Protesto. Revolta. Golpismo.
Por todo o país, bolsonaristas rejeitam o resultado das urnas.
Elpídio era um velho militante de esquerda.
—Palhaçada. Fazerem isso com a bandeira do Brasil.
O velho televisor Colorado RQ mostrava manifestações na frente de instalações militares.
—Lembro desse quartel.
Elpídio tomou mais um gole de conhaque.
—Hora de tomar uma atitude.
Escondido atrás de malas e livros, estava uma recordação dos anos de chumbo.
—Será que esse fuzil ainda funciona?
Camadas de ferrugem e mofo mostravam uma realidade.
—Há cinquenta anos desisti da luta armada.
Na parede, o retrato de Che Guevara não dizia sim nem não.
—Mas não esqueci o treinamento básico.
Nos tempos duros de 1969, Elpídio pensara em aderir ao capitão Lamarca.
—A história se repete.
A garrafa de conhaque já estava vazia.
—Às ruas.
Elpídio topou com um grupo embandeirado na entrada do metrô Santa Cecília.
—Golpistas. Fascistas. Vão aprender democracia na marra.
—Comunista. Não sabe perder.
—A vitória está aqui. Na ponta do fuzil.
Elpídio estava pronto para disparar o primeiro tiro quando apareceu o PM Cláudio.
—O que é que está fazendo aí, vovô?
—Sai que você está na minha linha de tiro.
O PM Cláudio sorriu com superioridade.
—O que é que o senhor tem aí na mão?
—Minha AR-15 de estimação.
Não era bem isso.
Elpídio segurava apenas o gargalo da garrafa.
--Parece mais uma Dreher Três Estrelas.
—Hein?
—Considere-se preso. Perturbação da ordem.
Elpídio olhou em volta.
—Ué. E esses golpistas aí?
O PM Cláudio fez cara séria.
—São democratas. Lutando pela verdade em favor do nosso presidente.
Elpídio curte a ressaca no DP.
Garrafas não são armas.
Focinho de porco não é tomada.
Mas há quem veja uma urna eletrônica e só enxergue um tanque de guerra.
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