Aos seis anos Beatriz Scher descobriu que sua rotina mudaria. Diagnosticada com diabetes tipo 1, doença autoimune que atinge cerca de 5% dos 20 milhões de portadores de diabetes no Brasil, ela se lembra de sentir medo ao descobrir que passaria a lidar diariamente com agulhas. "Entendi que era algo sério quando minha mãe disse que não tinha a opção de não aplicar insulina, mas que eu poderia escolher entre fazer isso em um consultório ou no seu colo", conta Beatriz, que escolheu o aconchego da mãe.
Ao contrário da diabetes tipo 2, no tipo 1 o corpo não produz insulina, pois o sistema imunológico ataca as células que têm essa função. A glicose, que deveria ser transformada em energia pelo corpo, não é levada para dentro das células, permanecendo na corrente sanguínea. Por isso no tipo 1, a prática de exercícios físicos e uma boa alimentação não são suficientes para amenizar a doença e a aplicação de insulina se torna indispensável a cada refeição. As doses devem ser calculadas com base na quantidade de carboidratos ingeridos. "Costumo dizer que o mais chato da diabetes é que nos rouba tempo", diz Beatriz.
Entre as opções mais confortáveis de tratamento, diz, está a bomba de insulina, um aparelho que fica conectado ao corpo, e mede a glicemia, calcula a quantidade de insulina necessária e despeja a dose de hormônio em seu corpo de forma automática.
No entanto, de acordo com a endocrinologista Dhiãnah Santini, diretora de educação em campanhas da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), um dos problemas no Brasil é justamente o acesso restrito aos melhores tratamentos, como a bomba, que pode custar dezenas de milhares de reais. "As pessoas nem sabem que podem conseguir por via judicial", diz.
Foi um desconhecido que ensinou Beatriz, que tinha uma acesso a uma bomba de insulina comprada por sua família, o passo a passo para adquiri-la sem custos por via judicial. Logo a jovem decidiu compartilhar essa informação nas redes sociais. Desde então, seu objetivo é difundir o acesso ao item, com valor inacessível para muitos portadores da doença.
Agora aos 30 anos, a comunicadora gerencia perfis no Instagram, no Youtube no TikTok sob o nome @biabetica, nos quais tem mais de 55 mil, 26 mil e 15 mil seguidores. Alguns de seus vídeos sobre o tema têm mais de 1 milhão de visualizações.
Como resultado de seu trabalho na internet, Beatriz conta que se descobriu falando sobre saúde e decidiu dar um novo passo em sua carreira cursando biomedicina. Atualmente ela estagia na Sociedade Brasileira de Diabetes. "Gosto de entender o que está acontecendo e ensinar aos outros."
Ela também lançou uma loja com o mesmo nome de suas redes para vender produtos voltados para pessoas com diabetes, como adesivos estampados para as bombas e estojos térmicos para as injeções. "É desanimador fazer o tratamento, especialmente quando se é criança. A ideia é que a personalização dos produtos incentive a continuar", diz.
Para Dhiãnah, é preciso que as áreas da saúde promovam campanhas de conscientização sobre os tipos de diabetes, com foco na difusão em canais de televisão e rádio, que têm maior amplitude de alcance. A desinformação sobre o tema é muito grande, diz. Entre os sintomas da diabetes tipo 1 estão a fadiga, perda de peso rápida e excessiva, sentir muita sede, fazer muito xixi. "Às vezes aparecem formigas na privada", diz.
Beatriz concorda: em seus perfis nas redes sociais ela responde a perguntas consideradas básicas feitas por portadores de diabetes, como a forma de transportar a insulina —que deve ser mantida até 30ºC—, ou quantas vezes por dia tem que medir a glicemia. "É muita informação, e às vezes a pessoa sai do consultório atordoado. Quando vai buscar na internet, estou lá, tento dividir as informações", diz.
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