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Oposição surfa em renúncia de Liz Truss e pressiona por novas eleições

Partido Conservador define novas regras e pode escolher novo primeiro-ministro na próxima segunda (24)

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Milão

Enquanto o Partido Conservador se apressava para definir as regras da sucessão de Liz Truss no cargo de primeira-ministra do Reino Unido, os trabalhistas, na oposição, aumentaram a pressão para a realização de eleições gerais antecipadas.

Em circunstâncias normais, os britânicos voltariam às urnas entre o fim de 2024 e o início de 2025. Pelas preferências indicadas hoje nas pesquisas, o pleito pode tirar dos conservadores a maioria no Parlamento e dar ao Partido Trabalhista a chance de formar um novo governo —por isso os opositores de alguma maneira se animaram com a crise dos últimos meses na sigla dominante.

A primeira-ministra Liz Truss durante discurso em que anunciou sua renúncia em Londres, no Reino Unido - Henry Nicholls - 20.out.22/Reuters

Logo após o pronunciamento de renúncia de Truss, depois de apenas 44 dias no cargo, seu partido já deu as cartas sobre os próximos passos. Segundo o líder do Comitê 1922, grupo parlamentar responsável por organizar a disputa interna para eleger um novo líder conservador, na melhor das hipóteses o novo cabeça do partido pode ser revelado na próxima segunda-feira (24).

Graham Brady detalhou o processo de escolha já nesta quinta. As candidaturas podem ser enviadas ao comitê até o começo da tarde de segunda. Para serem aceitas, elas precisam receber o apoio de ao menos cem parlamentares conservadores —cada um deles só pode endossar uma candidatura.

Como o partido possui 357 cadeiras, só três nomes têm chances de avançar para a votação. Nesse caso, o menos votado do trio é eliminado, e a dupla restante passa por outra disputa. Nos dias seguintes, a decisão passa para os filiados ao partido, que poderão votar pela internet até o dia 28, sexta —quando, enfim, será anunciado o resultado.

Existe, claro, a possibilidade de, já na próxima segunda, um só candidato atingir o apoio de cem parlamentares. Este será, então, declarado novo líder dos conservadores e, consequentemente, novo primeiro-ministro —e os filiados nem precisarão votar.

Quando a disputa envolvia a sucessão de Boris Johnson, que deixou o cargo em julho, 11 nomes do partido se candidataram à posição. Após uma série de ritos e votações internas, a disputa se reduziu ao confronto direto entre Truss e o então ministro das Finanças, Rishi Sunak.

Segundo pesquisa do instituto YouGov divulgada na última terça (18), feita entre conservadores, o político no topo das preferências para substituir Truss é o próprio Boris —com 32%, caso fosse escolhido, ele voltaria ao cargo três meses após a própria renúncia. Em segundo lugar, aparece Sunak, com 23%.

Outros cotados são Penny Mordaunt, ex-titular da Defesa, Ben Wallace, atual ocupante da pasta, e Suella Braverman, que nesta quarta (19) deixou o Ministério do Interior com críticas ao governo Truss e ajudou a apressar o fim da gestão.

Os trabalhistas, no entanto, descrevem a situação como insustentável e defendem a antecipação de eleições gerais. "Os conservadores não podem responder à sua bagunça simplesmente estalando os dedos e arrastando pessoas para o topo sem o consentimento da população britânica. Eles não têm mandato para colocar o país em mais um experimento", afirmou o líder da oposição, Keir Starmer.

A legenda, que governou pela última vez entre 2007 e 2010, com Gordon Brown como premiê, lidera as mais recentes pesquisas de intenção de voto. Em levantamento de 11 e 12 de outubro, marcou 51%, contra só 23% dos conservadores.

O pleito antecipado também tem apoio dos Liberais Democratas, terceira maior força política britânica, que aparece com 9% da intenção de votos.

Com a saída de Truss, o Reino Unido se prepara para ter seu quinto primeiro-ministro desde 2010, ano em que os conservadores passaram a compartilhar o poder com os Liberais Democratas —cinco anos depois o partido de Truss passou a governar sozinho, fora da coalizão.

Desde então, a instabilidade política se intensificou e foi especialmente agravada após o brexit, aprovado em referendo em 2016 e motivo principal da renúncia de David Cameron. Passaram pelo cargo Theresa May e Boris Johnson —que convocaram eleições antecipadas—, antes de Liz Truss.

O cenário de trocas sucessivas gerou comparações, nesta quinta, com a Itália, conhecida pela mudança frenética de governos. Desde 2011, seis nomes foram primeiros-ministros em Roma —a ultradireitista Giorgia Meloni se prepara para assumir a posição nos próximos dias e se tornar a sétima.

Diante da fragilidade evidente de Truss, a revista britânica The Economist levou o tema à capa, com o título "Welcome to Britaly", um trocadilho com os nomes dos dois países, e a figura da britânica segurando uma pizza e um garfo com espaguete —a brincadeira foi criticada pela embaixada italiana em Londres.

Os dois países têm em comum, além da instabilidade política, baixo crescimento nos últimos anos e subserviência às vontades do mercado de títulos. A Economist, que já havia publicado uma reportagem comparando o mandato de Truss à vida útil de um pé de alface, faz algumas ressalvas na comparação com a Itália. Apesar de ambos integrarem o G7, por exemplo, o Reino Unido tem uma economia mais competitiva e dívida pública menor.

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