Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Exército logo se chamará Exércentrão se continuar bolsonarista

Após ameaça a ministros do STF, Daniel Silveira é novo vice-presidente da comissão de Segurança da Câmara

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Daniel Silveira é o novo vice-presidente da comissão de Segurança da Câmara. Ganhou o cargo como recompensa porque ameaçou de morte os ministros do STF, foi condenado à cadeia e perdoado pelo presidente da República.

O que entusiasmou seus colegas de Parlamento foi o precedente jurídico que o caso Silveira estabeleceu: de agora em diante, está decidido que presidentes podem soltar aliados condenados pela Justiça.

O STF não reagiu à provocação do presidente da República porque teme que as Forças Armadas deem um golpe de Estado em apoio a Bolsonaro. Ninguém tem medo do Jair. O medo é do Exército. Como se viu no último 7 de Setembro, quando o Exército não aparece para brigar por ele, Jair se senta no chuveiro e chora.

Na foto vemos o presidente Jairo Bolsonaro (PL) de perfil, ao lado de Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira que aparece de frente na imagem, durante a Cerimônia do Dia do Soldado
Presidente Jairo Bolsonaro (PL) ao lado de Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira na Cerimônia do Dia do Soldado - Marcos Corrêa-25.ago.21/PR

Ou seja: as Forças Armadas garantiram que, daqui em diante, presidentes possam soltar deputados condenados pela Justiça. Bonito, isso.

É coisa muito comum nas democracias mais consolidadas. Na Suíça, por exemplo, sempre que um psicopata quer matar ministros da Suprema Corte, os militares invadem o Parlamento e colocam ele na presidência de alguma comissão.

No Canadá, mesma coisa, não passa semana sem que alguém que quer agredir a Suprema Corte seja libertado da cadeia pelos chefes das Forças Armadas. O hino do Exército alemão começa com "Fascista do bumbum sarado/Fomos na cana soltar/Pra que no orçamento secreto/O centrão nos deixe entrar". A métrica se perde um pouco na tradução.

Falando sério, é uma vergonha que as Forças Armadas aceitem ser a arma que Bolsonaro aponta para o Brasil para cometer seus crimes.

Acabar com a crise institucional seria facílimo. Bastaria que os chefes das Forças Armadas publicassem o seguinte comunicado: "Caro Jair: se você tentar um golpe, a gente vai te matar. Forte Abraço, Forças Armadas Brasileiras".

Mas não. No governo Bolsonaro, pela primeira vez em nossa história, os chefes das Forças Armadas renunciaram coletivamente em protesto contra o presidente da República. Segundo o ex-ministro da defesa Raul Jungmann, Bolsonaro havia ordenado à Força Aérea que sobrevoasse o STF para quebrar os vidros do prédio.

Se os próprios oficiais que renunciaram tivessem contado isso ao público, Bolsonaro teria sofrido impeachment. Por que não contaram? Imagino que os militares não sejam todos golpistas. Se fossem, o 7 de Setembro de 2021 teria dado certo. Não deu. Nenhum militar apareceu. Isso é excelente.

Mas também é óbvio que há uma facção de desertores nas Forças Armadas que apoia o golpe de Bolsonaro, ou, ao menos, tem interesse em se deixar usar como ameaça sempre que Bolsonaro comete um crime.

Nesse caso, o Brasil, e as próprias tropas, precisam saber de que lado da briga os militares bolsonaristas estão entrando.

Bolsonaro matou Maracanãs inteiros durante a pandemia, matou a Lava Jato, montou o orçamento secreto, fez a festa do centrão e agora consagrou o perdão presidencial a políticos condenados, sempre sacudindo os militares como ameaça na frente das instituições.

Os militares brasileiros aceitam ser a arma do latrocínio que Bolsonaro comete diariamente contra o Brasil? Aceitam ser fiadores do orçamento secreto? Esse é o papel que Bolsonaro lhes deu. Se continuar bolsonarista, o Exército logo se chamará Exércentrão.

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