As ondas olímpicas do Japão e a destreza de Ítalo Ferreira trouxeram à tona o harvey wallbanger, coquetel clássico dos anos 1950. Ele teria sido inspirado por um surfista, Tom Harvey.
O californiano costumava colocar licor Galliano em seu screwdriver, que é basicamente suco de laranja com vodca. Depois de algumas doses, saía cambaleando e batendo sua prancha nas paredes, daí o "wallbanger".
A vodca, destilado de origem russa e polonesa, começava a surfar em mares e bares americanos e já fazia manobras radicais, desbancando o gim dos balcões e da receita dos martinis.
Era o início da Guerra Fria. A forte poção eslava entrava na vida dos americanos pela porta da frente, configurando uma vitória na guerra —nesse caso, gelada. Os espiões soviéticos, por sua vez, podiam tomar sua bebida natal em solo inimigo sem levantar suspeitas.
É o que acontece em "The Americans" (Amazon Prime), um dos seriados mais elogiados pela crítica em anos recentes. Nele, seguimos um casal de russos infiltrados no dia a dia da capital dos EUA.
Com filhos ianques, eles adotam estoicamente o "american way of life", tampando o nariz para a estupidez do sistema capitalista e sofrendo de nostalgia dos pingentes de gelo e do caviar. Às vezes se pegam tendo prazer com o arsenal de diversões americano, mas não perdem o fervor ideológico jamais.
Numa dessas baixas de guarda, a espiã vivida por Keri Russell sai para beber com a mulher do vizinho, um agente do FBI. Lépida como um peixe no Volga, a Mata Hari moscovita pede alguns harvey wallbangers.
Seria uma escolha ultramericana, coisa de discotecas e surfistas, não fosse a reconfortante vodca e o europeu Galliano, que a amiga, já naquele estado de gostosa suspensão dos freios sociais, chama de "meu amante italiano".
Não por acaso, o escritor David Foster Wallace cita o harvey wallbanger numa reportagem sobre a cafonália dos cruzeiros —nobre passatempo americano.
Nesta sexta, 13, completam-se 60 anos do começo da construção do Muro de Berlim, uma das razões de ser do casal de "The Americans". Em meio a restrições mais graves, alemães do leste não podiam sentar-se num banco alto, apoiar os cotovelos num balcão e pedir um manhattan, o que dirá um harvey wallbanger.
Nem tudo, porém, eram muros e redes eletrificadas no universo soviético. Alguns bares foram abertos na Rússia para agradar aos estrangeiros.
Os nativos não podiam entrar nesses oásis etílicos, ficando restritos a sisudos estabelecimentos onde se vendiam shots de vodca e cerveja barata. Em algum momento, já perto da Perestroika, isso mudou.
Muitos bartenders da URSS também tinham de ser espiões. Conhecedores de várias línguas, reportavam aos agentes da KGB sobre os clientes. O mesmo faziam as prostitutas que frequentavam tais antros de consumo capitalista.
Estes camaradas da coquetelaria deviam suar frio a cada drinque preparado, pois eram constantemente vigiados. Ainda tinham de esconder sua profissão dos amigos e familiares —pegava mal indulgir no vício colorido de terras não-marxistas.
Um brinde, pois, à queda dos muros, à aposentadoria dos blindados e à possibilidade de se tomar um bom coquetel em qualquer parte.
Na zdorovye!
Harvey wallbanger
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45 ml de vodca
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90 ml de suco de laranja feito na hora
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15 ml de licor Galliano L'Autentico
Passo a passo
Mexa os ingredientes e coe para um copo Collins com gelo. Em seguida adicione o Galliano. Decore com uma rodela de laranja.
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