Charles M. Blow

Colunista do New York Times desde 2008 e comentarista da rede MSNBC, é autor de “Fire Shut Up in My Bones"

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Trump quer ser candidato à Presidência dos EUA para escapar da Justiça

Político prejudicou Partido Republicano nas midterms e atravessa oceano de problemas jurídicos

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The New York Times

Donald Trump está concorrendo à Presidência... novamente. O anúncio caiu com um baque surdo.

Ele está perdendo o momento. Seu vapor está acabando. A política presidencial é uma questão de alinhamento –cada pessoa encontra um momento para o qual está singularmente adequada e posicionada. Trump teve um momento assim em 2016 –com ajuda externa, é claro–, mas seis anos depois o país mudou. E ele também.

Ele não é mais novo no espaço político. Não é mais o azarão e forasteiro. A narrativa azedou. Ele é um presidente duas vezes submetido a impeachment, que perdeu a reeleição, prejudicou seu partido nas últimas três eleições e está atravessando um oceano de problemas jurídicos. O arco da história é de descida e desespero, luz minguante e perspectivas obscuras.

Donald Trump, ex-presidente dos EUA, em anúncio de que vai se candidatar novamente ao cargo em 2024 - Jonathan Ernst/Reuters

O cheiro da derrota permanece em um candidato. É por isso que Trump se esforçou tanto para convencer o mundo de que não perdeu. Mas perdeu. E agora o trumpismo está perdendo.

Depois há a natureza mutável ou fanatismo republicano. Os conservadores, de modo geral, são viciados no equivalente político do ritual de renascimento na tenda: querem acreditar, querem afirmação, exaltam o pregador itinerante até que essa pessoa vai embora e chega a seguinte.

Eles são viciados em adrenalina que formam ligações em série com os defensores de sua ira. Sua devoção a um deles parece total, até que desmorone ou seja suplantada por outra. Eles são viciados na sensação de se apaixonar.

Trump é apenas o último caso de amor, mas inevitavelmente terminará. As estações sempre mudam; a rosa acaba murchando.

Em 1994, Newt Gingrich lançou seu Contrato com a América, uma lista de princípios e políticas conservadoras. Os republicanos conseguiram aprovar muitas delas no processo legislativo, mas sua ruína ocorreu quando eles se concentraram em atacar pessoalmente Bill Clinton, em vez de exaltar seus próprios sucessos. As midterms de 1998 resultaram em perdas contundentes para o partido.

No ano anterior, Gingrich tinha sido repreendido por violações éticas. Depois dos resultados decepcionantes de 1998, ele renunciou ao cargo de presidente da Câmara e, alguns meses depois, renunciaria ao mandato.

Em novembro de 1994, de acordo com o Gallup, pouco mais da metade dos americanos tinha uma visão favorável de Gingrich. Quando ele renunciou, seu índice de aprovação estava baixo e, mais de uma década depois, quando foi pré-candidato à Presidência em 2012, o jornal americano The Washington Post o chamou de "o político mais odiado da América".

Em 2010, o movimento Tea Party contava com o apoio de 52% dos republicanos, de acordo com o Gallup. Cinco anos depois, esse apoio havia caído quase pela metade. Agora, os pesquisadores raramente perguntam sobre o Tea Party.

Em 2008, John McCain impingiu Sarah Palin ao país quando escolheu a governadora republicana como sua candidata a vice-presidente. Palin era divisiva, incendiária e propensa a se desviar da verdade. Mas, no começo, era popular entre os republicanos.

Em 2010, ela foi a candidata presidencial mais apreciada entre os republicanos para a disputa de 2012. No entanto, neste 2022 Palin perdeu uma eleição especial para uma cadeira na Câmara para um democrata no Alasca, estado republicano onde Trump venceu em 2016 e 2020.

No auge de sua popularidade no partido, seria difícil imaginar a queda de qualquer uma dessas figuras. Mas aconteceu. E provavelmente acontecerá com Trump.

Há décadas, os conservadores têm sido uma massa de angústia e raiva pronta para se agarrar à próxima carroça em chamas. Eles se convencem, no momento, de que algum princípio está impulsionando seus interesses –restrição econômica, fronteiras seguras, contrariedade a consciência social–, mas é, na verdade, apenas uma rebelião perpétua contra a inclusão e o esclarecimento. Para eles, mudança, crescimento e evolução são os inimigos.

Admito que mudança e crescimento podem ser complicados; pode haver passos em falso, que os conservadores inevitavelmente usarão como uma acusação à mudança. Mas a mudança é irreprimível e inevitável.

Portanto, muitos republicanos se apegam a pessoas que representam resistência e regressão, pessoas que afirmam ter a capacidade e o desejo de congelar o tempo e revertê-lo. Eles querem ser seduzidos pelo canto da sereia.

Trump lhes ofereceu o que queriam, mas não podia durar. Não foi feito para durar. O padrão deve se repetir. Uma nova mensagem e mensageiro devem ser ungidos.

Não estou dizendo que Trump perdeu totalmente o controle de seu partido. Estou afirmando um fato –que o apoio dele está caindo– e observando um precedente –que líderes conservadores carismáticos sempre declinam.

Trump não vai concorrer porque tem uma visão para o país ou porque tem uma agenda política. Trump vai concorrer porque não tem outras opções. Ele vai concorrer para se proteger de problemas legais (ele espera). Ele vai concorrer para se vingar. Vai concorrer porque o negócio da família Trump hoje é a exploração política.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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