Como em uma Olimpíada, toda medalha de ouro em um concurso de cerveja tem o mesmo peso no quadro geral, mas algumas deveriam valer mais do que outras.
Veja o Concurso Brasileiro de Cervejas, de Blumenau, por exemplo. No início de março, o evento —principal premiação do gênero no país— distribuiu 332 medalhas em 160 estilos diferentes. A campeã foi a Alem Bier, cerveja dentro de uma vinícola no Rio Grande do Sul que conquistou dez medalhas, 4 delas de ouro.
Porém, a medalha mais desejada da noite ficou com uma marca de Santos, no litoral de São Paulo. A Cervejaria Demonho conquistou o almejado ouro no estilo american india pale ale com sua Semente Maligna. Para isso, teve que derrotar 210 concorrentes que estavam na disputa no estilo —a própria Demonho inscreveu 13 IPAs.
Para efeito de comparação, a Alem Bier conquistou o ouro no estilo brett beer, no qual apenas 13 rótulos disputavam a premiação. Entre as wild beer, que também rendeu ouro para a Alem, eram igualmente 13 concorrentes.
A vitória na categoria era um objetivo traçado por Eduardo Interlichia, proprietário e mestre-cervejeiro da Demonho. "Eu sempre tive essa meta em mente. Na verdade, ano passado eu me determinei a ganhar ouro em todas as categorias de IPAs que eu produzo", revela Interlichia, que levou ainda outras três medalhas no CBC de Blumenau: pratas com a double IPA Grito de Ódio e com a juicy IPA O Cão Foi Quem Botou pra Nóis Beber, e ouro com a imperial stout Demonho Quer Chocolate.
No universo das cervejarias artesanais do Brasil, as IPAs são as queridinhas de cervejeiros iniciantes e consumidores. Com amargor acentuado e aroma proeminente, a india pale ale é normalmente a porta de entrada no mercado da esmagadora maioria das cervejarias.
No rótulo, a Semente Maligna é descrita como uma west coast india pale ale, com 7,4% de teor alcoólico e 65 IBU (escala de amargor que chega a 120). "A cerveja tem intensidade e equilíbrio. Amargor bem seco e redondo, com aroma e sabor de lúpulos bastante intensos. O perfil do Sabro e do Talus [lúpulos americanos] também contribuíram bastante para dar uma personalidade no aroma e no sabor", conta Interlichia.
A história da Demonho começou em 2014, ainda nas panelas caseiras. Em 2017, Interlichia começou a participar de concursos e só em fevereiro de 2018 entrou oficialmente no mercado. Hoje a produção ainda é cigana (não tem uma fábrica própria), com volume mensal entre 3.000 e 5.000 litros. Os rótulos da Demonho podem ser encontrados em vários bares do gênero em São Paulo, como o Empório Alto dos Pinheiros, o Beer Rock Club (no Ipiranga) ou na franquias da Beer4U de Santana ou da Vila Leopoldina.
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