Ana Cristina Rosa

Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)

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Ana Cristina Rosa

Uma dívida irreparável

O Brasil está diante de um déficit gigante no que tange à regularização fundiária e de uma dívida irreparável com a vida

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O assassinato da ialorixá Bernadete Pacífico, Coordenadora Nacional da Articulação de Quilombos (Conaq) e liderança do Quilombo Pitanga dos Palmares, na Bahia, dia 17, expôs a violação de ao menos quatro direitos constitucionais reiteradamente sonegados aos negros no Brasil: vida, liberdade, segurança e propriedade.

A execução de Mãe Bernadete um mês após ter se encontrado com a presidente do STF e alertado para os riscos que corria expôs a omissão do Estado. Ou, nas palavras dela (gravadas em vídeo), "o descaso das autoridades, principalmente quando se trata do povo negro (....) É justo? O que nós recebemos é ameaças (....) Vivo assim, eu não posso sair, minha casa toda cercada de câmeras".

Mulher negra com roupas coloridas sentadas ao sol
Matricarca era conhecida como Mãe Bernadete
Bernadete Pacífico era líder quilombola na Bahia e coordenadora da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos) - - Conaq/Divulgação

Apesar da gravidade da denúncia, nenhum mecanismo foi efetivado para proteger a vida da ialorixá que, ao representar sua ancestralidade e lutar pela titulação das terras habitadas por quilombolas, incomodou e contrariou interesses.

O Incra é o órgão responsável pela regularização fundiária, e o IBGE estima que há no Brasil 5.972 localidades quilombolas, das quais uma minoria é oficialmente reconhecida: só 494 quilombos.

Destes, apenas 147 foram titulados desde que a Constituição Federal de 1988 reconheceu o direito ao território tradicional quilombola, ou seja, menos de 5 por ano. O quilombo Pitanga dos Palmares não é um deles: apesar de certificado desde 2004, ainda não teve a titulação concedida.

Sem isso, muitas políticas públicas necessárias para sobrevivência, trabalho e permanência das famílias nas comunidades não chegam aos territórios. A falta de titulação também aumenta o assédio de especuladores imobiliários, garimpeiros e espertalhões de todo tipo, gerando situação de permanente insegurança, cujo ápice é o assassinato de lideranças como Mãe Bernadete.

O Brasil está diante de um déficit gigante no que tange à regularização fundiária, sobretudo dos povos tradicionais, e de uma dívida irreparável com a vida. Até quando?

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