Políticas e Justiça

Editado por Michael França, escrito por acadêmicos, gestores e formadores de opinião

Políticas e Justiça - Michael França
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Lideranças femininas: quebrando o teto de vidro

Desafiando barreiras e construindo um futuro mais promissor para todos

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Maria Dolores Montoya Diaz

Professora titular do departamento de economia e diretora da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da USP

A diferença entre a participação de homens e mulheres em posições de liderança é um desafio amplamente evidenciado por dados e estudos. Em 2022 a participação feminina em parlamentos nacionais foi pouco maior de 26% em todo o mundo, atingindo quase 36% nos países da América Latina e Caribe, mas não chegando, entretanto, a 18%, no Brasil.

Essa disparidade também é encontrada em posições de lideranças empresariais, com menos de 20% das firmas com uma mulher ocupando cargos de alta gerência ou direção. Assim, também se verifica que a sub-representação feminina é cada vez mais acentuada quanto mais altas são as posições de liderança consideradas. Essas estatísticas refletem as barreiras invisíveis que persistem nas esferas política e empresarial que impedem o avanço das mulheres para posições de liderança, também conhecidas pela expressão "teto de vidro".

Maria Dolores é uma mulher branca de olhos escuros e cabelos curtos e grisalhos. Na imagem, ela sorri e veste uma blusa de botão escura de bolhinhas claras.
Professora titular do departamento de economia e diretora da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da USP - Cecilia Bastos Ribeiro

Esta discussão é relevante, uma vez que a promoção de uma participação mais equitativa de mulheres e pessoas negras em posições de liderança não apenas enriquece os processos de tomada de decisão, mas também influencia positivamente a dinâmica das atividades, a comunicação e a colaboração das equipes. Essa sinergia resulta em um melhor desempenho, não apenas nos âmbitos empresarial privado e público, mas também na esfera política. Essa conclusão encontra respaldo em resultados de estudos resenhados no trabalho divulgado recentemente e intitulado "Síntese de Evidências sobre a Presença de Mulheres e Pessoas Negras em Cargos de Liderança e Autoridade", de autoria de Michael França e Fillipi Nascimento.

Sendo assim, torna-se essencial identificar as causas dessas barreiras que geram as disparidades nas posições de liderança. Estudos indicaram que estereótipos sobre os papéis adequados para as mulheres podem alimentar a discriminação e a exclusão. Além disso, a ausência ou a limitação de acesso a redes profissionais, orientação e mentoria podem atuar como obstáculos ao progresso das mulheres, mesmo na inexistência de discriminação. Para as mulheres, as responsabilidades familiares, especialmente após a maternidade, podem se tornar um fardo adicional que afeta suas trajetórias de carreira. Estudos mostram que mães com filhos pequenos enfrentam uma progressão mais lenta na carreira e salários menos competitivos em comparação com seus colegas homens e mulheres sem filhos.

Também foram encontradas diferenças de gênero na disposição para correr riscos, competir e negociar como fatores que podem afetar a participação de mulheres em cargos de liderança. Um estudo demonstrou que meninas têm disposição similar a meninos para assumir riscos na infância, mas essa igualdade diminui drasticamente durante a adolescência. A "confiança social" desempenha um papel crucial nesse declínio.

As implicações dessas disparidades são profundas e vão além das lideranças. Fatores culturais e normas de gênero alimentam a desigualdade em diversas esferas. A jornada rumo a maior equidade é desafiadora, mas claramente delineada. Eliminar estereótipos, facilitar o acesso a oportunidades e promover um ambiente de apoio são passos essenciais.

Promover diversidade na liderança é um requisito para o progresso, pois esta impulsiona a inovação, eficiência e a resiliência das instituições. Um futuro promissor exige ação e colaboração para que todas as vozes tenham espaço para liderar e inspirar.

O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço "Políticas e Justiça" da Folha sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Maria Dolores Montoya Diaz foi "Dona de Mim", de IZA.

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