Atila Iamarino

Doutor em ciências pela USP, fez pesquisa na Universidade de Yale. É divulgador científico no YouTube em seu canal pessoal e no Nerdologia

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Atila Iamarino

Vacine sua criança contra a Covid

A doença pode parecer leve entre crianças, mas temos muitos casos

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Eu já vacinei o meu bebê contra a Covid. Recomendo que você faça o mesmo.

Há poucos dias, a Anvisa aprovou a primeira vacina para crianças de seis meses a dois anos de idade. Para alívio de muitas famílias que querem ver suas crianças protegidas —aqui em casa, choramos de alegria. Mas já adianto: no que depender do governo federal, vai demorar muito para que ela seja disponibilizada nos postos de saúde.

Este era o último intervalo de idade sem vacina contra a Covid. Agora, até para os mais novos, temos uma vacina segura, eficaz e que pelo menos aqui em casa não causou eventos adversos. Eu sei disso pois meu filho de 1 ano já tomou as 3 doses. Como? Nós o inscrevemos no estudo clínico da vacina para crianças até 2 anos, enquanto ela ainda era experimental. Porque não dá para confiar que o governo brasileiro se mobilizará para vacinar as crianças. Sabíamos que a vacina é segura para outras idades e demos a sorte de participar do grupo vacinado do estudo, conforme descobrimos com a revelação dos resultados no mês passado. Agora vem a demora.

Visão da entrada da UBS Vila Romana, na Lapa, em São Paulo, onde há vacinação de Covid para crianças a partir dos 3 anos
Vacinação em crianças a partir de 3 anos com comorbidades na UBS Vila Romana, na Lapa, em São Paulo - Rivaldo Gomes - 20.jul.22/Folhapress

Ainda em dezembro de 2021, analisando o resultado de milhares de crianças de 5 a 11 anos de idade vacinadas, a Anvisa liberou o uso da vacina para essa idade, sob protestos e ameaças. Mas o Ministério da Saúde não se mobilizou para comprá-las. O ministro estava mais preocupado em criar alarde e ouvir negacionistas de vacinas do que a própria Anvisa. Em julho, a agência aprovou vacinas para crianças de 3 a 4 anos. Novamente, o Ministério da Saúde enrolou, adiou e tanto fez que ainda não temos vacinas suficientes. Pouco mais de um terço das crianças de 3 a 11 anos completaram o esquema vacinal até setembro. Entre as crianças de 3 a 4 anos, segundo a iniciativa Observa Infância, menos de 2% delas completaram a vacinação.

E motivos para vacinar não faltam. A Covid pode parecer leve entre crianças, mas temos muitos casos. O resultado é que, até julho de 2022, o Brasil registrou uma média de duas crianças com menos de 5 anos de idade morrendo de Covid por dia. E, mesmo assim, em um ano eleitoral, a preocupação do governo com a perda do voto de quem quer ver mais mortes infantis é maior do que a de liberar vacinas infantis seguras. Quando vacinas eram oferecidas por intermediários e com propina (segundo os vendedores), a compra acontecia antes da aprovação da Anvisa.

E essa desconfiança e sabotagem da vacinação se estende para outras doenças infantis evitáveis. Enquanto o governo só fala sobre a vacinação infantil contra a pólio para atacar a proibição de propaganda eleitoral, não fala de outras vacinas importantes. Desde 2018, tivemos 40 mortes evitáveis por sarampo, metade delas de crianças. Essa foi uma doença que havíamos erradicado do país em 2016, mas a cobertura vacinal caiu tanto que voltamos a ter milhares de casos.

A Covid é uma das preocupações, mas poliomielite, sarampo, caxumba, rubéola e várias outras doenças podem voltar se não vacinarmos nossas crianças.

O governo brasileiro fomentou um movimento antivacina único no mundo, onde as pessoas querem se vacinar, mas o governo não quer vacinar seus cidadãos e joga dinheiro e vidas no lixo com isso. Chegamos a um ponto em que nosso voto é o caminho mais direto e confiável para uma mudança na política de vacinação infantil. É isso ou aceitar que duas mortes de crianças por dia, por uma doença evitável, "estão absolutamente dentro de um patamar que não implica em decisões emergenciais", segundo o ministro da Saúde.

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