Ciclocosmo

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Ciclocosmo - Caio Guatelli
Caio Guatelli
Descrição de chapéu Rita Lee

Cidade careta? Obrigado, não

Parece que Ricardo Nunes e sua trupe nunca ouviram Rita Lee

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Repetindo Rita Lee, Me cansei de lero-lero. Dá licença, mas eu vou sair do sério…

Há quase um ano, o secretário municipal de mobilidade e trânsito de São Paulo, Ricardo Teixeira (União), disse que a cidade teria 1.000 Km de malha cicloviária até o fim da gestão Ricardo Nunes (MDB).

Não acredito em nada, até duvido da fé.

O por quê: Na conta da prefeitura, naquele dia, a malha cicloviária da capital paulista tinha 699,2 Km. Hoje, passados 329 dias, pasmem (!), a estrutura continua oficialmente no mesmo tamanho —isso na conta deles. Mas, na realidade, está muito menor.

Ciclista circula pela "ciclolinha" da avenida Rebouças - Folhapress

Se subtrair dessa conta a quantidade de ciclofaixas e ciclovias que nunca foram repintadas, e aquelas que sumiram debaixo de uma das novas capas de asfalto que o prefeito andou espalhando por aí, não deve ter sobrado nem a metade.

Imagina só; se considerada a promessa do secretário de Ricardo Nunes —a qual sequer cumpre a lei do Plano de Mobilidade, que exige 1.150 Km até 2024—, a gestão precisa construir 300 Km em 18 meses, sendo que, desde que assumiu em maio de 2021, Ricardo Nunes construiu só 4 Km. Enquanto isso, tem muito ciclista morrendo por aí.

Deus me perdoe por querer que Deus me livre e guarde de você.

A malha cicloviária só não está pior porque há muito ciclista que, diferente de alguns gestores, sabe o que é exercer a cidadania.

Graças aos coletivos de cicloativistas, essa gestão é cobrada diariamente, e denunciada quando não cumpre seu papel.

A última heresia da prefeitura veio à tona na terça-feira (9), quando mais uma vez a corajosa cicloativista e vereadora suplente Renata Falzoni (PSB) —que como Rita, tem o cabelo vermelho e nervos de aço— botou a boca no trombone: "Quanta falta de vergonha! A ciclofaixa da avenida Rebouças virou uma ciclolinha", disse nas redes sociais, se referindo ao estreitamento da estrutura para menos da metade das dimensões padrões.

Pois é assim que o prefeito faz. Bicicleta para quê? Ele quer asfalto, carro, gasolina, estacionamento para todo lado. Em sua gestão, parece que a mobilidade sustentável não serve, não cabe. Assim como as ciclovias, metas para melhorar o transporte público e reduzir a poluição atmosférica são reduzidas e até eliminadas.

Depois que a Folha e a TV Globo replicaram a denúncia de Falzoni e de outros corajosos cicloativistas, a prefeitura voltou na Rebouças com uma equipe para consertar o erro grotesco.

Para a garantia da integridade de quem escolhe seguir pedalando por ali, é indispensável que aquela ciclovia seja entregue com as medidas corretas por toda a sua extensão, seguindo o padrão de segurança criado pela própria CET (Companhia de Engenharia e Tráfego) muito antes de Nunes imaginar que comandaria esse órgão. Do contrário, se alguém morrer ou se ferir por causa desse erro, que as falhas da gestão sejam levadas ao julgamento.

Prefeito careta, sedentário assumido, que só sobe em bicicleta quando está no palanque, agora quer ganhar eleição à moda antiga, asfaltando pista. Como se o eleitor de hoje tivesse parado no tempo.

Como dizia Rita Lee:

Não seja condenado a votar em canastrão. Obrigado, não.

Em tempo: Na sexta-feira (12) às 20h, a "Bicicletada para Wallace" parte da praça do Ciclista com destino à avenida Marquês de São Vicente, altura do número 2928 (zona norte), onde o jovem foi atropelado e morto enquanto pedalava no dia 27 de abril. No destino, um grupo de cicloativistas planeja instalar uma "ghost bike".

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