Bernardo Guimarães

Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP

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Por que alguns investimentos rendem tão pouco?

Investimentos que absorvem riscos existentes na economia geram retorno maior, em média

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Em geral, investimentos arriscados têm um prêmio de risco: eles rendem mais, em média, que títulos com retorno certo.

Entretanto, numa coluna publicada há um mês, falei sobre produtos financeiros complicados que tinham retorno incerto e, em média, menor que o de títulos com muito pouco risco.

Por que investimentos arriscados normalmente têm um prêmio de risco? E por que alguns produtos financeiros complicados rendem tão pouco?

Ilustração mostra pessoa sobre uma pilha de cédulas amarelas, com vários cifrões.
Ilustração mostra pessoa sobre uma pilha de cédulas amarelas, com vários cifrões. - Arte Folha

A história começa com o financiamento de um empreendimento.

Montar uma padaria, uma fintech ou qualquer outro negócio requer dinheiro e tem retorno incerto. O futuro pode trazer altos lucros ou prejuízos.

Para financiar o negócio, o empreendedor pode tomar um empréstimo de um investidor e pagar uma taxa de juros predeterminada. Isso é um contrato de dívida. O único risco para o investidor é o de calote.

Alternativamente, o empreendedor pode emitir uma ação. Como num contrato de dívida, o dinheiro para financiar o projeto vem de um investidor. A diferença é que, nesse caso, o retorno para o investidor depende do sucesso do empreendimento.

A grande vantagem dessa forma de financiamento é que o empreendedor divide o risco com o investidor. O montante pago pelo empreendedor é proporcional aos lucros.

Em geral, nós preferimos evitar riscos. Por isso, compramos seguros.

Então, para dividir o risco, o empreendedor está disposto a pagar mais, em média, ao investidor. Da mesma maneira, para aceitar o risco, o investidor requer um retorno médio maior.

Eis aí por que investimentos arriscados que dividem o risco entre empreendedor e investidor têm um retorno maior, um prêmio de risco.

De fato, usando séries de dados suficientemente longas, observamos que ações rendem mais que investimentos sem risco em quase todos os países, inclusive no Brasil. Mas, por causa do risco, no período de poucas décadas, ações podem render menos.

No mercado financeiro, há muitas formas de dividir riscos. Opções, contratos futuros, títulos securitizados e produtos estruturados são exemplos. Em princípio, isso tudo serve à importante função econômica de canalizar recursos para as atividades mais produtivas e espalhar os riscos da maneira mais eficiente.

Mas há produtos que não geram nada disso.

Considere agora um COE (Certificado de Operações Estruturadas) daqueles complicados, chamados de "autocallable" no mercado, cujo retorno será alto se as ações de Netflix, Apple e Google forem para o mesmo lado e será baixo caso contrário.

Esse COE não está transferindo riscos que existem nos empreendimentos para você. Ele está criando um risco. Uma aposta.

Apostas não têm prêmio de risco.

Loterias e apostas em resultados de futebol dão retorno negativo: em média, os apostadores perdem. Precisa ser assim, pois quem organiza a aposta precisa ganhar dinheiro.

Analogamente, quem emite um produto financeiro que é uma aposta está correndo um risco. Precisa ganhar um dinheiro extra com isso. Isso significa que o retorno do produto precisa ser menor que o produto livre de risco. Pesquisa empírica usando dados brasileiros corrobora essa tese.

Não espere mágica dos seus investimentos. Seja em Campina Grande, seja em Nova York, seja na pequena e pacata cidade de Miracema do Norte, investimentos arriscados que financiam, direta ou indiretamente, empreendimentos arriscados rendem, em média, um pouco mais que títulos públicos. A diferença é realmente percebida em prazos mais longos. Apostas, porém, rendem menos que aplicações sem risco.

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