Bernardo Guimarães

Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP

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Nobel para mulheres no mercado de trabalho

Claudia Goldin ganha o merecido prêmio de economia por um conjunto de contribuições importantes

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Quando eu era garoto, nos idos dos anos 1980, os engenheiros, contadores e diretores de empresas eram, em geral, homens; as mulheres tinham profissões de menor prestígio e remuneração –o que incluía professoras–, cuidavam da casa e dos filhos.

Havia claros sinais de mudança. Nos anos 1960, minha mãe precisara batalhar muito para vir a São Paulo fazer faculdade, e estudara letras em vez de direito por pressão da família. 20 anos depois, minha prima estudava engenharia, carreira que minha irmã também seguiria.

Poderíamos supor, então, que adultos e adultas da minha geração teriam ocupações e salários parecidos e as diferenças, com o tempo, sumiriam.

Claudia Goldin sorri ao dar entrevista após ser premiada com o Nobel de Economia de 2023
Claudia Goldin vence Nobel de Economia de 2023 - Carlin Stiehl/Getty Images via AFP

Enquanto isso, naqueles anos 1980, Claudia Goldin estudava o mercado de trabalho para mulheres com dados desde o final do século 18. Ela havia completado o doutorado em Chicago em 1972, orientada pelo historiador econômico Robert Fogel, que ganharia o Prêmio Nobel em 1993.

Suas contribuições iniciais mais importantes combinavam diferentes fontes de dados e utilizavam metodologias apropriadas para produzir séries históricas sobre a participação das mulheres no mercado de trabalho e a diferença nos ganhos de homens e mulheres.

Esses trabalhos abriram caminhos para muita pesquisa posterior.

Várias de suas conclusões iam contra o que se acreditava na época. Por exemplo, a participação de mulheres na força de trabalho havia declinado fortemente no século 19 antes de crescer no século 20. Uma implicação era que crescimento econômico não levava necessariamente à redução das diferenças de gênero no mercado de trabalho.

A partir dos anos 1990, o foco da pesquisa de Goldin foi mudando da história econômica para questões contemporâneas sobre mulheres no mercado de trabalho.

As diferenças educacionais entre homens e mulheres estavam sumindo. As diferenças no mercado de trabalho persistiam. Por quê?

Muito antes de ser moda, Claudia Goldin trabalhou para responder perguntas como essa, usando dados e métodos estatísticos apropriados.

A diferença salarial entre homens e mulheres, hoje sabemos, resulta de uma grande variedade de fatores.

Goldin e seus coautores mostraram que a maternidade explica parte substancial do efeito. O diferencial de salários entre homens e mulheres é pequeno até o nascimento do primeiro filho. A partir daí, a diferença aumenta e não volta mais.

Além disso, há ganhos de escala no mercado de trabalho. Carreiras longas são recompensadas. Nas ocupações mais nobres, trabalho em meio período rende menos que meio salário (ou não existe). Isso explica parte do diferencial de salários entre homens e mulheres.

É mais difícil testar discriminação diretamente, mas Claudia Goldin abriu caminho para essa linha de pesquisa estudando como a contratação de violinistas para uma orquestra sinfônica mudava quando a audiência era realizada às cegas. Quando não se sabia o gênero das candidatas, mulheres de fato pareciam ter uma chance maior de serem contratadas.

Goldin ganhou o Prêmio Nobel pelos estudos sobre mulheres no mercado de trabalho, mas seu livro "The Race Between Education and Technology", com Larry Katz, merece ser destacado. O livro mostra com dados e análises estatísticas a importância de investimentos em educação e construção de capital humano para a economia americana no século 20.

Alguns Prêmios Nobel são dados por um artigo ou livro (o de 2022 para Diamond e Dybvig é um exemplo). Claudia Goldin, ao contrário, ganha o merecido prêmio por um conjunto de contribuições importantes.

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