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Rede social permite vaquinhas para financiar ataques em escolas

Criada por brasileiros, plataforma tem exaltações a Hitler e a autores de massacres

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São Paulo

Em uma rede social lançada no dia 12 de abril, incentivadores de massacres em escolas exaltam Hitler, debocham da polícia e têm aberto vaquinhas para financiar ataques instituições de ensino. O #Hashtag acompanhou as atividades na plataforma ao longo de seis dias.

Na sua página de apresentação, a rede afirma ser "comprometida com a liberdade de expressão" e que, por isso, não derruba perfis por mandado judicial. Também diz que a plataforma valoriza a diversidade e promove um "ambiente inclusivo". Nos termos de uso, a rede diz que não são permitidos conteúdos que promovam discurso de ódio ou ameaças.

Na rede, entretanto, usuários publicam imagens com símbolos nazistas, debocham da polícia e culpam o bullying pelos ataques recentes em escolas. Na rede, a Folha encontrou três campanhas abertas para financiamento de ataques com fotos de escolas na descrição. Uma delas já obteve R$ 160.

Vaquinha aberta para financiamento de ataque em escola, como foto de sala de aula
Vaquinha aberta para financiamento de ataque em escola - Reprodução

A plataforma foi desenvolvida com um script do WoWonder, site que vende códigos de programação a partir de US$ 120 (R$ 605 reais) e permite a fácil montagem de uma rede social em moldes parecidos com os do Facebook e do Twitter.

A maioria dos usuários usa imagens de desenhos animados, filmes ou avatares oferecidos pela própria rede como foto de perfil. Alguns tem no nome a referência a "taucci", sobrenome do garoto que matou a tiros alunos e funcionários na escola Raul Brasil, em Suzano, em 2019. Outros têm fotos usando máscaras de caveira, símbolo de supremacistas americanos usado com frequência em ataques a escolas.

Na semana passada, os tópicos mais comentados, embora tivessem poucas postagens, faziam referência a Hitler, Jair Bolsonaro e a hashtags ligadas a discussões sobre crimes reais, que foram desencadeadas em outras redes no ano passado por perfis que faziam apologia a atentados.

Página de entrada em rede social mostra lema nazista "Hail Hitler" como assunto do momento
Página de entrada em rede social mostra lema nazista "Hail Hitler" como assunto do momento - Reprodução

Um moderador da rede, que se identifica como Fernando Santos e diz ter 14 anos, afirma em uma postagem que a plataforma não aceitará "interferência de nenhum órgão". Ele próprio aparece como doador em uma vaquinha de financiamento para o ataque em uma escola.

O perfil oficial da Volo diz que o site está sendo monitorado pela polícia e pela Justiça e pede para que os usuários usem VPN (rede de conexão privada) para navegar de forma anônima.

A rede é monitorada por um grupo coordenado pela jornalista Letícia Oliveira, que acompanha células neofascistas na internet desde 2011 e participou de um relatório entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a transição de governo com ações para prevenir atentados no ambiente escolar.

Uma das pesquisadoras do grupo, Tatiana Azevedo, afirma que os usuários da rede que incentivam os atentados fazem parte das comunidades de crimes reais que se comunicavam pelo Twitter antes de o governo passar a pressionar a big tech para retirar do ar conteúdos que exaltam os ataques a escolas. "Alguns usuários usam o mesmo nome de perfil e foto que usavam no Twitter", diz.

A pesquisadora acredita que os incentivadores de violência sejam adolescentes, já que a maioria das publicações faz menções a escolas. "Não conseguimos impedir que eles se comuniquem, o que me assusta nessa rede é a possibilidade de financiamento", diz Azevedo.

Questionado via email pela Folha, o diretor de postagens da plataforma, que se identifica como Rodrigues Pacco, diz que "embora os termos de uso não estabeleçam coisas como ameaças ou violência, não é responsabilidade da rede tomar qualquer atitude em relação a esse tipo de conteúdo. Como uma plataforma focada na liberdade de expressão, cabe aos usuários o uso responsável e adequado da plataforma."

Pacco diz que a rede começou a ser planejada no dia 26 de outubro do ano passado, tem oito funcionários e mais de 7 mil usuários registrados.

Sobre o moderador que doou dinheiro para o financiamento de um ataque, Pacco afirma que a doação foi um "teste" e que o dinheiro não pode ser sacado pelo usuário que abriu a vaquinha.

Questionado sobre a rede, o Ministério da Justiça diz que o monitoramento das polícias é sigiloso para melhor resultado das investigações.


A plataforma foi derrubada na noite de segunda-feira (24) após uma operação conjunta entre o Ministério Público da Paraíba, da Polícia Civil do estado e da Polícia Federal, mas voltou ao ar no dia seguinte.

Nesta quarta (26), a plataforma anunciou que atualizou seus termos de uso e não irá mais tolerar publicações ou vaquinhas que incentivem ataques a escolas.

Mensagem em site mostra que há problema nos servidores
Mensagem em site afirma que há problema nos servidores internos - Reprodução

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