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Clarisse Linke e Juciano Rodrigues

Rio escolhe o caminho da mobilidade insustentável

Anel viário de quase R$ 1 bilhão é retrocesso na política de transporte público

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Clarisse Linke

Diretora-executiva do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento (ITDP Brasil) e membro do Conselho de Transportes da Cidade do Rio de Janeiro

Juciano Rodrigues

Doutor em urbanismo (UFRJ), é pesquisador e membro do Comitê Gestor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia - Observatório das Metrópoles (Ippur/UFRJ) e do Conselho de Transportes da Cidade do Rio de Janeiro

Quando se preparava para receber a Copa do Mundo e as Olimpíadas, a Prefeitura do Rio de Janeiro prometeu uma "revolução nos transportes" com a implementação de sistemas de BRT, corredores dedicados aos ônibus (BRS) e o VLT no centro.

Apesar das críticas à época, foram investimentos que priorizaram o transporte público coletivo. Parecia um caminho sem volta, alinhado à Política Nacional de Mobilidade Urbana. No entanto, agora, quase dez anos depois, o poder municipal voltou a emitir sinais contraditórios sobre os rumos da política de mobilidade com a construção do Anel Viário de Campo Grande, principal bairro da zona oeste da cidade.

Passageiros do BRT andam de portas abertas na avenida das Américas, zona oeste do Rio de Janeiro -Tércio Teixeira - 10.jun.22/Folhapress

O projeto de quase R$ 1 bilhão, financiado pelo BNDES, reforça essa mudança de rumo, pois, claramente, privilegia o transporte individual em detrimento do transporte público coletivo. A obra inclui viadutos, mergulhão, túnel, ampliação e —principalmente— a duplicação de vias. Artefatos cada vez mais considerados anacrônicos em um mundo que sofre os impactos constantes e acelerados das mudanças climáticas. Sem dúvida, um retrocesso que coloca em risco avanços conquistados recentemente.

Além disso, a obra está sendo executada com pouco espaço para debate público, levantando dúvidas sobre quem de fato será beneficiado. Com certeza, não será a maioria da população de Campo Grande, que depende exclusivamente do transporte coletivo. Ao mesmo tempo, a prefeitura parece ignorar dados conhecidos sobre a contribuição substantiva do transporte urbano para a emissão de gases de efeito estufa. Atualmente, não resta dúvida de que investimentos focados na redução de poluentes têm impactos positivos no clima, na saúde pública e na economia. É inaceitável que uma cidade da importância do Rio comprometa recursos públicos para apenas priorizar a fluidez do trânsito em detrimento do transporte coletivo e da mobilidade ativa.

A prefeitura está perdendo ainda uma enorme oportunidade para reorientar o investimento em melhorias no transporte público, promovendo, por exemplo, a conexão do BRT já existente com outras regiões. É triste ver que, enquanto diversas cidades avançam em direção a uma mobilidade inclusiva e sustentável, o Rio parece tomar um caminho oposto. Apesar do discurso alinhado às preocupações com as mudanças climáticas, as ações concretas para enfrentar esses desafios estão sendo oferecidas de forma equivocada. Logo em uma cidade que, há pouquíssimo tempo, anunciou com pompas a criação de um Distrito de Baixa Emissão, que previa, inclusive, a transição para ônibus limpos. No principal destino turístico do Brasil, seria mais uma ação apenas "para inglês ver"?

O investimento no anel viário concorre com as próprias metas de sustentabilidade e contradiz os discursos da prefeitura e do próprio prefeito Eduardo Paes (PSD), que, além de representante especial para a Agenda de Mudanças Climáticas na Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), parece querer disputar também o título de representante do Carro, do Diesel e do Asfalto.

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