Primeiro falou-se no Escritório do Crime, de onde teria partido o assassino de Marielle Franco e Anderson Gomes. Depois apontou-se o Gabinete do Ódio, de onde partiriam as mentiras que alimentam o WhatsApp e as redes sociais de certas pessoas. Parecem dependências do inferno, mas ficam bem mais perto.
Nessa linha, com um potencial de perigo zilhões de vezes menor, e mais para o lado bizarro, também dá para citar o Cercadinho da Cólera, aquele onde os apoiadores de Bolsonaro se acotovelam para provar: 1) que estão com o senhor presidente e não abrem, e 2) que não estão nem aí para o coronavírus.
Quando a Covid-19 não existia no horizonte, vá lá que esses patriotas se aglomerassem para aplaudir, segundo os próprios, o melhor governo que este país já teve. Mas hoje, desprezando as regras de proteção, eles continuam lá, verdade que em menor número. Dando plantão para receber algumas palavras e todos os perdigotos de seu mandatário. É que não há lugar melhor para presenciar, ao alcance de uma selfie, as bravatas de Bolsonaro, o primeiro. Infelizmente, não o único.
Para gáudio da claque, é no Cercadinho da Cólera que Bolsonaro brilha, investindo contra jornalistas e desafetos. Os cercadiners se limitavam a gritar “mito!”, até um ou outro “lindo!”. De uns dias para cá, a turma se empoderou. Passou a atacar também.
Celular na mão, fazendo lives ou gravando seus grandes momentos, eles agora deram para agredir a imprensa com impropérios bolsonescos. Um sujeito foi autorizado pelo presidente a vociferar contra os jornalistas —que se retiraram, aleluia, deixando tanto o descompensado que gritava quanto o descompensado que o liderava com caras de tacho.
A mulher que, em dia de pico no número de mortos da pandemia, exigiu o fim do isolamento, “coisa de vagabundo”, teve o seu vídeo compartilhado pelo Gabinete do Ódio. Se esse não é o ponto mais alto da carreira na vida de gado, é bem próximo.
O Cercadinho da Cólera é o repouso do guerreiro, onde Bolsonaro se refugia antes e depois de uma besteira. Talvez fosse interessante o Planalto distribuir máscaras verde e amarelas entre suas fileiras.
Cada vez mais sozinho, é de bom tom o presidente não se arriscar a perder nenhuma daquelas úteis e tolas almas.
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