Café na Prensa

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Café na Prensa - David Lucena
David Lucena
Descrição de chapéu café Olimpíadas 2024

Café garantiu participação do Brasil nas Olimpíadas de 1932, em Los Angeles

Atletas viajaram em navio carregado com grãos que seriam vendidos no caminho para custear hospedagem nos EUA

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São Paulo

Em 1932, ano das Olimpíadas de Los Angeles, o mundo ainda vivia as consequências da crise causada pelo crash da Bolsa de Nova York em 1929. A dificuldade financeira não poupou nem a Confederação Brasileira de Desportos, que não tinha recursos para bancar a ida dos atletas aos Estados Unidos.

Com isso, o café, principal commodity do Brasil na época, foi o salvador da pátria. O navio Itaquicê foi cedido pelo governo Getúlio Vargas para levar os atletas. Mas o transporte não bastava. Era preciso verba para custear a estadia dos atletas em Los Angeles. Com isso, a saída foi levar 55 mil sacas de café no porão do navio. A ideia é que as sacas fossem vendidas durante as paradas da viagem para financiar a estadia da delegação.

A imagem em preto e branco mostra um grupo de homens observando o carregamento de sacos em um navio. Um guindaste está levantando uma carga de sacos, enquanto os homens, vestidos de maneira casual, estão em um cais próximo ao navio. Um homem está em cima do navio, e outros estão em pé, olhando para a carga. O navio é de grande porte e está atracado, com outros barcos visíveis ao fundo.
Embarque de café no porto de Santos em 1961 - Acervo UH/Folhapress

Mas nem o café escapava à crise econômica mundial –após o crash de 1929, o Brasil chegou a queimar milhões de sacas para controlar os preços. Por isso, nem todas as sacas foram vendidas.

Consequentemente, só uma parte da delegação pode ficar no país. Apenas 46 dos 84 atletas desembarcaram. Outros 13 viajaram por conta própria. Os que não puderam desembarcar seguiram com o navio até o porto de São Francisco, para aguardar o retorno ao Brasil após o fim dos Jogos. Um dos 59 membros dessa delegação foi a nadadora Maria Lenk.

Mas quem chamou a atenção mesmo foi o corredor Adalberto Cardoso, que foi ovacionado no estádio olímpico mesmo chegando em último lugar nos 10.000 metros. Ele foi um dos atletas que teve que seguir com o navio para São Francisco. Mas, sem se conformar, o corredor desembarcou e percorreu –de carona e até a pé– os cerca de 600 km que separam a cidade portuária de Los Angeles.

A saga, contada no livro "Brasileiros Olímpicos", de autoria de Lédio Carmona, Jorge Luiz Rodrigues e Tiago Petrik, foi rememorada nesta Folha em 2000, por ocasião das Olimpíadas de Sydney:

"Ele [Cardoso] chegou ao estádio somente dez minutos antes do início da prova. Aos poucos, o público ficou sabendo das desventuras do brasileiro e o aplaudiu mais que ao polonês Janusz Kusocinski, o vencedor dos 10.000 m."

O irônico é que, depois de todo o sacrifício para chegar aos EUA, a delegação brasileira não conquistou uma medalha sequer.

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