Gelo e gim

Coluna é assinada pelo jornalista e tradutor Daniel de Mesquita Benevides.

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Saiba qual era o drinque preferido de Scott Fitzgerald, de 'O Grande Gatsby'

Autor, que ganhou coquetel com seu nome, incluiu em sua maior obra a bebida de que mais gostava

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Scott Fitzgerald faria 125 anos nesta sexta, 24. Afogou sete vidas em álcool e teve outras tantas guardadas em formol. De fígado delicado mas grande disposição para a esbórnia elegante, definiu com sua figura fina, ao lado da esfuziante Zelda, o que foi a Era do Jazz, ou os ferventes anos 20, um período de hedonismo desenfreado e conquistas sociais, artísticas e tecnológicas. "Tempos de milagres, arte e excessos", como escreveu.

O sentimento era de que a geração anterior tinha sido desperdiçada na Grande Guerra, uma carnificina da qual ninguém lembrava mais o propósito. Era imperioso aproveitar a vida enquanto a vida existia. Euforicamente, sem amarras.

Mulheres encurtaram as saias e os afazeres domésticos para seguir suas carreiras, além de frequentarem bares antes exclusivos dos homens. O Renascimento no Harlem e a música de Nova Orleans desafiaram com talento a truculência do racismo. E a androginia dava as caras com classe.

Imagem do escritor Francis Scott Fitzgerald
Imagem do escritor Francis Scott Fitzgerald - Reprodução

O automóvel e o avião, o rádio e a televisão evoluíam vertiginosamente, assim como o cinema e as artes. Centenas de coquetéis surgiram nesse redemoinho. Em 1925, Fitzgerald descreveu o clima efusivo e espumante, num estilo que era a versão literária do art déco, em seu livro mais famoso, "Grande Gatsby", que no entanto não fez sucesso imediato como os anteriores, "Este Lado do Paraíso" e "Belos e Malditos".

Foi preciso que a sociedade sofresse uma nova e violenta desilusão. Nas palavras do escritor, a festa que havia durado dez anos, "deu um salto espetacular e morreu em outubro de 1929". O "crash" da Bolsa matou o glamour com um golpe só.

Outros dez anos se passaram e a balbúrdia secreta dos speakeasies e danças ousadas de Josephine Baker já eram uma lembrança remota, hélas. Não havia diversão possível ao som das botas nazistas. Nem poesia, diria mais tarde o filósofo Adorno.

Curiosamente, foi quando renasceu "Grande Gatsby". Talvez num desejo de animar as tropas, o governo americano enviou milhares de cópias do romance aos fronts. Soldados sonhavam com a heroína Daisy Buchanan e bebiam as palavras de Fitzgerald como um martini. Ou um gin rickey. Era o drinque favorito do autor, basicamente água gasosa com limão espremido e gim. Sem açúcar, para não melar a sensação.

Entre tiros e bombas, o livro tornou-se um clássico e Fitzgerald foi resgatado do formol. O gin rickey também. Foi criado em 1880 num bar empoeirado de Washington, frequentado por políticos da alta roda. Muita coisa era decidida ali, na penumbra confortável, em meio aos eflúvios etílicos.

O dono, John Rickey, era um lobista. Um dia disse ao bartender: "Tomarei o que você fizer". A receita improvisada era com uísque, logo substituído pelo gim, mais receptivo ao limão.

Numa das cenas da obra-prima de Fitzgerald, os personagens centrais tomam o gin rickey em longos goles, tentando engolir também a tensão. Daisy tem um caso com Gatsby e o marido já desconfia. Disfarçando a raiva, ele diz: "Li em algum lugar que o sol está esquentando e vai tragar a Terra. Ou é o contrário, não sei, o sol está esfriando".

O comentário leviano ecoa hoje. Parece que não aprendemos nunca. Passados estes tempos sombrios, virão novos anos loucos?

Tomara. E, quem sabe, um novo Fitzgerald. Ou nova.

Copo de drinque cercado por limões
O drinque Gin Rickey - Brent Hofacker

Gin Rickey

Ingredientes

  • 60 ml de gim
  • 15 ml de suco de limão
  • 90 ml de club soda

Passo a passo
Esprema o limão num copo highball com gelo e coloque o gim. Finalize com o club soda e decore com uma rodela de limão.

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