Aprovação de Liz Truss afunda, e um terço dos conservadores quer volta de Boris

Primeira-ministra britânica está em crise após trocar ministro e programa econômico

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Londres | Reuters

Um dia depois de admitir erros e pedir desculpas por um programa econômico que nas palavras dela foi "longe demais e rápido demais", a primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, viu dados de pesquisas realizadas nos últimos dias confirmarem a crise em que sua gestão está afundada.

Nesta terça (18) o instituto YouGov divulgou o resultado de levantamentos feitos entre membros do Partido Conservador e a sociedade em geral. Nos dois casos Truss parece continuar sob risco, em meio à posse do novo ministro das Finanças, Jeremy Hunt, e o giro de 180 graus que ele promoveu nos planos para lidar com a alta do custo de vida e as dificuldades energéticas no país.

Entre os britânicos, oito em cada dez desaprovam o governo, segundo a pesquisa realizada entre os dias 14 e 16. O índice de 77% é o maior patamar de insatisfação dos últimos 11 anos de monitoramento. Dos entrevistados, 87% disseram acreditar que Truss está conduzindo mal a economia —golpe especialmente duro para um partido que costuma se gabar de seu desempenho na área e da disciplina fiscal.

A primeira-ministra britânica, Liz Truss, em frente a a sua residência oficial, em Londres, após reunião com o gabinete - Henry Nicholls - 18.out.22/Reuters

Outro revés para a primeira-ministra é a avaliação feita de seu antecessor, Boris Johnson. Mesmo tendo renunciado em meio a uma pressão intensa, ante o acúmulo de crises, o político tem a imagem menos arranhada: 30% dos britânicos têm boa impressão dele, três vezes a aprovação da atual ocupante do cargo.

Mesmo dentre os eleitores do Partido Conservador, a situação de Truss é complicada. Só um a cada cinco tem opinião favorável sobre ela. O YouGov entrevistou também parlamentares da legenda, e os dados mostram que só dois em cinco (38%) defendem a permanência dela; os que desejam a renúncia chegam a 55% dos entrevistados.

O apoio só é maior entre aqueles que dizem ter votado na primeira-ministra na eleição interna do partido —57%. Nesse grupo, porém, 39% afirmam desejar a renúncia de Truss, número expressivo para a base de sustentação de um governo que mal engatinha.

No caso de uma hipotética renúncia, 32% dos parlamentares do Partido Conservador desejam ver Boris de volta —algo que de resto parece pouco provável de acontecer. Na sequência, Rishi Sunak, que disputou com ela a sucessão, é citado por 20%, à frente do ministro da Defesa, Ben Wallace (10%).

Dentre os que apoiaram Truss, a inclinação para Boris é ainda maior: 44% creem que ele seria o melhor sucessor.

Nesta terça, a primeira-ministra se reuniu com seu gabinete e participou de um encontro com parte dos correligionários. De acordo com a imprensa britânica, os parlamentares conservadores ouviram apelos de membros do governo para adiar qualquer movimento para derrubar a líder antes que o governo apresente seu plano fiscal completo, no próximo dia 31.

Na véspera, quando pediu desculpas em entrevista à BBC, Truss acompanhou silenciosamente no Parlamento as declarações de Hunt esboçando um novo plano econômico, que demoliu o que ela havia desenhado com o ex-ministro Kwasi Kwarteng.

A imagem não expressou a melhor demonstração de confiança de que a política pode continuar no posto. Depois de seu "miniorçamento" desencadear uma desordem profunda na cotação da libra e no mercado de títulos —a ponto de o Banco da Inglaterra precisar agir para evitar que fundos de pensão entrassem em colapso—, líderes da legenda como o ministro das Forças Armadas, James Heappey, disseram que Truss não tem mais espaço para cometer erros.

Com a própria primeira-ministra admitindo tempos turbulentos pela frente e a reputação econômica do Reino Unido abalada, Hunt pode agora ter que ir mais longe na busca de cortes de gastos em um momento de inflação crescente.

Um porta-voz disse que o governo ainda não tem como assumir compromissos em áreas específicas, mas ressaltou que a gestão está focada em proteger os mais vulneráveis e em aumentar os gastos em defesa até 2030.

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