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Falta estratégia de redes sociais para Bolsonaro liderar oposição, diz analista política

Ex-presidente sumiu das redes sociais desde a derrota para Lula e perde capital político

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São Paulo

Quem segue acompanhando as redes sociais do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) após sua derrota para Lula (PT) no segundo turno das eleições presidenciais de 2022 notou a diferença: Bolsonaro, que costumava fazer lives todas as quintas e publicações diárias saudando apoiadores, sumiu das mídias sociais.

Na avaliação da analista política e pesquisadora do grupo Comunicação e Política na Sociedade do Espetáculo, da Cásper Líbero, Deysi Cioccari, faltou ao ex-presidente a percepção de que ele ainda tinha poder de articulação política. "Ele perdeu a eleição e não entendeu que, em política, nem sempre é preciso um cargo eletivo para ter poder de comando, poder de fala. Ele não entendeu que podia seguir guiando essa direita que votou nele", diz.

fotografia colorida é retrato tirado de longe de Bolsonaro, visto caminhando dentro do Palácio do Alvorada, cujas paredes são de vidro
O ex-presidente Bolsonaro caminha no Palácio da Alvorada, onde se isolou após a derrota nas eleições - Gabriela Biló - 31.out.2022/Folhapress

O custo do sumiço pode ser percebido nos números. O nome de Jair Bolsonaro rendeu 3,9 milhões de menções em publicações nas redes sociais (Instagram, Facebook e Twitter) nos primeiros cem dias do governo Lula, de acordo com levantamento feito pela Buzzmonitor a pedido da Folha. No mesmo período, o petista registrou 7,3 milhões de menções.

Destas, Lula tem 59,9% de menções positivas e 39% de negativas. Já Bolsonaro, 36,2% de positivas e 56,2% de negativas.

Os episódios que geraram o maior número de menções ao ex-presidente foram a divulgação de gastos no cartão corporativo, a minuta golpista encontrada na casa de Anderson Torres, o pedido de revogação de visto de Bolsonaro e a posse de Lula, acontecimentos que também figuram entre os dias de maior menção ao petista.

"Na ciência política dizemos que para sobreviver no comando, no poder, é preciso ter sorte e inteligência. Com base na carreira política do Bolsonaro, vemos que ele sempre teve muita sorte, mas falta inteligência para aproveitar esse poder de influência", diz Cioccari.

Houve uma queda significativa em menções se compararmos aos cem últimos dias do governo Bolsonaro, período que compreende também o pleito eleitoral no primeiro e segundo turno (22 de setembro a 31 de dezembro). Na ocasião, foram 12 milhões de menções ao então presidente e 13,4 milhões a Lula, um debate mais polarizado.

"Em 2018, uma das grandes características [da atuação de Bolsonaro nas redes] é que ele, a equipe dele e Carlos Bolsonaro, souberam entender as redes sociais como poucos. Agora, a presença dele nas redes é muito mais para dizer ‘olha, eu ainda estou aqui!’ do que efetivamente estratégica ou uma tentativa de se conectar com o eleitor", explica a analista política.

A avaliação do filho mais velho de Bolsonaro, Flávio, é semelhante. Em entrevista à Folha em março deste ano, o senador (PL-RJ) comentou que, durante a campanha para o pleito de 2022, a "comunicação foi insuficiente" e que a disputa de narrativas fez com que seu pai saísse derrotado do segundo turno.

Bolsonaro foi bastante ativo nas redes sociais durante seu mandato. Com transmissões ao vivo todas às quintas-feiras, canal no Telegram e tuítes polêmicos, como "O que é golden shower?" e "Grande Dia!", o seu governo foi marcado por discussões sobre o decoro parlamentar do cargo.

Durante a corrida eleitoral, entretanto, a campanha bolsonarista precisou enfrentar o chamado "janonismo cultural", estratégia do deputado federal André Janones (Avante-MG) que incluía o compartilhamento de conteúdos distorcidos e até falsos sob justificativa de que era "preciso usar as armas do bolsonarismo para derrotá-lo e, só depois, seria possível o debate de propostas". Um dos principais trunfos da estratégia foi dissociar o Auxílio Brasil de R$ 600 do governo Bolsonaro.

Com cortes de debates eleitorais, motociatas e imagens de apoiadores em aeroportos, a campanha de Bolsonaro apostou na tentativa de aproximação do eleitor.

"Ele acaba partindo para o tosco", diz Cioccari. "Como por exemplo uma camiseta de time de futebol por cima de uma roupa social durante o período eleitoral, dos filhos aparecendo nas lives dele. Isso não mudou durante a Presidência da República, tanto é que a gente falou muito a respeito da liturgia do cargo, porque o Bolsonaro não soube fazer isso e não houve essa mudança nas redes sociais dele. Então, o deputado federal que foi eleito presidente é a mesma pessoa. Não teve mudança de postura nenhuma, continua aquele conteúdo verborrágico agressivo. Ele mudou depois que ele saiu, ele sentiu o baque da derrota e adotou uma postura um pouco mais conservadora".

Desde a derrota, Jair Bolsonaro foi para os Estados Unidos, não participou da cerimônia de posse de Lula e só retornou ao Brasil em abril, quando prestou depoimento à Polícia Federal sobre as joias recebidas da Arábia Saudita. Nas redes, entretanto, o ex-presidente segue tuitando feitos de seu governo, o que causou estranhamento.

"Passa no RH".

"Algo mais?"

Desde o fim do segundo turno (com 45h de silêncio de Bolsonaro), apoiadores do ex-presidente usam as redes para dizer que sentem falta das publicações diárias nas redes sociais.

Tem até direito a fancam?

"Saudade dos homens".

O IPD (Índice de Popularidade Digital), calculado diariamente pela empresa de pesquisa e consultoria Quaest, indica que a popularidade digital de Jair Bolsonaro segue em queda após seu retorno ao Brasil, o que mostra sua dificuldade em se manter em evidência na oposição.

Atualmente, ele e o presidente Lula têm uma diferença de 17 pontos no índice, que vai de 0 a 100. O petista marcou 57 pontos no IPD, e o ex-presidente, 40.

O presidente Lula teve uma queda na popularidade digital após falas sobre o ataque planejado pelo PCC contra o ex-juiz Sergio Moro. Lula recuperou parte de sua popularidade na internet em meio à comemoração do marco de cem dias do governo.

No Twitter, durante os primeiros cem dias do governo Lula, temas como direitos humanos, saúde e combate à fome foram destacados. De acordo com análise feita pela Folha, 42% das publicações feitas pelo perfil do presidente no Twitter desde a posse tratam desse grupo temático, contra apenas 17% das postagens do antecessor no mesmo período —Jair Bolsonaro (PL) assumiu o cargo em janeiro de 2019.

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