Maternar

No blog, as mães Havolene Valinhos e Tatiana Cavalcanti abordam as descobertas do início da maternidade

Maternar - Havolene Valinhos e Tatiana Cavalcanti
Havolene Valinhos e Tatiana Cavalcanti
Descrição de chapéu Todas maternidade

Até logo!

Encerro meu ciclo à frente do blog e passo o bastão para as jornalistas Havolene Valinhos e Tatiana Cavalcanti

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Quando recebi o convite para assumir esse blog, em 2017, estava prestes a retornar da licença-maternidade da minha primeira filha, que hoje tem sete anos.

Sentia dores no coração quando pensava em deixá-la em casa e voltar para o trabalho meses depois de uma convivência tão intensa. Por sete dias chorei no trajeto, mas voltar foi libertador.

Close numa mão de bebê que segura um indicador de adulto
Gravidez e puerpério na pandemia: perdi até a noção do tempo - Arquivo Pessoal

Sou audiodescritora e produtora na TV Folha e essa última função pede contato diário com os colegas de Redação. Voltar à ativa fez bem para minha cabeça, ainda mais com um novo desafio de escrever sobre maternidade.

Aos três anos, Helena começou a pedir um irmãozinho para nós. Nosso plano sempre foi ter três filhos. Nas orações, ela dizia. "Papai do céu, me dá dois irmãozinhos?". E Ele a atendeu. Engravidei de dois meninos.

Com um mês de gestação, veio a pandemia da Covid-19 e com ela, o luto pela morte do meu pai (que não tinha vivido até então). Deixei de orar e me fortalecer naquilo que me mantém em pé. E caí.

Consegui "segurar" os gêmeos até 38 semanas e quatro dias. Era uma pressão dentro de mim para que eles não nascessem prematuros e não ficassem internados na UTI durante a pandemia. E outra de fora, da equipe, que acompanhava a gestação e me lembrava o risco duplo por causa da gemelaridade e da diabetes gestacional. As mensagens da equipe não chegavam como cuidado, soavam como ameaça. Quando você não está bem, tudo te faz mal.

Em um exame, a pressão tinha subido pela primeira vez na vida e o médico decidiu pela internação para começar indução. A doula, que era acupunturista, apareceu de madrugada e estimulou vários pontos para as contrações se tornarem regulares.

Fomos para o centro cirúrgico. Minhas plaquetas estavam caindo vertiginosamente e a equipe disse que os gêmeos teriam que nascer naquele momento. Até pensei que seria uma cesárea, mas não.

Como não queria ocitocina sintética na veia, o médico propôs estourar a bolsa e topei de imediato. Senti muita dor, as contrações vieram de uma vez. Eu estava com muito medo e me lembro deles dizendo que estavam comigo e que daria certo.

Comecei a sentir vontade de fazer força (eu já conhecia bem aquele puxo), mas meu corpo estava menos tranquilo que da primeira vez, há três anos.

No centro cirúrgico gelado e muito iluminado, senti frio. Meu esposo tirou suas meias e me deu. Entrei novamente na vibe do trabalho de parto e o Miguel nasceu.

Paramentada com roupas hospitalares, máscaras e toucas, eu e meu esposo estamos de mãos dadas. Estou debruçada sobre a maca e ele do outro lado olhando para mim
Meu marido me emprestou suas meias quentinhas e eu voltei para a partolândia - Mariana Chagas/Arquivo Pessoal

Fiquei com ele no colo e a placenta nasceu em seguida. Samuel chegou 24 minutos depois. Senti muita cólica após o nascimento da segunda placenta, porque o útero tinha expandido demais e já estava contraindo para voltar ao tamanho normal.

Mig nasceu pequeno e tinha muita dificuldade para mamar. Meu peito ficou machucado e dolorido. O Sam mamava melhor.

Em casa, na primeira noite, Miguel teve uma crise de hipoglicemia e desmaiou. Foi chocante levar um bebê tão pequeno desacordado para o hospital, horas depois de ter tido alta. Samuel estava com icterícia e decidiram internar os dois. Dennys comigo, mas Helena em casa com a avó, triste, porque "sumimos novamente".

Ficamos cinco eternos dias internados. O meu celular apitando toda hora com amigos e parentes querendo saber como foi o encontro com a irmã mais velha (era pandemia, não tive nenhuma visita no hospital) e eu só queria chorar. Foi um baby blues terrível.

Foi frustrante ver as enfermeiras do hospital darem leite artificial na mamadeira pros dois, sendo que me preparei tanto para amamentá-los exclusivamente. Não tinha forças para "brigar" pelo copinho. Pensava só em sair e depois fazer translactação.

Algumas mensagens carinhosas chegavam como um abraço naquela UTI, entre elas as das amigas da Bancada da Barriga, grupo formado por jornalistas que estavam grávidas durante a pandemia.

Tivemos alta, mas o Mig precisou operar o freio da língua para conseguir mamar direito. Em menos de um mês, os dois voltaram a mamar exclusivamente no peito e por seis meses conseguimos manter a amamentação exclusiva --que só foi possível porque muitas vezes minha rede de apoio me dava água e comida na boca.

A privação do sono, o esgotamento e o isolamento social pegaram pesado aqui. Oração, terapia e ombros leais me sustentaram nesse período. Foi também o momento em que Helena foi alfabelizada de forma online. Que incrível ver esse processo tão de perto!

Close nas mãos de uma menina que copia o nome Helena em letra de forma em um caderno
Minha filha copia seu nome após a aula online; alfabetização foi desafiadora, porém emocionante - Arquivo Pessoal

Decidimos colocar os gêmeos na creche e por quase um ano vivemos de antibiótico em antibiótico, viroses em viroses, otites e tantas outras crechites comuns a todas as crianças, mas agravadas pela falta de imunidade que a pandemia trouxe com o isolamento social.

É muito comum ouvir das pessoas "Como você dá conta"? Aprendi na roda de mães online, comandada pela doce e gentil Mila Rosa, que a maternidade é a arte de escolher batalhas. Foi ela quem me ofereceu uma escuta generosa durante a pandemia e também me ajudou a voltar para o eixo depois de tantas agitações.

Por aqui, escancarei meu relato de parto, falei sobre puerpério (vídeo acima), ampliação da licença-paternidade, desmame, racismo, abordei diversos dilemas maternos, conheci muita gente incrível e tive o privilégio de criar, ao lado do Renan Sukevicius, um podcast sobre o processo de gestar um bebê: o 40 Semanas. Spoiler: No último episódio eu revelo que estou grávida dos gêmeos.

Estava devendo esse relato aqui. Não queria me despedir do blog sem contar como cheguei até aqui.

Agradeço à direção do jornal pelo espaço e aproveito para agradecer publicamente Thea Severino, minha antiga chefe, que foi compreensiva ao extremo e me deu total suporte antes da licença-maternidade. Também agradeço, de coração, minha chefe atual, Beatriz Peres, uma mulher incrível, que além de generosa, segurou muitas pontas quando eu ainda estava fora da caixinha, voltando aos poucos.

Os desafios com sono, introdução alimentar, início das aulas, desmame e desfralde foram vencidos com louvor (e algumas lágrimas) e hoje, os desafio giram em torno de atender demandas tão diferentes ao mesmo tempo sendo uma só.

Falhei miseravelmente na promessa de manter paredes e sofá limpinhos. A louça, às vezes, fica de um dia pro outro na pia porque eles querem brincar de esconde-esconde quando chego de noite. Continuo, ao lado do meu esposo, escolhendo muitas batalhas.

Voltei a estudar, comecei a fazer exercícios com regularidade e senti que aquele peso que eu tinha escondido no coração ficou pra trás. Jamais me esquecerei de quem me estendeu a mão nesse período.

Também voltei a orar e buscar Deus com mais intensidade e sei que é Ele quem me mantém em pé.

Passo agora o bastão para duas colegas de Redação: Havolene Valinhos e Tatiana Cavalcanti, que certamente cuidarão muito bem desse espaço! Sucesso, meninas!

Obrigada por cada leitura, troca e ensino. Foi maravilhoso! Se não fosse o Senhor, nada disso seria possível!

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.