Descrição de chapéu ataque a escola

Relatório aponta que boatos podem ter incentivado ataques a escolas

Pesquisadoras mapearam interações de perfis com discurso supremacista na rede

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São Paulo

Um relatório feito por um grupo que monitora o comportamento de perfis extremistas nas redes sociais aponta que uma onda de avisos no Twitter iniciada em 9 de abril sobre supostos ataques em escolas foi organizada.

O texto indica que essa ação pode ter incentivado a difusão dos boatos de ameaças para incentivar atentados contra unidades de ensino.

O grupo também diz que comunidades dedicadas à discussão de crimes reais, as "true crime communities", foram tomadas desde o ano passado por perfis que faziam apologia de atentados.

Dois policiais caminham em frente ao muro da escola; ao fundo, está o acesso à unidade escolar
Policiais em frente à escola estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo, onde adolescente matou professora no fim de março deste ano - Rubens Cavallari - 27.mar.23/Folhapress

A diferença entre a difusão de discurso supremacista e os boatos, para os pesquisadores, é que a organização necessária para difundir os boatos superaria a capacidade dos 225 perfis monitorados que estavam na comunidade de crimes reais. A Folha teve acesso ao relatório com exclusividade.

Segundo Letícia Oliveira, jornalista que monitora grupos neofascistas no Brasil desde 2011, o número de ameaças explodiu na noite de 9 de abril, e partiu de uma suposta ameaça de ataque nas escolas Rio Grande e Antônio Houaiss, no Rio de Janeiro.

Ela começou a receber publicações e fotos de vários locais do Brasil, mas que repetiam as imagens, algumas com os nomes das escolas cariocas na foto. As imagens do Rio chegaram a ser usadas em uma suposta ameaça em escolas de Jaguarão, no Rio Grande do Sul. "Essas ameaças são completamente diferentes. Foi para criar pânico."

Os boatos também foram direcionados a universidades, com fotos de supostas ameaças em um banheiro da Unip (Universidade Paulista) atribuídas à PUC, em São Paulo, e à Universidade Federal do Ceará. A onda começou após os ataques em uma creche em Blumenau (SC), que deixou quatro mortos.

A difusão de supostas ameaças registradas pelos pesquisadores antecedeu ataques em Manaus (10 de abril), Goiás (11 de abril) e , com três pessoas feridas em cada um, e no Ceará (12 de abril), com duas crianças feridas.

Ainda segundo Letícia, a comunidade que celebra ataques é menor e mais coesa. "Mesmo quando um perfil cai e volta, eles se reconhecem."

A jornalista é coautora de um relatório entregue ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda durante a transição para enfrentar a violência nas escolas. Segundo o texto, os ataques violentos às escolas estão relacionados a um contexto de escalada do ultraconservadorismo e do extremismo de direita no país e a falta de controle e criminalização desses discursos e práticas.

O monitoramento de perfis começou a ser feito em 25 de novembro do ano passado, após ataques em duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, que deixaram 4 mortos e 13 feridos.

O grupo que ela integra começou a monitorar 225 perfis que faziam apologia de ataques dentro das comunidades de crimes reais.

O grupo usava hashtags da comunidade de "true crime" para elogiar os autores de atentados. Isso diferenciava esse subgrupo, que chegou a criticar o que considerava extremo.

Letícia diz que o conteúdo ligado a atentados e assassinos em série tem apelo forte entre adolescentes, e que o subgrupo apologista cultuava os autores de ataques como ídolos.

O monitoramento foi feito até 13 de abril. Até a data, 56 contas haviam sido suspensas, enquanto 40 estavam ativas e privadas (apenas seguidores autorizados podem ver seu conteúdo). Já 132 estavam ativas e públicas, disseminando o conteúdo no Twitter.

Procurada, a plataforma respondeu com um emoji de fezes.

Após o monitoramento, o grupo viu caírem as interações entre a subcomunidade extremista. Os pesquisadores acham que esse pode ser um fenômeno de migração dos usuários, porque mesmo contas que haviam sido removidas e voltaram ao Twitter não têm se manifestado com a mesma frequência. As publicações de boatos também diminuíram.

Na manhã de terça (18), o ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que o Brasil enfrenta uma epidemia de ataques, e disse que as denúncias feitas à pasta sobre o tema caíram de 1.700 em único dia para uma média de 170 casos diários.

Dino apresentou um balanço do combate à violência na escola, que, segundo ele, incluiu a derrubada de 756 perfis em redes sociais que reproduziam discursos de ódio.


O que fazer em caso de ameaça de ataque a escolas

  • Especialistas afirmam que ameaças não devem ser ignoradas. Por isso, é importante que os pais e escolas procurem a Polícia Civil e canais criados pelo Ministério da Justiça para denunciar qualquer tipo de ameaça

  • Não compartilhe mensagens, vídeos, fotos ou áudios com as ameaças

  • As autoridades precisam ser notificadas sobre qualquer tipo de ameaça, pois quem as produz ou compartilha também pode responder criminalmente

  • Pais, alunos e escolas devem manter diálogo estreito sobre alertas, receios e medidas adotadas. A transparência das ações é importante para aumentar a sensação de segurança

  • Fique atento e informe ao colégio qualquer mudança no comportamento dos alunos

Como denunciar

  • Como parte da Operação Escola Segura, o Ministério da Justiça lançou um canal no site para que sejam denunciados sites, blogs e publicações nas redes sociais. O site para denúncia é o www.mj.gov.br/escolasegura
  • Em São Paulo, no caso de ameaça, é possível ligar para o 181, canal da polícia que permite que qualquer pessoa forneça à polícia informações sobre delitos e formas de violência, com garantia de anonimato
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