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Rússia bombardeia centro de Kharkiv, e comboio ameaça capital da Ucrânia

Moscou estaria usando bombas de fragmentação, munição que aumenta potencial de danos humanitários na guerra

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São Paulo e Guarulhos

O sexto dia da invasão russa da Ucrânia, que sucede o início de uma tentativa de diálogo, começou com a reorganização da estratégia de guerra adotada por Vladimir Putin e com bombardeios no centro de Kharkiv, segunda maior cidade do país do Leste Europeu, localizada a 450 km da capital Kiev, na manhã desta terça (1º).

Mísseis Grad e de cruzeiro, estes de alta precisão, atingiram áreas residenciais e o prédio oficial do governo. Ao menos dez pessoas morreram e outras 35 ficaram feridas, segundo balanço do Ministério do Interior ucraniano, e as cifras podem aumentar à medida que os escombros forem retirados. Uma das vítimas era um estudante indiano, segundo informou a chancelaria de Déli.

Governante da região, Oleg Sinegubov descreveu os ataques como um genocídio do povo ucraniano e um crime de guerra contra a população civil. Denúncia semelhante fez o presidente Volodimir Zelenski, que classificou os ataques de "terrorismo de Estado" cometido pela Rússia.

Equipes de resgate retiram corpo de vítima de bombardeio em Kharkiv, na Ucrânia - Serguei Bobok - 1º.mar.22/AFP

Sobre Kiev, pesa a ameaça de um comboio militar russo de 64 km que já está aproximadamente 25 km a noroeste da capital, mostram imagens de satélite. A coluna não teria feito avanços significativos ao longo do dia devido a problemas de logística, como falta de combustível, segundo uma autoridade americana informou à agência de notícias Reuters —os EUA monitoram a ameaça.

O Ministério da Defesa russo havia dito que planeja atacar pontos usados como base para serviços de segurança ucranianos. A pasta, como era de se esperar, não forneceu detalhes sobre a localização dos alvos, mas instou moradores próximos a esses locais a deixarem suas casas.

Também na capital ucraniana, uma torre de televisão foi atingida, num ataque que deixou pelo menos cinco mortos e interrompeu a transmissão de canais de TV no país. A estrutura fica perto de um monumento a Babi Yar, local que marca um dos episódios mais sombrios da história do país, quando os nazistas mataram mais de 30 mil judeus em dois dias, em 1941.

Zelenski foi a uma rede social falar sobre o significado do episódio: "Qual o sentido de dizer '[nazismo] nunca mais' se o mundo fica em silêncio quando uma bomba cai no mesmo local de Babi Yar? É a história se repetindo".

O ataque rendeu também críticas do governo de Israel, que, moderado, limitou-se a pedir que a santidade do local fosse preservada e honrada, sem mencionar nominalmente a Rússia. Mais crítico foi o Yad Vashem, o Museu do Holocausto em Jerusalém, que, em nota, descreveu o ato como um "ataque mortal da Rússia".

Se na segunda (28) observadores denunciaram o uso de bombas de fragmentação —munição que amplifica a área de dano e leva a riscos maiores de mortes e ferimentos— pelos russos, a terça foi marcada pela denúncia de que as tropas de Putin estão usando também bombas termobáricas. A alegação foi feita por Oksana Markarova, embaixadora da Ucrânia nos EUA.

A munição não é ilegal, mas pode ter graves consequências humanitárias. Usada principalmente para destruir posições defensivas —poderia, por exemplo, ser usada para destruir bunkers—, ela funciona em duas etapas: primeiro, distribui um aerossol de carbono e metal; depois, cria uma bola de fogo com uma onda de choque muito superior à gerada por bombas convencionais.

As implicações? Como a munição suga o oxigênio do ambiente para gerar a explosão, ela impede que os alvos respirem. Além disso, a explosão acarretada pode vaporizar corpos humanos, segundo um especialista consultado pelo jornal britânico The Guardian.

Na mídia local, há também relatos de explosões nos arredores da capital. O diretor da maternidade Adonis, em Buzova, a leste de Kiev, informou no Facebook que uma granada atingiu o local, que foi esvaziado. Apesar do estrago, Vitalii Girin, chefe do hospital, diz não ter havido vítimas e que o edifício segue em pé.

Em Borodianka, a noroeste de Kiev, o centro de reabilitação do Ministério dos Assuntos dos Veteranos da Ucrânia foi bombardeado, relatou a chefe da pasta, Iulia Laputina. A cidade tem sido ocupada por tanques russos, que começaram a destruir casas e a infraestrutura local, segundo o jornal Pravda.

O Exército ucraniano alertou em uma postagem no Facebook que, nas últimas 24 horas, as forças russas acumularam blindados e artilharia para "rodear e tomar o controle de Kiev e de outras grandes cidades". Mariupol, perto das regiões rebeldes separatistas de Lugansk e Donetsk, está sob constante bombardeio.

Cercada desde cedo por tropas da Rússia, a cidade portuária de Kherson, próxima à península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, foi invadida durante a noite (tarde em Brasília). O governo local, porém, mantinha o controle dos prédios de administração.

Um conselheiro do presidente Zelenski afirmou, nesta terça, que a Rússia está bombardeando ativamente as cidades, lançando mísseis e ataques de artilharia diretamente em áreas residenciais e prédios do governo. "O objetivo é claro: pânico em massa, vítimas civis e danos na infraestrutura", disse Mikhailo Podoliak.

Para ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, o bombardeio de regiões pacíficas "é a prova de que eles [Moscou] são incapazes de lutar mais com ucranianos armados".

Com tom glorioso, o chefe da pasta começou uma publicação no Facebook dizendo que, no quinto dia de intervenção, nesta segunda (28), os russos "revelaram-se incapazes de esconder que sua agonia começa". Também ressaltou que na parte econômica Moscou já sofreu "uma destruição devastadora". Sob sanções ocidentais, o Banco Central do país disse que a situação é dramática e que tenta evitar asfixia e quebras financeiras.

Pelo lado ucraniano, mais de 70 militares foram mortos nesta segunda em um bombardeio em Okhtirka, no nordeste do país, segundo autoridades da região. Entre civis, o governo afirma que mais de 350 já foram mortos, entre os quais 14 crianças. A ONU confirmou 102 óbitos e 304 feridos, além de mais de meio milhão de refugiados, apesar de reconhecer que os números tendem a ser maiores.

Reznikov (Defesa) afirma ainda que o fornecimento de armas dos europeus está aumentando. De acordo com a Força Aérea do país, 70 caças da União Europeia (UE) devem chegar à Ucrânia nesta terça, provenientes de Bulgária, Polônia e Eslováquia. A Austrália também prometeu fornecer mísseis antiblindados.

Ainda em relação à UE, cresceu a pressão exercida por Zelenski para que a Ucrânia seja aceita como o 28º Estado-membro do bloco. O ucraniano formalizou o pedido nesta segunda e, nesta terça, gravou um vídeo exibido no Parlamento Europeu. Ele instou os países do bloco a demonstrar que estão do lado de Kiev. "Provem que são realmente europeus", disse, em um trecho da mensagem.

Há a expectativa de uma segunda rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia, depois de a primeira, realizada nesta segunda na Belarus, acabar sem avanços claros. O novo encontro entre as delegações deve ocorrer nesta quarta-feira (2), segundo a agência russa de notícias Tass e a imprensa ucraniana.

Com Reuters e AFP

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