Desde os primeiros dias da invasão da Ucrânia pela Rússia, após os diversos ataques em torno de Kiev, a rapidez com que os ucranianos passavam a arrumar o que era destruído sempre foi surpreendente.
Não importava o tamanho ou a gravidade das perdas, um exército se organizava apenas momentos depois para varrer, empilhar e desobstruir. Muitas vezes, ainda em meio a um ambiente caótico e perigoso, pessoas com martelos, chaves de fenda e outras ferramentas eram vistas arrumando janelas, portas, grades e portões danificados por estilhaços ou pela onda de choque de explosões próximas.
Com tratores, vassouras e pás, dirigindo caminhões ou empurrando carriolas, parecia que todos queriam que tudo voltasse ao normal o quanto antes. Em Irpin, Butcha e Hostomel, cidades dormitórios ao redor de Kiev, não foi diferente. Pouco mais de duas semanas depois que as tropas russas deixaram a periferia em torno da capital, a população dessas três cidades se esforça para voltar ao normal.
Na igreja, o trabalho de recuperar os corpos enterrados em valas comuns já acabou. No chão, ficaram apenas as marcas dos pneus do trator usado para empurrar a terra. Ao redor, sacos de plástico preto, para o transporte de cadáveres, permaneceram espalhados sobre o que parece ser resto de lixo queimado, entre latas de sardinha, garrafas de vodca, maços de cigarro e folhas de papel transformadas em cinzas.
As ruas estão limpas e, nos lugares onde bombas, morteiros e misseis caíram, o asfalto já está sendo recolocado para tapar os buracos. A eletricidade funciona na maioria das casas e dos apartamentos, ainda que muitos ainda estejam sem gás, forçando moradores a cozinhar do lado de fora, usando lenha, sentados em caixotes de madeira, enfrentando o vento e o frio.
Os destroços dos blindados russos na rua Vokzalna foram retirados, o asfalto, refeito, e até o entulho das casas destruídas já foi limpo, possibilitando o trânsito de carros com civis, caminhões e veículos militares.
Por todos os lados há muitos gatos, animal muito querido pelo povo eslavo em geral. Nas casas vazias, alguns bichanos se aproximam, manhosos, esperando que o visitante, mesmo desconhecido, esteja trazendo alguma comida, como acontecia antes da guerra, quando seus donos ainda estavam vivos.
Irpin e Kiev estão outra vez unidas. A ponte destruída às pressas em 24 de fevereiro pelo Exército ucraniano ainda não foi refeita, mas uma passagem ao seu lado foi construída e asfaltada, sua travessia é segura e rápida mesmo para veículos pesados, necessários para a reconstrução do que foi destruído.
Nos postos de controle, milicianos não estão mais armados como nos primeiros dias da guerra, e a sensação é de tranquilidade. Com tudo limpo, fica difícil comparar o cenário das fotos feitas há pouco mais de duas semanas com o ambiente atual. Não serão apenas nós, os fotógrafos, que teremos dificuldades para comparar os cenários. Investigadores independentes também.
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