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Descrição de chapéu

OMS declara pandemia de caixas de som na praia

Em meio às músicas no talo, uma pessoa se sentou na areia de fones para ouvir um áudio com o barulho do mar

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Tudo começou quando um agente invisível se espraiou pelo ar. Entre odores de queijo coalho, milho cozido, bronzeador e maresia, ele estava lá: o sinal de Bluetooth. Foi a porta que abriu caminho para a invasão da variante JBL.

A coisa foi se alastrando. O barulho do mar, as conversas e os tradicionais chamados dos vendedores ambulantes começaram a ser interrompidos por pequenas caixas de som que pipocavam aqui e acolá.
Nem Osmar Terra apostaria que o crescimento seria tão rápido. Agentes invasores dotados de excepcional capacidade de amplificação e uma colossal falta de noção subjugaram todo organismo praiano às rajadas estridentes.

A ilustração várias caixas de som JBL laranjas em forma de coronavirus sobre um fundo de praia noturno com areia fúcsia, mar verde e céu azul escuro
Publicada nesta quinta-feira, 28 de abril - Débora Gonzales

Um comitê de estudiosos formado na barraca Caipirinhas da Leila fez um alerta: "É axé, rock, música eletrônica, sertanejo, pop, salsa, o caralho o dia todo. Não é questão de rico ou pobre, mermão. É questão de educação mermo", sublinhou o porta-voz Jorge Cabelinho, aos prantos. "Bolsonaro deveria decretar cem anos de silêncio nessas caixas de som", completou o general aposentado Alaôr Pederneiras.

Ciente da calamidade, Tedros Adhanom resolveu agir: "Era preciso tomar alguma medida para conter essa situação dramática. Por isso a OMS vai declarar pandemia de caixas de som na praia", berrou.

Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, tomou medidas rápidas e decretou o lockdown de caixas de som. "Não dá pra pedir pros incomodados botarem máscara no ouvido", justificou, com um megafone.
A decisão provocou ruidosas reações de todas as esferas políticas.

Grupos de direita iniciaram um movimento pela liberdade de levar caixas de som para a praia. "Não vamos nos ajoelhar diante da ditadura do silêncio. Quem não quiser ouvir música alta que não venha à praia", bradou Daniel Pereira.

Grupos de esquerda interpretaram a medida como um ato de opressão social. "É a burguesia da zona sul incomodada com o funk. Mas, dessa vez, não passarão: quem não quiser ouvir música alta que não venha à praia", bradou Eloá Paranauê.

Os argumentos de Pereira e Paranauê, no entanto, não foram ouvidos por causa da confusão sonora que vinha das caixas de som.

Em meio aos sons, certezas surdas e músicas no talo, uma pessoa se sentou na areia. Botou um fone de ouvido, no último volume, para ouvir um áudio com o barulho do mar.

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