"De repente, tudo muito claro. Na hora, pai me colocou embaixo da mesa e depois abaixou. Junto veio o 'tum', uma explosão muito grande. E então porta, janela, armário, escritório de madeira... tudo caindo. Pai me tirou da madeira e, quando olhei, costa de pai tudo sangrando."
O relato forte, dado num português que carrega os traços de quem deixou a terra natal ainda jovem, é um dos que sustentam o espetáculo "Os Três Sobreviventes de Hiroshima". Como o nome diz, a peça reúne, em forma de teatro-documentário, sobreviventes da bomba atômica. Serão quatro apresentações gratuitas em São Paulo: de sexta (12) a domingo (14) e na próxima quarta (17).
Kunihiko Bonkohara, de 82 anos, e Junko Watanabe, de 80, sobem ao palco para narrar suas lembranças e marcas do dia 6 de de agosto de 1945, quando os Estados Unidos lançaram a bomba atômica sobre Hiroshima, no Japão.
Na época, os sobreviventes eram crianças –Bonkohara tinha 5 anos e perdeu a mãe e a irmã no atentado. Junko, que tinha apenas 2 anos, só descobriu que era uma sobrevivente já adulta, aos 38. A família escondeu a condição durante anos para que ela não sofresse preconceito.
Já Takashi Morita, o terceiro sobrevivente, é interpretado nesta versão pelo ator Ricardo Oshiro. Na explosão, Morita tinha 21 anos e era militar. Ele é autor do livro "A última mensagem de Hiroshima" e tem hoje 99 anos.
Apesar da densidade da narrativa, a peça usa como fio-condutor a busca dos três imigrantes pela paz –o espetáculo deu origem ao projeto Sobreviventes Pela Paz, que promove palestras, estudos e debates que visam alertar sobre os perigos da guerra, e que se torna ainda mais relevante com a Guerra da Ucrânia.
A tragédia de Hiroshima
No dia 6 de agosto de 1945, final da Segunda Guerra Mundial, os EUA lançaram o primeiro de dois artefatos atômicos sobre Hiroshima. Cerca de 40% dos 350 mil habitantes da cidade morreram, metade incinerada imediatamente.
Três dias depois, uma segunda explosão, sobre Nagasaki, ajudaria a selar o fim da Segunda Guerra Mundial. Os números não são muito precisos, mas estima-se que nos dois bombardeiros morreram 200 mil pessoas.
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Os Três Sobreviventes de Hiroshima
Teatro Paulo Eiró - Av. Adolfo Pinheiro, 765, Santo Amaro. Sex. (12) e sáb. (13), às 21h. Dom. (14): 19h. Grátis
Fábrica de Cultura Brasilândia - Av. General Penha Brasil, 2.508, Brasilândia. Qua. (17): 15h. Grátis
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