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Descrição de chapéu Mercosul América Latina

Santiago Peña é eleito presidente do Paraguai e confirma hegemonia do Colorado

Sigla que comanda o país há quase 70 anos vai continuar no poder por mais 5

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Assunção

O conservador Santiago Peña, 44, superou o liberal Efraín Alegre, 60, e foi eleito presidente do Paraguai neste domingo (30). Contrariando as expectativas de um pleito acirrado, o partido Colorado alcança sua vitória mais folgada contra a oposição em 25 anos.

O economista de direita assume o governo em agosto e garante mais cinco anos de hegemonia à sigla, que já comanda o país há quase 70 anos. A exceção foi a gestão do ex-bispo de esquerda Fernando Lugo, de 2008 a 2012, que sofreu um impeachment a meses de completar o mandato.

Santiago Peña, 44, comemora o resultado das eleições do Paraguai ao lado de seu padrinho político, Horacio Cartes, e da esposa - Norberto Duarte/AFP

O resultado é, sobretudo, uma nova demonstração de força do ex-presidente e líder do partido, Horacio Cartes, homem mais poderoso do país. Mesmo tendo sido classificado como "significativamente corrupto" pelos Estados Unidos, o dono de bancos e empresas de cigarros conseguiu eleger seu apadrinhado. Peña entrou na política como seu ministro da Fazenda, de 2015 a 2017.

Com 100% das urnas apuradas, Peña teve 42,7% dos votos, contra 27,5% de Alegre. O opositor formou uma coalizão de centro-esquerda a centro-direita, mas não conseguiu superar o favoritismo e a máquina política do rival —a grande maioria dos funcionários públicos no país, por exemplo, é filiada ao Colorado.

No discurso de vitória, o presidente eleito repetiu a promessa de que vai criar empregos e agradeceu a Cartes, que estava ao seu lado. "Você acreditou em mim quando eu não tinha nenhuma história nem experiência política e me deu a oportunidade de sair pelo Paraguai, de abraçar a direção do partido e a cada um dos que fazem com que esse núcleo político centenário seja eterno", disse.

Já Alegre reconheceu a vitória do rival, agradeceu os votos de seus apoiadores e disse que é preciso buscar novos meios para alternar a liderança do país. "Vamos seguir trabalhando. Somos maioria e temos que continuar unidos", afirmou na porta de sua casa após a confirmação do resultado.

Em terceiro lugar figurou o ex-senador extremista Paraguayo Cubas, com 22,9% dos votos, um resultado significativo para quem não tem aparato político como os dois principais. Ele é comparado a Jair Bolsonaro (PL) e teve seu mandato cassado em 2019 após atacar policiais e defender a morte de "ao menos 100 mil brasileiros".

Uma vez empossado, Santiago Peña terá como principais desafios lidar com uma estagnação econômica que acomete o país desde a pandemia da Covid-19, além de índices altíssimos de informalidade no trabalho (no mesmo nível há uma década) e o crescimento da violência, especialmente na fronteira com o Brasil.

Também terá que renegociar com Lula (PT) parte do acordo da hidrelétrica de Itaipu, que completou 50 anos na semana passada. Em entrevista à Folha em fevereiro, ele disse estar ansioso para trabalhar com o presidente brasileiro e defendeu o Mercosul como instrumento de integração regional.

O petista foi um dos primeiros líderes a reconhecer o resultado da eleição paraguaia e a parabenizar Peña. "Boa sorte no seu mandato. Vamos trabalhar juntos por relações cada vez melhores e mais fortes entre nossos países, e por uma América do Sul com mais união, desenvolvimento e prosperidade", escreveu Lula no Twitter.

Outro assunto que estava em jogo nestas eleições era o reconhecimento da ilha de Taiwan, vista pela China como uma província rebelde. O Paraguai é o único país na América do Sul que ainda está na lista dos que assentem às demandas da ilha, o que implica, na prática, em abrir mão de manter laços diplomáticos com o gigante asiático.

Alegre queria rever esse apoio, mas, com Peña presidente, a tendência é que o reconhecimento se mantenha. "Uma relação de mais de 60 anos, construída sobre princípios e valores democráticos, é muito mais importante do que a possibilidade de aumentar as exportações", afirmou ele há dois meses à Folha.

As eleições paraguaias foram marcadas por uma grande indefinição, longas filas e clima de tensão. Havia uma expectativa da oposição de que finalmente poderia haver uma alternância na Presidência, já que o Colorado estava enfraquecido pelas denúncias de corrupção e pela estagnação econômica. O partido subiu ao poder na ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989), a quem Peña já chegou a elogiar.

"Meu elogio se restringe ao fato de que, quando estava no poder, tinha um acordo político tão forte e duradouro, sem a preocupação com sucessões presidenciais, que fez com que fosse possível desenhar políticas de longo prazo e mantê-las. [...] Mas exagerou, e de nenhuma maneira sou a favor dos abusos de direitos humanos cometidos no período", disse ele ao jornal.

Apoiadores do colorado Santiago Peña reagem a apuração dos votos em Assunção, capital do Paraguai - Agustin Marcarian/Reuters

Se esperava um resultado mais apertado. Ainda que as pesquisas eleitorais do país não sejam tratadas como confiáveis —o ABC Color, principal jornal do país, por exemplo, não publicou nenhuma delas ao longo da corrida eleitoral—, levantamentos da empresa brasileira AtlasIntel apontavam empate técnico entre os dois.

Outra expectativa que não se confirmou foi um aumento significativo do comparecimento dos eleitores. A Justiça Eleitoral tinha como meta atingir a marca de 70% de votantes, contra 61% das eleições passadas. O número, no entanto, só chegou a 63%, abaixo da média das últimas cinco eleições gerais (67%).

As longas filas registradas durante a tarde, as multas estipuladas para quem não cumprisse a obrigação de votar e mudanças nas regras eleitorais legislativas não se converteram numa porcentagem maior de paraguaios nas urnas, como se imaginava.

Além de votar em listas de deputados e senadores do partido, o eleitor dessa vez escolheu seus nomes de preferência. Isso impulsionou cada candidato a fazer sua própria campanha e a financiar transportes para os eleitores, prática que é comum e permitida no país.

Outra atividade considerada frequente no Paraguai, mas que é proibida, é a indução do voto: membros dos partidos entram nas urnas junto com os eleitores, sob o pretexto de ajudar pessoas com deficiência a votar, mas acabam induzindo a seleção de determinado postulante.

A Polícia Nacional informou ter registrado 116 ocorrências e seis prisões relacionadas ao pleito. Duas delas ocorreram no pequeno distrito de Sapucai (a 100 km de Assunção), onde um homem chegou a ter parte da orelha cortada após uma discussão entre os dois partidos sobre onde a urna seria instalada.

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