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A década polar

Período de 2011 a 2020 foi caracterizado por retrocessos na governança política

Donald Trump, que vai chegando ao final do mandato na Presidência dos EUA - Tasos Katopodis/AFP

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Será tarefa dos historiadores no futuro situar a segunda década do século 21, que se encerra, em movimentos de prazo mais longo. Com a percepção ainda sequestrada pela temperatura dos fatos, o que se esboça agora é um quadro preocupante —para o mundo e o Brasil.

Apesar de a década anterior ter terminado sob impacto de um abalo financeiro global, o período seguinte se iniciou sob certo otimismo. Parcela significativa da humanidade fora resgatada da pobreza, e os pressupostos da boa governança política pareciam disseminados.

Havia, no entanto, uma substância ácida corroendo essas estruturas. Conforme seu efeito se acumulava, os vultos da intolerância, do autoritarismo, do obscurantismo e da irresponsabilidade na esfera pública foram se alevantando.

Práticas antes típicas de Estados exóticos e falidos foram ganhando o proscênio até de algumas democracias bastante consolidadas.

Em lance que antes soaria a realismo fantástico, uma ligeira maioria de eleitores em transe desinformativo decidiu em 2016 que o Reino Unido deveria abandonar a União Europeia. A nação que inventou o livre comércio e enriqueceu com ele resolveu dinamitá-lo para o prejuízo, principalmente, das próximas gerações de britânicos.

No mesmo ano, um bilionário neófito, abraçando uma agenda reacionária e populista, arrebatou o Partido Republicano e depois a Presidência dos Estados Unidos. A sua derrota na tentativa de reeleger-se no mês passado representa alívio, mas seria ingênuo acreditar que as energias nefastas que Donald Trump encarna sumiram da arena pública norte-americana.

Sob Xi Jinping, a ditadura chinesa despiu-se de mecanismos organizacionais que propiciavam alguma circulação de lideranças no seio do Partido Comunista e ganhou contornos de mando pessoal. Na Alemanha, centro-esquerda e centro-direita se unem num esforço descomunal para deter os neofascistas.

Esse retrocesso iliberal também atingiu o Brasil. Após curto-circuito nos partidos estabelecidos, governa o país um político excêntrico com personalidade autoritária e rematada incompetência política e administrativa. As instituições forcejam —por ora com sucesso, mas não sem custos— para mantê-lo nos limites da Constituição.

Como se vê, o veneno da polarização tribal e irracional se espalhou por todos os cantos na década prestes a terminar, para o que foi sobejamente auxiliado pela lógica sectária das redes sociais.

Mas os problemas concretos, como mostra a pandemia, teimam em lembrar a todos que há obstáculos bastante objetivos ao progresso da humanidade. Superá-los com as forças das trevas que surgiram será simplesmente impossível.

editoriais@grupofolha.com.br

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