Cozinha Bruta

Comida de verdade, receitas e papo sobre gastronomia com humor (bom e mau)

Traídos pela mortadela

Políticos de outros estados tentam fingir que são paulistas para ganhar votos, mas pagam de turistas otários

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São Paulo

A vida não está fácil para os políticos turistas que decidiram se candidatar por São Paulo nas eleições de outubro.

O revés mais recente veio para Tarcísio de Freitas (Republicanos), aposta de Bolsonaro para o governo do estado. Mais carioca do que um biscoito Globo com mate gelado, Tarcísio admitiu que não mora no imóvel de São José dos Campos que registrou como seu domicílio.

Ora, ora, que surpresa. Daqui a pouco, é capaz de o Tarcisão aparecer comendo farofa de içá, feita com bunda de formiga saúva, para exibir seus vínculos com o Vale do Paraíba paulista.

Sanduíche de mortadela do Mercado Municipal de São Paulo
Sanduíche de mortadela do Mercado Municipal de São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Antes dele, o ex-juiz e ex-pica das galáxias Sergio Moro teve de pegar o caminho da roça, meio que literalmente, e desistir dos planos de se eleger por São Paulo.

Sergio e a mulher Rosangela buscaram encenar uma vida de casal paulistano. Ela caprichou em um post de Instagram com um carrossel de fotos no Mercadão. A dupla paranaense foi traída, veja só, pelo sanduíche de mortadela.

A ação que derrubou a candidatura de Moro, impetrada pelo deputado Alexandre Padilha (PT-SP), usou a mortadela do mercado como evidência de que os Moro eram apenas turistas em São Paulo. Tá corretíssimo.

Quem mora em São Paulo sabe que o monstro de mortadela do Mercadão não vale nosso dinheiro suado. O sanduba se destina a visitantes deslumbrados com a prestidigitação dos vendedores que lhes empurram frutas superfaturadas e quitutes afins.

Outro que tenta se dar bem nesta terra é Mário "Ratanabá" Frias, carioca feito um carro estacionado sobre a calçada.

Será que o Mário também vai atacar a mortadela? Ou será que a mortadela, para o Mário, simboliza a ameaça comunista?

Será que o Mário vai tirar selfies na ponte estaiada e no beco do Batman? Será que ele vai reivindicar um prato com o seu nome no Paris 6 da rua Haddock Lobo?

Será que o Mário vai tomar um chopinho e comer umas frituras com couvert artístico no Bar Brahma? Será que vai olhar emocionado para a placa da esquina das avenidas Ipiranga e São João, no coração de Sampa?

Não, pois Sampa não existe em SP. Com o devido respeito ao Caetano, Sampa só existe na cabeça dos forasteiros. Falou Sampa, a gente sabe que não mora aqui.

O ex-ministro Tarcísio vai alegar xenofobia se tentarem melar sua candidatura paulista. Papo furado.

São Paulo elegeu o pernambucano Lula, a paraibana Erundina, o cearense Tiririca, o mato-grossense Jânio Quadros, os cariocas FHC, Celso Pitta e Alexandre Frota. Todos, em contraste com Tarcísio, Moro e Frias, residentes em São Paulo.

Políticos de outros estados vêm a São Paulo porque temos a maior população e a maior bancada na Câmara dos Deputados. Um candidato campeão de votos arrasta uma corriola de correligionários para Brasília.

Eles contam com a nossa burrice, e nós não os temos decepcionado –vide a eleição por São Paulo de Dudu "03" Bolsonaro, mais carioca dos que as milícias de Rio das Pedras.

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