Alexandre Schneider

Pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade Columbia em Nova York, pesquisador do Centro de Economia e Política do Setor Público da FGV/SP e ex-secretário municipal de Educação de São Paulo.

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Alexandre Schneider

Fazer mais do mesmo não reduzirá a desigualdade educacional

Foco deve ser a formação continuada de professores

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O maior desafio da educação é garantir que todos os estudantes, independentemente do contexto em que vivem, estejam na escola, no ano escolar correspondente à sua idade, aprendendo o que é esperado em cada etapa. O cenário pós-Covid torna essa tarefa mais urgente e desafiadora. É consenso entre os educadores e especialistas que o maior desafio da educação brasileira nos próximos anos será o de reduzir a elevada desigualdade educacional brasileira.

Um estudo recente dos pesquisadores Leonardo Rosa (Instituto de Pesquisa para Políticas de Saúde-IEPS), Martin Carnoy (Universidade Stanford) e Alexandre Simões (Universidade de Chicago) utilizando dados dos exames nacionais de língua portuguesa e matemática entre os anos de 2007 e 2017 demonstra que a desigualdade entre os estudantes da rede pública aumentou antes da pandemia.

Sala de aula de escola pública em São Paulo - Karime Xavier - 2.fev.2022/Folhapress

Nos anos iniciais, embora os resultados médios tenham crescido, a diferença no desempenho dos estudantes mais ricos e mais pobres, que já era alta, aumentou 31% em matemática e 39% em língua portuguesa. Nos anos finais, a média de aprendizagem cresceu em um ritmo mais lento, assim como a desigualdade, com ampliação de 11% em matemática e uma pequena redução em língua portuguesa.

Ao decompor os resultados por estado, os pesquisadores encontraram o mesmo padrão: em todos a desigualdade educacional aumentou no período, com exceção do Paraná e de São Paulo, onde se manteve no patamar inicial.

Os resultados nos sugerem que os ganhos de aprendizagem dos estudantes da escola pública durante o período pré-pandemia se concentraram nos estudantes mais ricos, com a ampliação da desigualdade educacional. Mais importante, sugerem que, embora as políticas educacionais implantadas por estados e municípios no período —com mais ou menos sucesso— tenham contribuído para a melhoria dos resultados acadêmicos dos estudantes, foram incapazes de reduzir a distância entre ricos e pobres na educação pública.

O desafio agora é maior, dados o fracasso do ensino remoto durante os dois anos em que as escolas permaneceram fechadas, a lenta readaptação dos estudantes ao convívio escolar, as questões relativas à saúde mental e outros fatores que compõem o duro quadro em que estão imersas as escolas brasileiras.

Nesse sentido, o tradicional "combo" composto por materiais estruturados desenvolvidos centralmente e formação aligeirada para uso dos mesmos não será suficiente, como não foi no passado, para que a educação cumpra sua tarefa que é a de garantir o direito de aprendizagem de todos.

Até mesmo políticas com efeitos comprovadamente positivos, como a educação em tempo integral, têm efeitos limitados na redução das desigualdades educacionais, como é o caso de Pernambuco, cujas políticas para o ensino médio se destacam positivamente do quadro nacional. Embora em 2019 a rede estadual pernambucana tivesse mais da metade de suas escolas em tempo integral, com o dobro da carga horária de língua portuguesa e matemática das escolas regulares, apenas 8% de seus estudantes finalizava o ensino médio com a proficiência adequada em matemática e 36% em língua portuguesa, números praticamente idênticos à média nacional, que até então tinha menos de 15% de suas escolas de ensino médio em tempo integral.

Essas políticas são necessárias, mas não suficientes para o desafio que temos pela frente. A redução das desigualdades educacionais requer experiências de aprendizagem significativas e profundas. Para tanto, mais do que soluções enlatadas e rápidas, o foco deve ser no fortalecimento das práticas de professores para que eles mapeiem as necessidades de seus estudantes, ajustem as estratégias de ensino de modo a desenvolver o currículo com qualidade e em profundidade e saibam fortalecer as aprendizagens para que elas ocorram dentro e para além das escolas. Um projeto sério de formação continuada é central nesse sentido. Esse será o tema de nossa próxima coluna.

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