Cozinha Bruta

Comida de verdade, receitas e papo sobre gastronomia com humor (bom e mau)

Descrição de chapéu alimentação

O chocolate que cura burros e charlatanices afins

Comidas pretensamente funcionais atendem quem ignora a complexidade da alimentação e quer atalhos mágicos

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São Paulo

Existem pessoas tapadas o bastante para acreditar que um chocolate superfaturado vai torná-las inteligentes. Interessante, não? É comprar um atestado de parvoíce e pendurá-lo na parede da sala como se fosse um diploma Nobel.

O tal do bombom se define como nootrópico –palavra que não consta no dicionário e que eu vim a aprender nesta semana. Nootrópicos são drogas, fitoterápicos e alimentos que pretensamente melhoram o desempenho intelectual.

Os fabricantes do doce em questão capricham na imodéstia: "Criamos o primeiro bombom do Brasil com ativos capazes de aumentar a sua capacidade cognitiva, metabolismo, energia e foco". Uia.

Chocolate derretido
Chocolate meramente ilustrativo - New Africa/Adobe stock

Para tanto, é só misturar dois tipos de cogumelos e mirtilos –"eles protegem seu cérebro do estresse oxidativo"–, cobri-los com chocolate belga 70% cacau e vender sete bombons por módicos R$ 90.

A corrida pelas chamadas "smart drugs" (literalmente, "drogas inteligentes") começou com a demanda dos gênios do Vale do Silício.

No afã de superar o desempenho dos colegas de trabalho, ganhando mais dinheiro e poder, eles foram atrás de substâncias que os deixassem espertos e despertos –dormir é para perdedores.

Nunca falha: onde há um otário em busca de soluções fantásticas, aparecem bandos de charlatães para vendê-las.

Isso se manifesta na comida com a oferta de alimentos "funcionais" ou "super alimentos". Prodígios que desempenham uma função específica –sempre benigna e no limiar de um milagre– no corpo do indivíduo que os ingere.

O autoengano vai da tradicional "banana previne cãibras", que quase me fez vomitar no treino de natação, ao chocolate fabricante de Einsteins em série.

Tem gente que crê no vinho tinto como proteção contra todos os males cardíacos. E não ouve o fígado pedindo arrego depois da enésima garrafa.

Tem gente que aposta no molho de tomate para espantar tumores na próstata. Não interessa se, na família, três gerações tiveram câncer prostático.

Bom, tem gente que acredita em entidades sobrenaturais como o brigadeiro funcional e a coxinha fit. Assim fica fácil ganhar dinheiro.

A crença em nutrientes superpoderosos é pensamento mágico que ignora a complexidade da alimentação. Que desdenha da importância da genética na saúde. Que despreza os efeitos de atividade física, sono, tabagismo, alcoolismo, todo o estilo de vida do bonitão que investe tudo no gingko biloba.

Basta um rolê no mercado para achar bebidas e alimentos que prometem curar ressaca, matar a TPM, turbinar o sistema imune e até proteger da calvície.

A legislação é cheia de brechas que a indústria aproveita para estampar alegações absurdas nas embalagens.

Órgãos como o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) atormentam os espertalhões e ganham algumas batalhas. É algo como tentar recolher o lixo do oceano com uma rede de limpar piscina.

Os trouxas merecem ser enganados? Não sei, quem sou eu para julgar?

Ocorre que o estado existe, entre outras coisas, para proteger os idiotas de si mesmos.

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