André Liohn

Fotojornalista especializado na cobertura de guerras, vencedor da medalha Robert Capa

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Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rapidez com que ucranianos consertam o que foi destruído sempre surpreendeu

Será difícil para investigadores independentes comparar cenário de fotos feitas há duas semanas com ambiente atual

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Desde os primeiros dias da invasão da Ucrânia pela Rússia, após os diversos ataques em torno de Kiev, a rapidez com que os ucranianos passavam a arrumar o que era destruído sempre foi surpreendente.

Não importava o tamanho ou a gravidade das perdas, um exército se organizava apenas momentos depois para varrer, empilhar e desobstruir. Muitas vezes, ainda em meio a um ambiente caótico e perigoso, pessoas com martelos, chaves de fenda e outras ferramentas eram vistas arrumando janelas, portas, grades e portões danificados por estilhaços ou pela onda de choque de explosões próximas.

Entrada de estádio na cidade de Irpin, nos arredores da capital Kiev, na Ucrânia
Entrada de estádio na cidade de Irpin, nos arredores da capital Kiev, na Ucrânia - André Liohn/Folhapress

Com tratores, vassouras e pás, dirigindo caminhões ou empurrando carriolas, parecia que todos queriam que tudo voltasse ao normal o quanto antes. Em Irpin, Butcha e Hostomel, cidades dormitórios ao redor de Kiev, não foi diferente. Pouco mais de duas semanas depois que as tropas russas deixaram a periferia em torno da capital, a população dessas três cidades se esforça para voltar ao normal.

Na igreja, o trabalho de recuperar os corpos enterrados em valas comuns já acabou. No chão, ficaram apenas as marcas dos pneus do trator usado para empurrar a terra. Ao redor, sacos de plástico preto, para o transporte de cadáveres, permaneceram espalhados sobre o que parece ser resto de lixo queimado, entre latas de sardinha, garrafas de vodca, maços de cigarro e folhas de papel transformadas em cinzas.

As ruas estão limpas e, nos lugares onde bombas, morteiros e misseis caíram, o asfalto já está sendo recolocado para tapar os buracos. A eletricidade funciona na maioria das casas e dos apartamentos, ainda que muitos ainda estejam sem gás, forçando moradores a cozinhar do lado de fora, usando lenha, sentados em caixotes de madeira, enfrentando o vento e o frio.

Os destroços dos blindados russos na rua Vokzalna foram retirados, o asfalto, refeito, e até o entulho das casas destruídas já foi limpo, possibilitando o trânsito de carros com civis, caminhões e veículos militares.

Por todos os lados há muitos gatos, animal muito querido pelo povo eslavo em geral. Nas casas vazias, alguns bichanos se aproximam, manhosos, esperando que o visitante, mesmo desconhecido, esteja trazendo alguma comida, como acontecia antes da guerra, quando seus donos ainda estavam vivos.

Irpin e Kiev estão outra vez unidas. A ponte destruída às pressas em 24 de fevereiro pelo Exército ucraniano ainda não foi refeita, mas uma passagem ao seu lado foi construída e asfaltada, sua travessia é segura e rápida mesmo para veículos pesados, necessários para a reconstrução do que foi destruído.

Nos postos de controle, milicianos não estão mais armados como nos primeiros dias da guerra, e a sensação é de tranquilidade. Com tudo limpo, fica difícil comparar o cenário das fotos feitas há pouco mais de duas semanas com o ambiente atual. Não serão apenas nós, os fotógrafos, que teremos dificuldades para comparar os cenários. Investigadores independentes também.

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