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José Ruy Gandra

A Chinatown paulistana

Projeto de 'Disney chinesa' pode atrair investimentos ao centro da cidade

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José Ruy Gandra

Jornalista, historiador e biógrafo

Com a mesma paciência associada milenarmente ao seu povo, a presença chinesa na cidade de São Paulo tem deixado de ser um orientalismo difuso e se tornado alvo de discussões cotidianas.

Um único exemplo. Nos últimos dias, os donos de estabelecimentos no Mercado Municipal de São Paulo, o Mercadão, um dos mais dinâmicos ícones paulistanos, só falam de uma coisa: o projeto de criação de uma espécie de Chinatown no velho coração da cidade. Essa Disney chinesa teria um ecossistema de varejo (com lojas, restaurantes, hotéis e até parques) ancorado pelo Mercadão, recém-concedido e ávido por investimentos que possam se valer de sua logística estratégica.

De fato, até agora, sabe-se que um bom dinheiro vem sendo injetado na restauração de todo o edifício, uma joia concebida por Ramos de Azevedo, o arquiteto mais célebre da paisagem paulistana.

Pode parecer delírio. Não é! É altamente provável que, em poucas décadas, os chineses passem a figurar, no imaginário coletivo brasileiro e mundial, como uma espécie de novo gringo. Ok, Os Estados Unidos ainda são a maior economia mundial. Mas todo o seu "establishment" já sabe que a China, com sua gigantesca nova classe média (que em 2030 deve se tornar cinco vezes maior que a americana atual) e uma economia militarizada, não pode mais ser contida. A máquina americana depende muito mais da chinesa que o oposto.

Após décadas associado a mercadorias mequetrefes, o "made in China" se transformou com rapidez num ícone confiável (e invariavelmente mais competitivo), mesmo em territórios de altíssima voltagem tecnológica. A inovação, hoje um mantra do Partido Comunista Chinês, é semeada e regada em milhões de pequenas e grandes iniciativas públicas e privadas, com a fiscalização do PCC (que tem 150 milhões de filiados) e metas planejadas e cobradas pelo Estado em cada ponto do território chinês. Não é brincadeira.

O chamado Ocidente se vira como pode. Mas todas as análises indicam que, nas próximas décadas, os Estados Unidos serão não apenas suplantados economicamente pelos chineses como a eles cederão a governança global. Restará aos americanos o que restou aos ingleses, no final da Segunda Guerra Mundial, com a vertiginosa ascensão global da América. Conformaram-se com menos.

Já há uma batalha em andamento pelos corações e mentes mundo afora —e ela se dá em frentes pouco tempo atrás inimagináveis, como o território digital. Não se lê com a merecida frequência sobre os negócios chineses (em especial em áreas de infraestrutura), que pipocam pelo planeta. Nem mesmo sobre os vários acordos bilaterais estratégicos que já prefiguram uma Europa sob inegável influência econômica oriental.

A difusão global do aguardado 5G terá na China o seu grande propulsor e a tecnologia mais avançada. Uma derradeira notícia do front. O TikTok, espécie de Facebook chinês ainda mais turbinado, é o aplicativo que mais cresce globalmente entre os usuários de 10 a 30 anos. É a mesma geração que, madura, frequentará os restaurantes do Mercadão, na Chinatown paulistana?

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