O Mundo É uma Bola

O Mundo É uma Bola - Luís Curro
Luís Curro
Descrição de chapéu Seleção Brasileira

Desordem é tão grande que é capaz de o Brasil faturar o hexa

Tetra e penta vieram depois de ciclo com troca de técnico e classificação no sufoco para a Copa do Mundo

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A atual situação da seleção brasileira é um prato cheio para quem acredita em superstição, para quem olha para trás e faz aquela comparação otimista, para quem acredita que o pior, no final, pode resultar no melhor.

O percurso do Brasil rumo à Copa do Mundo de 2026, a que enfim pode dar ao país o hexacampeonato, começou desorganizado, da parte da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), e acidentado, em relação aos resultados em campo da equipe.

Soube-se em fevereiro de 2022, faltando quase dez meses para o início da Copa no Qatar, que o técnico Tite não permaneceria no comando depois do Mundial, independentemente do resultado –ele mesmo anunciou isso.

O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, durante entrevista em Doha, na Copa do Mundo no Qatar
O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, durante entrevista em Doha, na Copa do Mundo no Qatar - Rafael Ribeiro - 29.nov.2022/CBF

Ou seja, a partir daquele momento a CBF, presidida por Ednaldo Rodrigues, poderia, mesmo que somente nos bastidores, definir o próximo treinador da seleção canarinho.

Não o fez, ou por desinteresse, ou por desleixo, ou por incapacidade, ou por seja lá qual motivo. Postergou, e deu no que deu, na indefinição que tem sido mal digerida faz meses.

Em algum momento, a CBF fixou a ideia de que o técnico do Brasil na próxima Copa (que será nos EUA, no Canadá e no México) tem que ser o italiano Carlo Ancelotti, 64.

O problema? Ancelotti está empregado. Tem contrato com o Real Madrid, um dos maiores clubes do mundo, até junho de 2024 e afirmou várias vezes que irá cumpri-lo.

Dias atrás, veio esta notícia: a CBF tem um acordo verbal com o italiano quatro vezes ganhador da Champions League e ele começará a dirigir a seleção brasileira na metade de 2024.

Acordo verbal, ainda mais nos dias de hoje, não significa nada. Qualquer lado, especialmente o de lá, que mostra-se ser o menos interessado, pode desistir a qualquer momento. Tem que ter assinatura de contrato, botar no papel, ter testemunhas, registrar em cartório etc. etc. etc., para que haja uma certeza.

O italiano Carlo Ancelotti, treinador do Real Madrid, acena diante de microfone em entrevista no centro de treinamento do clube, em Valdebebas
O italiano Carlo Ancelotti, treinador do Real Madrid, só estará disponível para comandar a seleção brasileira no meio de 2024 - Violeta Santos Moura - 23.mai.2023/Valdebebas

Supondo que o acerto se concretize, Ancelotti, caso consiga liberação do Real antes do fim de junho (não este, o seguinte), pode iniciar sua trajetória com o Brasil na Copa América dos EUA, que começa no dia 20 de junho do ano vindouro.

Naquele momento, as Eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo já terão seis rodadas realizadas, ou um terço do total –o Brasil terá jogado contra Bolívia, Peru, Venezuela, Uruguai, Colômbia e Argentina. Estará bem na tabela? Se não estiver, Ancelotti vai encarar a bucha?

E com qual treinador o Brasil irá para essas seis partidas? Meu palpite é que com o interino (e haja tempo de interinidade) Ramon Menezes, o efetivo da seleção sub-20 que esteve à frente da principal em três amistosos, acumulando duas derrotas (2 a 1 para o Marrocos e 4 a 2 para o Senegal) e uma vitória (4 a 1 sobre a Guiné).

Ramon ficará porque que outro técnico aceitaria dirigir o time sabendo que será um tapa-buraco até a chegada do figurão europeu? Nenhum de ponta, certamente. A CBF teria de recorrer a um mediano ou a um desempregado, que toparia para ter no currículo a passagem pela seleção, além de um salário polpudo.

Falando em salário, o custo Ancelotti é altíssimo, já que ele recebe em torno de R$ 4,5 milhões mensais na Espanha. Tite ganhava cerca de R$ 1,5 milhão. A CBF tem dinheiro para bancar –em seu último balanço registrou superávit de R$ 143 milhões–, mas é uma bordoada financeira.

Mas mesmo com toda essa bandalheira organizacional, aliada ao resultado ruim no cômputo geral dos amistosos, é bem capaz de daqui a três anos e um mês estejamos celebrando o hexa.

Os percursos dos dois mais recentes títulos do Brasil em Copas do Mundo foram turbulentos, como parece que este se encaminha para ser.

Jogadores do Brasil festejam a conquista da Copa do Mundo de 1994, nos EUA, no estádio Rose Bowl, em Pasadena
Jogadores do Brasil festejam a conquista da Copa do Mundo de 1994, nos EUA, depois de a seleção brasileira encarar um ciclo conturbado, com risco de não classificação para a competição - Pisco Del Gaiso - 17.jul.1994/Folhapress

Antes da Copa de 1994, nos EUA, cuja taça veio depois de vitória dos pênaltis diante da Itália, a seleção passou por mudança de treinador. Começou com Paulo Roberto Falcão, que saiu depois de não vencer a Copa América de 1991 e passou a prancheta para Carlos Alberto Parreira.

O Brasil perdeu pela primeira vez na história um jogo de Eliminatórias (2 a 0 para Bolívia) e chegou à rodada final com risco de não se classificar para o Mundial. Fez 2 a 0 no Uruguai em 1993 e avançou. Foi, no ano seguinte, tetra.

O caminho para o triunfo na Copa da Coreia/Japão, em 2002 (2 a 0 na Alemanha na decisão), foi igualmente conturbado. O Brasil começou o ciclo com Vanderlei Luxemburgo, que caiu, passou pelas mãos de Emerson Leão, que caiu, e o concluiu com Luiz Felipe Scolari.

Como na campanha que precedeu o tetra, a seleção brasileira –com seis derrotas acumuladas e a tabela embolada– chegou à rodada decisiva das Eliminatórias sem a certeza da classificação. Fez 3 a 0 na Venezuela em 2001 e avançou. Foi, no ano seguinte, penta.

Dois cenários que indicavam para o fracasso e que, contrariando a lógica, acabaram resultando em sucesso.

Curiosamente, quando tudo parecia estar bem, tendo o Brasil terminado em primeiro lugar as Eliminatórias (para 2006, 2010, 2018 e 2022; não as disputou para 2014 porque foi o país-sede), houve naufrágio em cada uma dessas Copas.

Como nem sempre o futebol tem coerência, a desesperança pode significar, no caso da seleção, esperança. E culminar, por improvável que seja, no hexa.

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