Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Ecologia da música ao vivo

Apresentações representam desafios para as cidades em termos de ruído e segurança, mas têm efeitos sociais e culturais positivos

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A característica mais óbvia da música ao vivo é que ela tem de acontecer em um determinado lugar, e num determinado cenário acústico e geográfico. Portanto, numa ambiência física. O contexto social para um evento de música ao vivo, porém, envolve necessariamente um ambiente físico e cultural. A ecologia é o estudo científico da relação entre organismos vivos e a ambiência onde eles se encontram; e a abordagem, no caso da música ao vivo, direciona-se para a relação entre organismos sociais (grupos de pessoas, instituições sociais etc.) e seu ambiente cultural (espaços urbanos, ideologias, instituições artísticas etc.).

A maneira como ouvimos e entendemos a música não deve ser resumida, simplesmente, à função estrutural do cérebro humano ou dos 'códigos' musicais relacionados à cultura. Deve ser considerada dentro de contextos físicos e sociais nos quais se escuta a música.

Pesquisadores da Erasmus University, de Rotterdã, na Holanda, estudaram os valores culturais e sociais atribuídos à ecologia da música ao vivo. Eles se basearam em trabalhos publicados acerca da relação da música ao vivo com os espaços urbanos na Austrália, Estados Unidos, África do Sul, Canadá, Irlanda, Reino Unido e Holanda.

Músico de rua em Berlim, na Alemanha
Músico de rua em Berlim, na Alemanha - Fabrizio Bensch/Reuters

Os trabalhos avaliados realçam as maneiras pelas quais uma gama de diferentes atores –como, por exemplo, governos locais, empresas de consultoria e organizações da indústria musical– abordam os benefícios da música ao vivo para as cidades. Embora alguns concentrem-se principalmente nos impactos econômicos, a maioria desses relatórios abre uma perspectiva mais ampla sobre os valores sociais e culturais da música ao vivo.

Os pesquisadores discutem a conceitualização do valor social e cultural da música ao vivo e os indicadores desses valores, ou seja, espaços, atividades e características concretas que refletem esses valores. Apresentam também três dimensões diferentes para o valor social (capital social, engajamento público e identidade) e outros três para o valor cultural (criatividade musical, vibração cultural e desenvolvimento de talentos), e discutem as intervenções de planejamento urbano que poderiam apoiar esses valores.

Para sustentar as dimensões de valor social e cultural, é vital ter as condições certas para consolidar, nas áreas urbanas, vibrantes ecologias de música ao vivo. Na verdade, as políticas urbanas não devem apenas mitigar eventuais impactos negativos da música – ruído e comportamento antissocial nesses locais, por exemplo –, mas também incrementar seu impacto positivo no ambiente urbano.

Nesse contexto, espaços musicais pequenos e administrados de forma independente são considerados elementos vitais nas ecologias urbanas de música ao vivo. Em locais menores, os músicos geralmente iniciam suas carreiras e desenvolvem suas habilidades. Além disso, pequenos espaços musicais são frequentemente mais focados em gêneros de nicho ou comunidades musicais específicas. Logo, esses locais contribuem para a diversidade de ofertas culturais em qualquer cidade. Infraestrutura permanente pode ser instalada para que os concertos individuais nesses locais tornem-se factíveis e menos onerosos. Além disso, áreas específicas com tolerância sonora mais elevada podem ser designadas como zonas musicais ou distritos culturais.

As apresentações de música ao vivo representam novos desafios para as cidades em termos de ruído e segurança. Contudo, é muito importante que mais pesquisas possam avaliar com maior precisão os efeitos positivos sobre os valores sociais e culturais. Esses valores são mais difíceis de medir do que o impacto econômico. Contudo, eles são essenciais para a correta compreensão da contribuição da música ao vivo para o ambiente urbano.

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