gabinete do premiê, Dan Rosenfield, o diretor de Comunicações, Jack Doyle, e o secretário particular Martin Reynolds —o pivô de um dos casos do chamado "partygate", por ter enviado um email convidando funcionários do governo para uma festa, com a frase "por favor [...] traga sua bebida!".

Apesar dos pedidos de desligamento, o governo anunciou que Rosenfield e Reynolds permanecerão no cargo por enquanto. Segundo parlamentares conservadores ouvidos pela agência de notícias Reuters, as renúncias podem significar o início de uma redefinição no governo, ainda que um tanto desorganizada.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, gesticula durante visita ao Blackpool Transport Depot, no noroeste da Inglaterra - Peter Byrne - 3.fev.22/AFP

"Boris Johnson prometeu mudança aos parlamentares. Hoje vemos essa mudança começando a acontecer e parabenizo [o premiê] pela ação rápida", escreveu em sua conta no Twitter o parlamentar Stuart Anderson, apoiador do primeiro-ministro.

No início desta semana, Boris prometeu revisar regras de Downing Street após um relatório feito pelo governo apontar "falhas de liderança e de julgamento" de diferentes membros da gestão, ao permitirem a realização de eventos enquanto o país estava sob duras restrições.​

O relatório também descreveu o comportamento acerca das reuniões como "difíceis de justificar", criticou os erros dos que estão "no coração do governo" —sem citar Boris— e recomendou políticas de proibição de consumo de bebidas alcoólicas em locais de serviço público, além da criação de canais de denúncia.

A apuração abrange 16 eventos distribuídos em 12 datas, entre maio de 2020 e abril de 2021, incluindo reuniões de servidores no jardim de Downing Street, despedidas de funcionários, noite de jogos às vésperas do Natal e até uma festa de aniversário para o premiê.

Os encontros também são investigados criminalmente pela Polícia de Londres, que, segundo o jornal britânico The Guardian, já recebeu 300 imagens e 500 páginas de documentos relacionadas aos eventos.

Boris tem pedido desculpas pelos episódios, mas sua popularidade vem caindo drasticamente —entre os britânicos, mas também no Parlamento e no seu partido. À insatisfação com os problemas políticos se somam, para os ingleses, o aumento no custo de vida e altas sucessivas na taxa de juros.

O próprio Boris piorou sua situação e vem sendo alvo de críticas por ter acusado, no dia 31, o líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, de permitir que o ex-apresentador da BBC Jimmy Savile escapasse da Justiça. O jornalista morreu em 2011, aos 84 anos, e pouco depois foram reveladas denúncias de que ele teria abusado de centenas de pessoas, incluindo uma menina de oito anos. Saville nunca foi processado.

À época, Starmer​ estava à frente da Procuradoria britânica, mas não teve envolvimento direto no caso, embora mais tarde tenha pedido desculpas por eventuais falhas durante o episódio. A ligação entre o nome do ex-apresentador e do hoje líder do partido de oposição é popular em teorias da conspiração geralmente difundidas por grupos de extrema direta.

A acusação sem provas foi o motivo para o pedido de demissão de Munira Mirza, chefe de política do governo, que trabalhava com Boris havia 14 anos. Segundo ela escreveu em sua carta de demissão, o premiê fez uma "denúncia enganosa" e "não havia base razoável ou justa para essa alegação".

A revista britânica The Spectator informou que a agora ex-assessora teria escrito a Boris que esperava dele desculpas. "Não é tarde demais para você, mas, lamento dizer, é tarde demais para mim."

Ainda que não tenha seguido o caminho de Mirza, o ministro das Finanças britânico, Rishi Sunak, também criticou a postura do premiê, quando questionado sobre o caso por jornalistas. "Eu não teria dito isso", afirmou. Sunak é hoje um dos principais cotados para substituir Boris, caso ele deixe o cargo.

O primeiro-ministro, por sua vez, preferiu não pedir desculpas, mas recuou das acusações, ao dizer que "várias pessoas ficaram incomodadas" com suas palavras. "Não estou falando do histórico pessoal do líder da oposição quando ele era DPP [sigla para Director of Public Prosecutions] e entendo perfeitamente que ele não teve nada a ver, pessoalmente, com essas decisões", disse. Ainda sobre o assunto, lamentou a renúncia de Mirza, mas disse que não concordava com ela em relação à impropriedade de seu comentário.

Nesta sexta (4), a imprensa britânica noticiou o pedido de demissão de outra assessora de Boris, a quinta em menos de 24 horas. Trata-se de Elena Narozanski, especialista em política educacional, segundo a BBC, e conselheira do primeiro-ministro para mulheres, igualdades e extremismo. Antes disso, ela já havia trabalhado como assessora da ex-premiê Theresa May.

A crise no Reino Unido também se abre em outra frente. Nesta quinta, o primeiro-ministro da Irlanda do Norte, Paul Givan, anunciou sua renúncia, em um cenário ainda tumultuado devido a negociações pós-brexit. De acordo com o protocolo, o país permanece dentro do mercado único europeu, o que significa estabelecer controles aduaneiros às mercadorias que chegam do restante do Reino Unido, uma solução que revolta uma parte da população, apegada à coroa britânica.

Um dia antes, porém, o governo ordenou o fim dos controles sanitários dos alimentos que chegam aos portos da Irlanda do Norte, uma decisão denunciada pelo governo da vizinha Irlanda como uma violação do direito internacional. Na ocasião, a União Europeia também lamentou a decisão e considerou que ela cria "mais incerteza e imprevisibilidade para as empresas e os cidadãos da Irlanda do Norte".

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