Os transtornos alimentares devem ser abordados com cuidado, diz Mallary Tenore Tarpley, que já escreveu para The New York Times e The Washington Post. Ela é professora do curso de jornalismo da Universidade do Texas e já sofreu de anorexia nervosa. Em um artigo no site da Poynter pontos para melhorar a cobertura da imprensa sobre o tema.
Transtornos alimentares não são problema de meninas brancas e ricas
De acordo com Tarpley, uma melhor cobertura sobre o tema exige que os jornalistas evitem estereótipos. Buscar fontes de diferentes idades, etnias e classes sociais contribui para o fim da ideia de que transtornos alimentares são "problemas de adolescentes brancas e ricas".
Não é verdade também que transtornos alimentares são características apenas de pessoas excessivamente magras ou gordas. Muita gente trava uma luta silenciosa contra esses problemas, mesmo tendo um corpo "aparentemente saudável".
Como fonte de informação para melhorar a abordagem a esse respeito, Mallary indica a Neda (National Eating Disorder Association), que divulga pesquisas e notícias com o enfoque correto.
No Brasil, a Astral (Associação Brasileira de Transtornos Alimentares) realiza um trabalho semelhante, com especialistas e pessoas que sofrem com transtornos alimentares falando sobre o tema.
Respeite a sensibilidade do personagem
A jornalista independente Amelia Tait, entrevistada por Tarpley, recuperou-se recentemente de um quadro de anorexia. Para Tait, é fundamental que o entrevistado não se sinta constrangido ou forçado a falar de nada que não queira.
Homens também sofrem de anorexia e bulimia
De acordo com dados americanos, homens são 25% das vítimas de bulimia e anorexia, e 36% das pessoas com compulsão alimentar periódica. Ainda assim, muito da cobertura sobre o assunto trata os transtornos como algo relacionado exclusivamente às mulheres.
O jornalista Ken Capobianco, também ouvida pela autora, escreveu um livro sobre o tema e já teve um quadro de anorexia. Ele afirma que a maioria das reportagens retrata muito mais homens que buscam ser excessivamente fortes e desenvolvem transtornos por isso, mas é raro ler sobre aqueles que almejam uma ideia de perfeição relacionada à magreza.
Evite imagens sensacionalistas
Muitas vezes, reportagens sobre transtornos alimentares trazem imagens de pessoas excessivamente magras, com tubos de alimentação ou que mostram as mudanças no corpo durante e após passar pelo quadro de transtorno alimentar.
Imagens desse tipo acabam por minimizar as complexidades que envolvem um transtorno alimentar, focando apenas no aspecto físico, além de sugerirem que quem sofre com esses transtornos têm uma determinada aparência, o que dificulta o diagnóstico.
Explore as nuances da recuperação
Muitas vezes a recuperação não é um processo simples e linear.
É importante, ao escrever sobre o tema, entender que os transtornos alimentares não desaparecem. Eles passam por uma diminuição gradual, e ninguém que não a própria pessoa pode indicar como se sente.
Por isso, Mallary indica sempre perguntar à fonte como se sente em relação à condição. Muitos se definem como parcialmente recuperados, totalmente recuperados ou simplesmente como curados.
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