Pretos Olhares

Fotografia e outras linguagens da arte feitas por pessoas pretas

Pretos Olhares - Catarina Ferreira
Catarina Ferreira

Recifense usa fotografia para imaginar mundo 'que não tivesse vivido a escravidão'

Ronald Santos Cruz retrata sorrisos de pessoas negras em resposta ao preconceito

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São Paulo

O recifense Ronald Santos Cruz, 25, começou a fotografar em 2016 após uma experiência negativa.

O então estudante de comunicação havia deixado o cabelo crespo crescer e estava com a "autoestima lá em cima". Ele reuniu material fotográfico e levou a algumas agências à procura de trabalho como modelo.

Retrato de criança negra sorridente
Foto 'O Menino no Céu Azul' - Ronald Santos Cruz

"A resposta sempre era ‘você não se encaixa no nosso padrão’", diz ele. A partir daí, Ronald diz ter começado a questionar: "Mas que padrão é esse?"

Ele, um homem de pele retinta, reuniu outros jovens negros da região metropolitana de Recife para registrar a "tal beleza fora do padrão".

Durante dois anos, o projeto fotográfico "Crespografia" registrou a beleza dos fios crespos e cacheados de dezenas de jovens em toda a capital pernambucana. "Até minha mãe, que pelo preconceito não via beleza no cabelo crespo, depois de ver fotos de tantos jovens felizes com a própria imagem começou a ver mais beleza ali."

Hoje, Ronald soma mais de 100 mil seguidores em sua conta no Instagram e já retratou personalidades como os atores Lázaro Ramos e Érico Brás.

Em seu trabalho, ele diz trazer felicidade e doçura, que estão presentes nas fotos de crianças negras sorrindo, principalmente meninos, em situações cotidianas.

"O que quero é retratar o nosso povo feliz, da maneira que seríamos em uma possibilidade de mundo em que não tivéssemos vivido a escravidão."

Ronald lembra as referências que ele os colegas tiveram ao longo da vida. Na escola, as imagens dos livros de história mostravam corpos negros apenas como escravizados, no noticiário, como pessoas marginalizadas, e no entretenimento, com representações hipersexualizadas.

Em seu universo fotográfico, de um mundo hipotético sem os prejuízos deixados pela escravidão, os sorrisos e a beleza negra são a regra. "A minha luta antirracista não precisa partir da dor."

Além disso, representações de força e sabedoria aparecem na figura de orixás, sempre em cenários naturais. Candomblecista, ele vê na religiosidade parte importante da sua identidade e, por consequência, do processo de criação das fotografias.

"Não gosto de fotografar em estúdio, preciso estar sempre em contato com a natureza", afirma. O que, segundo ele, se conecta com a sua fé, já que as próprias divindades do Candomblé são ligadas às forças da natureza.

Sua primeira exposição virtual chama-se "Sorriso Negro", em referência à música de mesmo nome composta por Adilson Barbado e Jorge Portela e interpretada por Dona Ivone Lara.

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