Pois é, chegou a época do Papai Noel, do panetone, da uva-passa, do amigo secreto e das três ondinhas, que também é a época do trânsito parado e dos engarrafamentos colossais nas estradas.
Mas será que precisa ser necessariamente assim? Quatro livros recém-publicados mostram que talvez não.
As obras conversam com crianças sobre temas como mobilidade, urbanismo e outras relações entre pessoas e cidades —com menos trânsito, carros e buzinas e mais bicicletas, ônibus, passeios a pé e descobertas fora do ar-condicionado dos automóveis.
Abaixo, saiba mais sobre "Vou a Pé", "Se Essa Rua Fosse Minha", "Um Dia Feliz" e "Daqui Eu Vejo: Pedalando na Cidade". Quem sabe esses livros não inspiram alguns dos famosos pedidos de Réveillon.
Vou a Pé
Há grandes diferenças entre ir à escola caminhando e de carro. Neste livro, a menina Sossô segura a mão do leitor e vai narrando as descobertas que faz na caminhada —na qual surgem bolinhas que fazem nascer árvores, escadas misteriosas, bundas que atravessam ruas e canteiros cheio de flores. Com visual que brinca com o lúdico da infância, mas que não abandona a linguagem do urbanismo e das cartografias, "Vou a Pé" ajuda o leitor a repensar o trajeto para o colégio como uma experiência que faz parte do aprendizado e que ajuda a criar memórias e conexões muito diferentes das que nascem dentro de um automóvel.
Se Essa Rua Fosse Minha
Afinal, quem é o dono da rua? Neste livro, a pergunta do menino Tom é o pontapé para um debate sobre a cidade que desejamos. Será mesmo devemos priorizar os carros? Na história, um cano estoura perto da casa do protagonista e faz com que o trânsito seja bloqueado. A partir daí, as crianças tomam o asfalto com suas brincadeiras —o que faz os adultos relembrarem as suas próprias infâncias, tempo em que os bairros eram campinhos de futebol e arenas de bolinha de gude. É então que o pai de Tom decide procurar o prefeito e pedir que a rua seja fechada definitivamente, substituindo os carros pela criatividade e pela convivência dos vizinhos.
Um Dia Feliz
A obra tem o mérito dos bons livros —em vez de apostar no didatismo, apresenta inúmeras leituras. Podemos, por exemplo, mergulhar na narrativa a partir da relação entre a personagem principal e sua avó. Mas também é possível enveredar pelas dinâmicas sociais, pelas questões raciais, pela religião ou até pelo contato entre a infância e as cidades. Isso porque Ayana e sua avó adoram passear a pé, de ônibus e de metrô. Nesse trajeto, vão a velórios, encontram consertadores de guarda-chuvas, sobem morros, veem mulheres debulhando amendoins, entram em becos e se apropriam de uma cidade repleta de cheiros, sons e imagens que formam o Brasil.
Daqui Eu Vejo: Pedalando na Cidade
Quando o assunto é literatura, na maior parte das vezes pouco importam os bastidores de como os livros foram escritos —o que costuma valer mesmo é o texto, a imagem e as relações e faíscas que eles criam. Mas aqui estamos diante de um caso diferente. A obra nasceu de um projeto da escola municipal Armando de Arruda Pereira, que fica na praça da República, no centro de São Paulo. Batizada de Motoca na Praça, a iniciativa leva alunos para pedalar pela região, onde muita gente evita caminhar. No livro, a protagonista faz pela primeira vez o passeio com os colegas e começa a descobrir as complexidades do centro paulistano e a investigar o lugar da criança dentro dessa megalópole.
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