Liz Truss perde 2º ministro em 6 dias e vê fritura aumentar no Reino Unido

Primeira-ministra britânica sofre pressão de oposição e do próprio partido depois de fracasso de plano econômico

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Londres | Reuters

A primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, procurou defender nesta quarta (19) sua posição como líder de um governo à beira do colapso. "Sou uma lutadora, não uma desistente", afirmou durante sessão no Parlamento em que respondia a perguntas, em especial sobre seu um plano econômico que foi por água abaixo.

Horas depois, a britânica perdeu mais um nome de peso de seu governo. Suella Braverman, que chefiava a importante pasta do Interior, renunciou sob uma justificativa técnica: disse que violou regras do funcionalismo ao enviar documentos oficiais usando um perfil pessoal de email.

Liz Truss, primeira-ministra do Reino Unido, responde a perguntas no Parlamento, em Londres - Jessica Taylor - 19.out.22/Parlamento do Reino Unido via AFP

O pano de fundo, porém, é outro —e a carta de Braverman publicada no Twitter aponta nesse sentido. "Me preocupo com a direção desse governo. Não apenas quebramos promessas importantes feitas aos nossos eleitores, mas também tenho sérias preocupações sobre o compromisso de honrar compromissos."

A agora ex-ministra se referiu em particular à política migratória do governo, responsabilidade da pasta que chefiava. Ela defende que o Reino Unido adote uma posição mais dura contra migrantes e chegou a preparar uma proposta de lei que proibiria estrangeiros que cruzam o Canal da Mancha de pedir asilo. Ainda disse que era seu sonho ver um voo do governo deportando requerentes para Ruanda —plano gestado ainda sob Boris Johnson ora barrado pela Justiça britânica.

O novo ministro do Interior é Grant Shapps. Ele já esteve à frente dos Transportes e foi pré-candidato à liderança do Partido Conservador —e, por consequência, ao cargo de premiê. Quando a disputa ficou entre Truss e o ex-ministro das Finanças Rishi Sunak, apoiou este último.

Esta é a segunda vez que a primeira-ministra nomeia apoiadores de seu adversário. Na semana passada, ela demitiu Kwasi Kwarteng nas Finanças e empossou Jeremy Hunt.

O cerne das tensões está justamente na pauta econômica. Desde a campanha, Truss vinha propondo um corte de impostos. Após o pleito, o mercado reagiu mal ao plano, temendo consequências da queda de arrecadação fiscal em tempos de alta da inflação puxada pelos custos da energia. Na ocasião, o valor da libra e os preços dos títulos do governo despencaram, forçando o Banco da Inglaterra a intervir.

"Agi de acordo com o interesse nacional, para garantir que tenhamos estabilidade", disse a primeira-ministra, repetindo o argumento de dois dias antes, quando em entrevista à BBC pediu desculpas pelos erros. Ainda nesta terça, ela disse estar comprometida em reajustar as pensões de acordo com a inflação; dias antes, Hunt havia desconversado quando questionado sobre o assunto.

No país, um mecanismo garante que os valores das aposentadorias sejam corrigidos com base na inflação, no aumento do salário mínimo ou em 2,5% —os reajustes são feitos, geralmente, em abril. "Fomos claros em nosso manifesto que manteremos esse mecanismo", disse Truss ao Parlamento. Por outro lado, ela não deu a mesma garantia a outros pagamentos de bem-estar social e à ajuda externa.

Fato é que Truss precisa ganhar o apoio dos britânicos: o instituto YouGov divulgou na terça (18) que oito em cada dez pessoas desaprovam o governo. O índice de 77% é o maior patamar de insatisfação dos últimos 11 anos de monitoramento.

Dos entrevistados, 87% disseram acreditar que Truss está conduzindo mal a economia. Entre os eleitores conservadores, só um a cada cinco tem opinião favorável sobre ela.

Em meio a esse cenário, outro número preocupa ainda mais a primeira-ministra: o de parlamentares dispostos a destituí-la do cargo. Segundo o YouGov, só dois em cinco (38%) defendem sua permanência; os que desejam a renúncia chegam a 55%.

Na prática, a saída está condicionada à apresentação de 54 cartas de correligionários pedindo a votação de uma moção de confiança, o que precisaria do apoio de mais da metade dos conservadores —180 cédulas. Boris Johnson passou pelo processo pouco antes de renunciar e sobreviveu.

O governo agiu para pedir que movimentos do tipo sejam postergados no mínimo até Truss e Hunt apresentarem seu plano fiscal completo, no dia 31 de outubro. Alas do Partido Conservador também tentam abafar as críticas. Nesta quarta, o Parlamento votou um projeto de lei apresentado pela oposição trabalhista para proibir a prática conhecida como fracking, de exploração de gás de xisto, algo que figuras conservadoras também já haviam criticado.

Correligionários de Truss, porém, foram instruídos a contragosto a votar contra a moção. Internamente, o debate foi visto como uma espécie de voto de confiança para a líder, e ao final o texto foi derrotado por 326 votos a 230.

O parlamentar conservador Charles Walker afirmou à rede BBC que as cenas da votação foram lamentáveis e indesculpáveis. "É um reflexo de como está o partido e, obviamente, o governo."

Truss parece ter dado, nesta terça, mais um passo para tentar fazer que seu mandato dure mais do que um pé de alface. A comparação satírica é do tabloide Daily Star que, inspirado em uma metáfora da revista The Economist, criou uma live para acompanhar a disputa.

Live do Daily Star para ver que dura mais: o mandato de Liz Truss ou um pé de alface
Live do Daily Star para ver quem dura mais: o mandato de Liz Truss ou um pé de alface - Reprodução
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