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Bullying: a resposta é breve, embora não menos complexa

Não basta a escola contratar especialistas: esforço é de toda a comunidade

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Cada nova vítima do processo de bullying, seja por violência extrema ou morte, evoca em nós sentimentos de impotência, fúria, indignação e tristeza. Infelizmente, o bullying afeta a vida diária dos adolescentes, com implicações e sequelas muitas vezes imensuráveis. A morte de Carlos Teixeira, 13 anos, conhecido como "Carlinhos", e reportada pelo programa Fantástico em 28 de abril, reabre feridas antigas e serve como um pedido de socorro de crianças e adolescentes angustiados, além de seus entes queridos.

Essa questão requer atenção imediata do governo e da sociedade. Embora medidas eficazes contra o bullying tenham sido implementadas no Brasil, muito precisa ser feito. Após incidentes de bullying, será que a contratação —muitas vezes apressada e inconsistente— de "especialistas em saúde mental" é suficiente para atender às necessidades dos adolescentes, suas famílias, escolas e comunidades?

Carlos Teixeira, 13 anos, morreu uma semana depois de dois colegas pularem sobre as costas dele dentro de uma escola estadual em Praia Grande, no litoral de São Paulo - Reprodução/TV Record

Embora as escolas possam tomar medidas para combater o bullying, isso requer, em última análise, um esforço de toda a comunidade. O município possui recursos suficientes para lidar com essa questão complexa? Os docentes recebem capacitação e formação permanente? A saúde mental e as condições de trabalho —fatores que influenciam no clima escolar— estão igualmente em condições dignas? No diagnóstico e monitoramento de incidentes de bullying nas escolas, é sabido que o contexto deve ser levado em consideração.

Logo, falar em "solução" parece complexo, sobretudo quando o tema é bullying. Contudo, esforços multifacetados são necessários para esse grave problema. De forma pragmática, certos aspectos devem ser considerados. A intervenção contra o bullying engloba medidas preventivas (antes que aconteça), respostas imediatas (no momento da agressão) e ações restaurativas (pós-agressão), envolvendo saberes e esforços de múltiplas disciplinas e setores.

No Brasil, a pesquisa Pense (2021) mostrou que 23% dos adolescentes admitiram terem sido vítimas e 12% autores de bullying. Os entrevistados citaram a aparência corporal, a aparência facial e a raça ou cor como as principais razões para serem alvos de bullying. Os dados citados exigem esforços colaborativos contínuos, respaldados por políticas públicas realmente comprometidas em saírem do papel, pois o manejo das situações de bullying exige qualificação profissional, tempo e recursos.

O que nos parece viável de ser implementado na atualidade? A resposta é breve, embora não menos complexa: prevenção. A prevenção pode ser a opção mais prática dentre as alternativas factíveis no contexto brasileiro, onde a educação é sucateada, terceirizada, demonizada.

Ao abordar a prevenção do bullying, podemos utilizar a analogia do monitoramento de um vulcão ativo, sempre prestes à erupção. Prevenção diz respeito a evitar que uma situação se agrave. Ao priorizar a fala, a escuta e reconhecer as subjetividades por meio de acolhimento e respeito, os adultos que atuam nas escolas podem identificar e manejar eventos que possam evoluir para situações sistemáticas de bullying.

Existem benefícios da aplicabilidade de métodos participativos, oportunizando a vítimas, agressores e demais envolvidos expressarem suas opiniões. Ao capacitar todas as partes envolvidas para, ativamente, delinearem programas antibullying, estimula-se o protagonismo e o senso de empatia e pertença, tão raro nos dias atuais. O objetivo não é sobrecarregar os alunos com informações ou considerá-los meros receptores; em vez disso, busca-se envolvê-los na experiência de aprendizado. Essas estratégias, incluindo rodas de conversa, círculos culturais e teatro, efetivamente podem tornar a violência latente visível, além de encorajar aqueles em sofrimento a se manifestarem.

O bullying, porém, se estende além dos limites da escola, como no trajeto até a instituição de ensino, em espaços comunitários e na internet. Abordar essa questão tão pervasiva e, infelizmente, naturalizada em nosso país, exige o envolvimento integral de setores como a saúde, a assistência social, as esferas educacionais e de segurança pública, dentre tantas outras, visando obter apoio abrangente que possa se traduzir em efetiva transformação social.

Pamela Lamarca Pigozi
Centro de Estudos e Pesquisa em Cidades Saudáveis (Cepedoc-SP)

Guilherme Welter Wendlt
Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Saúde (Unioeste-PR)

Rosilda Mendes
Departamento de Políticas Públicas e Saúde Coletiva (Unifesp-Santos)

Marco Akerman
Departamento de Política, Gestão e Saúde (FSP-USP)

TENDÊNCIAS / DEBATES
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