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Conheça o pequeno veículo de notícias de Chicago que ganhou dois prêmios Pulitzer

Invisible Institute venceu nas categorias reportagem local e reportagem de áudio

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Benjamin Mullin
The New York Times

Quando Jamie Kalven conheceu Yohance Lacour, em 2017, os dois rapidamente perceberam que tinham algo em comum.

Kalven, fundador do Invisible Institute, um veículo de notícias sem fins lucrativos, estava trabalhando no conjunto habitacional Stateway Gardens, em Chicago, nos EUA, quando um crime de ódio abalou a comunidade local, em 1997. Na época, Lacour ajudou um jornal local a cobrir a história.

Com a ajuda de Kalven, a lembrança de Lacour daquele período —e a história de sua eventual prisão, acusado de tráfico de drogas— tornou-se o tema de um podcast de 11 episódios, You Didn’t See Nothin (em português, você não viu nada), que ganhou o Prêmio Pulitzer de reportagem em áudio na segunda-feira (6)

Bill Healy, Alison Flowers, Erisa Apantaku, Yohance Lacour e Sarah Geis, da esq. p/ dir., no Invisible Institute
Bill Healy, Alison Flowers, Erisa Apantaku, Yohance Lacour e Sarah Geis, da esq. p/ dir., no Invisible Institute - Brigid Maniates/NYT

O podcast de Lacour ganhou um dos dois Pulitzers para o Invisible Institute, uma pequena redação na zona sul de Chicago, conhecida por cobrir as autoridades da cidade. O outro prêmio, de reportagem local, foi para a diretora de dados da organização, Trina Reynolds-Tyler, que produziu uma série investigativa sobre meninas e mulheres negras desaparecidas na cidade.

Os prêmios tornaram o Invisible Institute a maior surpresa do anúncio do Pulitzer, uma celebração anual dos melhores trabalhos da indústria jornalística.

"É impressionante", disse Kalven, 75, em uma entrevista. "Acabei de sair do nosso escritório, que está em completo alvoroço."

O Invisible Institute, que emprega cerca de uma dúzia de jornalistas, é conhecido por se unir a outras Redações para publicar suas investigações. O podcast de Lacour foi criado em parceria com a USG Audio, uma divisão do Universal Studio Group. Reynolds-Tyler dividiu seu prêmio com Sarah Conway, do City Bureau, outra veículo sem fins lucrativos.

Criado em 2015, o Invisible Institute foca jornalismo de alto impacto, examinando questões de raça, moradia e justiça criminal. É conhecido por suas investigações sobre a polícia local, incluindo o assassinato de Laquan McDonald, de 17 anos, por um policial de Chicago, e sua luta pela transparência governamental. Em 2014, Kalven ganhou um caso histórico que resultou na divulgação de registros de má conduta policial.

Esta não é a primeira vez que o Invisible Institute ganha um Pulitzer. Em 2021, uma investigação sobre cães policiais, em parceria com o AL.com, o Marshall Project e o IndyStar, recebeu o prêmio de reportagem nacional.

Lacour, que cumpriu a maior parte da sentença de dez anos, sempre foi escritor e queria se profissionalizar quando saísse da prisão. Antes de conhecer Kalven, ele considerou perguntar ao jornal de seu bairro se poderia fazer algo, incluindo editar classificados. Seu pai o orientou a falar com Kalven, um de seus vizinhos.

Os dois rapidamente perceberam que o ataque de 1997 a Lenard Clark, um adolescente negro que foi abordado em um bairro branco, era uma história importante, que merecia ser revisitada. Embora muitos dos fatos do caso fossem conhecidos, o contexto completo —incluindo como os moradores do sul da cidade foram afetados— não havia sido investigado.

Então, Lacour começou o processo meticuloso de localizar pessoas familiarizadas com o crime, décadas depois do ocorrido. Levou anos —tempo suficiente para que o jornalista cogitasse devolver uma bolsa de US$ 3.000 (cerca de R$ 15,2 mil) que havia recebido por um ano para realizar o trabalho, já que não havia sido publicado nesse tempo. Mas Kalven disse a ele para continuar investigando.

"Leve o tempo que for necessário", disse, e eventualmente decidiram contar a história em um podcast.

"Acho que este é o meio perfeito para contar essa história", disse Lacour, lembrando a fala de Kalven. "E acho que consigo ver onde sua história pessoal pode ser incorporada."

Em 2023, cerca de seis anos após a primeira conversa dos colegas, o podcast estreou. Ele lançou uma nova luz sobre o ataque a Clark, atraiu ouvintes de todo o mundo e ganhou uma série de prêmios, culminando no Pulitzer.

Lacour, 50, disse que o prêmio foi emocionante para ele, em parte porque pôde recontar uma história tão pessoal.

"É avassalador", disse Lacour. "É literalmente ter seu sonho se tornando realidade de muitas maneiras".

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