A necessidade do distanciamento social em função da Covid-19 obrigou muitas empresas a migrarem, pelo menos parte de suas equipes, para o trabalho remoto. Resultados de pesquisas sugerem que, mesmo após o final da pandemia, algumas empresas pretendem tornar permanente o trabalho remoto, o que pode trazer consequências de longo alcance para a distribuição da atividade econômica nas áreas urbanas. Um dos fatores críticos na determinação do local da moradia é a necessidade de deslocamento entre casa e trabalho.
Mas, como seriam as cidades se todos que pudessem trabalhassem remotamente?
Pesquisadores de universidades na Califórnia (EUA) quantificaram o impacto potencial de uma mudança como essa usando um modelo matemático de equilíbrio geral da estrutura interna das cidades, tendo a área metropolitana de Los Angeles como referência. O modelo apresenta opções de emprego, residência e desenvolvimento imobiliário, bem como externalidades geradas por aglomeração local e congestionamentos.
O estudo partiu da premissa que, embora antes da pandemia aproximadamente 4% dos trabalhadores na área metropolitana de Los Angeles trabalhassem em casa, estimativas apontam que 33% dos trabalhadores têm empregos que permitiriam o trabalho remoto.
À medida que o número de teletrabalhadores aumenta, tanto as empresas quanto os trabalhadores mudam de localização dentro da área urbana. Em resposta, a cidade experimenta ajustes endógenos na oferta de imóveis comerciais e residenciais, bem como alteram-se o tempo e as velocidades de deslocamento. Quando os trabalhadores são liberados da necessidade de se deslocar para o local de trabalho, eles tendem a escolher residências mais distantes do núcleo urbano, em locais com habitações mais acessíveis do ponto de vista econômico.
A mudança para o teletrabalho traz grandes benefícios para aqueles que não precisam se deslocar para o escritório todos os dias. No entanto, aqueles que ainda têm de se deslocar também se beneficiam, à medida que os congestionamentos diminuem e a velocidade de deslocamento aumenta.
Os resultados do estudo mostram que o aumento do teletrabalho para 33% da força total de trabalho resulta em ganhos de bem-estar significativos, medidos como mudanças equivalentes de consumo. A vantagem do trabalhador remoto médio é significativamente maior devido à redução dos gastos com deslocamento, acesso a moradias de baixo custo e a empregos mais bem remunerados.
O estudo aponta que a capacidade de teletrabalho está correlacionada com o tipo de ocupação, setor econômico e renda, e a consideração dessa realidade resulta em dois efeitos principais. Primeiro, as mudanças mais significativas em trabalho e moradia ocorreriam em centralidades com maior densidade populacional, onde a parcela de trabalhadores qualificados, prontos para trabalhar à distância, provavelmente será mais alta. Em segundo lugar, embora o modelo tenha sido calibrado para equilibrar a produtividade dos trabalhadores remotos e presenciais, à medida que o teletrabalho se torna mais difundido, as mudanças tecnológicas podem aumentar a produtividade relativa dos trabalhadores remotos e permitir que eles ampliem a produtividade, e isso poderia colocar pressão sobre os salários.
Em suma, o estudo dos pesquisadores americanos aponta três efeitos principais na cidade com o advento do teletrabalho: os empregos mudam para o centro da cidade, enquanto os residentes mudam para a periferia; os congestionamentos diminuem e os tempos de viagem também; e os preços médios dos imóveis caem, com declínios nas regiões mais centrais e aumentos nas mais periféricas.
Obviamente, as especificidades de cada cidade e sua ambiência econômica podem sofrer variações, alterando os efeitos do incremento no trabalho remoto. Contudo, o estudo oferece indicações importantes sobre resultados potenciais, que podem orientar a necessidade de eventuais ajustes, se partirmos para um modelo que maximize o trabalho fora dos escritórios.
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