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Ataques a direitos deixam mulheres sem lugar seguro, diz leitora

Tema foi alvo de conversa entre leitores e a repórter especial da Folha Cláudia Collucci

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Americana (SP)

Recentes reveses nos direitos reprodutivos das mulheres foram tema de uma conversa entre leitores da Folha e a repórter especial Cláudia Collucci, especializada na cobertura de saúde.

A pauta teve grande repercussão nas últimas semanas, com questões como a tentativa de uma juíza de negar o aborto legal a uma criança de 11 anos grávida após estupro, em Santa Catarina; a revelação da atriz Klara Castanho, 21, de que doou bebê que teve após estupro, e a decisão da Suprema Corte dos EUA de reverter legislação quer permitia o aborto havia 49 anos.

A repórter especial Claudia Collucci participa de bate-papo com leitores da Folha - Reprodução

O aborto é permitido no Brasil em três casos: gravidez decorrente de estupro, risco à vida da mulher e anencefalia do feto —este último garantido por uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) em 2012. Fora essas situações, é crime previsto no Código Penal, de 1940.

Muitas mulheres enfrentam dificuldades para interromper a gravidez mesmo dentro dos casos previstos em lei. Em um outro retrocesso, uma recente cartilha do Ministério da Saúde ignora a legislação e diz que o aborto é crime em todos os casos.

"Nós, mulheres e crianças, estamos ficando sem lugar seguro. Não estamos seguras dentro de casa, que é onde ocorre a maioria dos abusos; nas escolas, que deveriam armar as crianças com informação sexual mas não podem fazer isso mais; no hospital, como no caso de Klara Castanho, que não estava segura na sala de cirurgia; nas delegacias, que relativizam o estupro", afirmou a leitora Fernanda Marques, 22, de Fortaleza de Minas (MG).

"Não podemos deixar um preceito pessoal, que é a religião, ser parâmetro para uma política que vai impactar a vida da população inteira. Isso é uma característica do fascismo", acrescentou.

Leitores da Folha participam de bate-papo com a repórter especial Claudia Collucci - Reprodução

"Esses casos revelam uma sociedade em colapso", opinou Filipo Studzinski Perotto, 43, pai de duas meninas e pesquisador no Instituto Nacional de Pesquisas Aeroespaciais da França, em Toulouse. "O avanço da extrema-direita e de sua pauta moralista, não apenas no Brasil, marcou o retorno de um obscurantismo religioso que impede que a sociedade avance nessa discussão [do aborto]."

"A sociedade brasileira está passando por retrocessos políticos muito grandes. Nossa Constituição criou mecanismos de proteção da sociedade civil que vêm sendo destruídos, contestados e manipulados politicamente para o interesse de determinados grupos e não para o interesse público", afirmou o advogado e servidor público aposentado José Walter da Mota Matos, 56, de Pouso Alegre (MG).

A servidora pública Ingrid Borba, 35, do Rio de Janeiro (RJ), chamou a atenção para o que chamou de "desserviço" nas últimas eleições no debate sobre a educação sexual nas escolas, com fake news como a da "mamadeira de piroca".

"Colocou-se para a sociedade quase como se fosse haver um sexo ao vivo e a cores para as crianças assistirem, quando a gente sabe que não é assim. Se você retira a educação sexual das escolas, você deixa essas crianças ainda mais vulneráveis a situações de violência sexual", afirmou ela.

Cláudia concordou. "Muitas vezes o abuso acontece dentro de casa. Que espaço essa criança vai encontrar para denunciar o padrasto, o avô, o primo? A gente precisa encontrar uma forma de alertar essas crianças, no momento correto, na abordagem correta, e a escola tem papel fundamental nisso."

Para Filipo, o vácuo da educação sexual deixado pela ausência do Estado, da família e da escola, está sendo ocupado pela internet. "A educação sexual das crianças é aleatória e com muita violência."

A psicanalista Rita Bonança, 66, de Campinas (SP), concordou. "Hoje a educação sexual dos adolescentes e das crianças não é uma formação erótico-amorosa, é uma erótico-pornográfica. Essa diferença é fundamental, porque o que nos salva da violência e nos protege da agressão é a estrutura amorosa."

Sobre a juíza que atuou em SC, Rita analisou: "Ela trouxe à tona, na condição de porta-voz, o fracasso de todas as instituições que a antecederam: da família, da religião, da educação, da medicina e das instituições políticas e judiciais".

Citando as acusações de assédio contra o então presidente da Caixa, Pedro Guimarães, a leitora Rosemery Mattos, 56, de Florianópolis (SC), ponderou que a direita no poder legitimou o discurso e a prática da violência.

"As pessoas estão com uma raiva interna. 'Eu sempre fui assim, mas agora eu posso ser assim. Sempre fui uma pessoa agressiva, violenta, com ódio, com raiva, mas agora eu posso, agora eu tenho condições, me permitiram ser assim'. Está muito difícil."

Conversa com Leitores é uma iniciativa da editoria de Interação que prevê papos periódicos entre os jornalistas da casa e os leitores sobre assuntos em evidência. Fique de olho no site e nas redes da Folha para participar dos próximos.

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