Poder de compra do brasileiro sobe na Argentina
Turismo no país vizinho fica mais vantajoso para quem tem real
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As refeições e as compras na Argentina vão ficar mais baratas para o turista brasileiro.
Um levantamento da operadora de turismo CVC apontou que o valor em dólar de alguns produtos do país vizinho caiu quase pela metade de 2018 para cá.
Com a crise econômica argentina, agravada na quarta (28) com o anúncio de moratória parcial da dívida daquele país, as vantagens para os visitantes brasileiros aumentam.
O peso argentino sofreu grande desvalorização frente ao dólar e ao real desde a divulgação do resultado das prévias para a presidência do país, realizadas em 11 de agosto (Alberto Fernández, com a ex-presidente Cristina Kirchner como vice, saiu vencedor).
Se no início de agosto a moeda americana estava cotada a 43,4 pesos no Banco de la Nación, logo após as preliminares chegou a valer 57 pesos.
Na quarta (4), passou para 53 pesos, com a injeção de mais moeda americana na economia argentina --uma tentativa de tranquilizar o mercado.
Efeito similar aconteceu com o real, que começou o último mês valendo 11,53 pesos, chegou a 14,86 depois das prévias e na quarta custava 13,30 pesos.
Empanadas, água, refrigerantes, cerveja e refeições na Argentina estão custando hoje menos do que custavam no último ano, mesmo quando o preço é convertido da moeda americana para a brasileira.
Ainda segundo dados da CVC, uma empanada, que em 2018 saía por R$ 6,89, hoje é encontrada por R$ 4,15. Uma refeição simples, para uma pessoa, passou de R$ 68,94 para R$ 43,70.
A inflação acumulada no país nos últimos 12 meses é de 55%. Mas, como o peso se desvaloriza mais rapidamente do que os preços sobem, turistas não devem sofrer.
A Argentina recebeu 715 mil visitantes brasileiros no primeiro semestre deste ano, alta de 21% sobre o mesmo período do ano passado.
Segundo o doutor em história econômica e professor do Insper Vinícius Müller, quem for viajar para a Argentina dentro de um mês ainda terá poder de compra alto. Depois disso, a moeda brasileira também pode se desvalorizar, anulando esse ganho.
"Se a Argentina tem capacidade menor de importar do Brasil, o mercado entende que isso vai prejudicar o nosso país e que a moeda brasileira será desvalorizada", afirma.
Já Sillas de Souza Cezar, professor de economia da Faap, pensa diferente. "Não vejo contágio da situação da Argentina no Brasil, temos condições de defender a nossa moeda de maneira muito melhor do que eles", diz.
Para Cezar, o efeito da crise argentina na nossa economia ficou restrito à alta da moeda americana, registrada em agosto. Na quarta, o dólar era encontrado em casas de câmbio por R$ 4,29, contra R$ 4 no começo de agosto.
Por isso, ele acredita que por muito tempo ainda os viajantes terão um real valorizado no país, não sendo necessário comprar dólares para levar na viagem.
A tendência é que o processo inflacionário continue, ainda mais se Alberto Fernández confirmar a vitória no pleito marcado para 27 de outubro.
A brasileira Gabriela Velazquez, 25, vive na Argentina há mais de cinco anos e diz que esse é o pior período pelo qual já passou.
"Neste ano, os aluguéis são reajustados entre 15 e 25% a cada seis meses, e é assim em restaurantes e lojas", diz.
"Dependendo de como forem os discursos de Kirchner e de Fernández, se eles ganharem, o mercado vai reagir de maneira negativa e agressiva", afirma Müller, do Insper.
Para o professor da Faap, porém, o auge da reação negativa do mercado com a possível eleição da chapa aconteceu nas prévias. E a relação entre os dois lados deve melhorar. "Fernández tem um discurso mais moderado do que Kirchner, e ela é vice, não é a dona da caneta", afirma.
Como não é a primeira vez que o país passa por crise desse tipo, Cezar acredita que o brasileiro não deve temer uma viagem ao país. "O argentino está resignado. A qualidade dos serviços no país não vai cair no curto prazo", afirma.
Mas o visitante deve prestar atenção ao meio de pagamento que vai utilizar. Reportagem da Folha publicada no último dia 29 mostra que é possível conseguir descontos de até 20% em restaurantes se a pessoa optar por usar dinheiro, em vez de cartão de crédito.
Muitos donos de estabelecimentos não aceitam mais cartões por medo de perder valor entre a data da compra e o dia em que recebem da operadora.
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